Uma longa-metragem, uma minissérie sobre democracia e liberdade, e várias curtas de um novo estúdio vão estrear-se em 2022, atestando a “vitalidade, jovialidade e diversidade” do cinema de animação português.

O elogio foi feito nesta sexta-feira pelo diretor do Festival de Animação de Lisboa — Monstra, Fernando Galrito, numa manhã de apresentação pública, em Lisboa, de alguns dos projetos de cinema de animação que estão atualmente em curso, ainda que atravessados por uma pandemia.

Um dos projetos apresentados foi “Nayola“, a primeira longa-metragem de animação de José Miguel Ribeiro, que deverá ficar concluída em março de 2022, quase uma década depois de iniciado o projeto.

A obra, da Praça Filmes, tem coprodução com França, Países Baixos e Bélgica, 3,2 milhões de euros de orçamento e distribuição internacional assegurada. O argumento é de Virgílio Almeida a partir de uma peça de teatro, “A caixa preta”, escrita por José Eduardo Agualusa e Mia Couto.

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A narrativa cruza três gerações de mulheres, tem a guerra civil de Angola como pano de fundo, cruzará animação em 2D e 3D, com identidade visual de José Miguel Ribeiro e a participação de Susa Monteiro.

Nesta sexta-feira, no festival Monstra, poucas semanas depois de ter feito a apresentação de “Nayola” no festival de Annecy (França), José Miguel Ribeiro explicou que o filme está a ser feito em simultâneo em quatro polos — nos quatro países coprodutores — e com os profissionais divididos em sub-equipas, por causa da pandemia.

Na sessão desta sexta-feira, a dupla de produtores e realizadora Vasco Sá e David Doutel apresentou uma série de curtas-metragens em produção, no âmbito do estúdio de animação BAP, uma estrutura recém-criada, que se autonomiza a partir da produtora Bando à Parte, de Rodrigo Areias.

Através da BAP estão a ser produzidas pelo menos cinco curtas-metragens de animação, previstas para estrear em 2022. Em jeito de brincadeira, Vasco Sá pediu a Fernando Galrito mais dias de festival para poder apresentar todos os filmes.

Entre eles está “Garrano”, que fechará uma fase de trabalho conjunto de David Doutel e Vasco Sá, “O homem do lixo”, de Laura Gonçalves, e “O homem das pernas altas”, de Victor Hugo Rocha.

A Animanostra, uma das mais antigas produtoras de cinema de animação, escolheu apresentar o projeto “André, o rochedo e a onda“, do cartoonista José Bandeira, em formato minissérie com dois episódios, sobre democracia, liberdade e a revolução de Abril de 1974, e que conta com apoio da RTP.

Ao fim de 40 anos a desenhar diariamente cartoon político, José Bandeira disse que avança para o cinema de animação com um projeto “memorialista, mas não geracional”, “com uma carga simbólica” sobre ditadura e democracia e pensado para o grande público.

É um projeto que, segundo o produtor Humberto Santana, levantou reservas e mostrou que “ainda existem tabus muito sérios”, por ser um projeto de desenhos animados que fala de um inspetor da PIDE e do filho que cresceu em liberdade.

A produtora Animais tem cinco curtas-metragens em finalização, com previsão de conclusão em 2022, nomeadamente “A sopa”, de Marta Monteiro, uma história sobre violência doméstica, e “O casaco rosa”, de Mónica Santos, um musical cheio de simbolismos, sobre o antigo inspetor da polícia política Rosa Casaco e em que as personagens são peças de vestuário.

Pela produtora COLA está a ser feita a curta-metragem “Ice Merchants“, segundo filme do músico e realizador João Gonzalez, com a animadora Ala Nunu.

A Sardinha em Lata, que está atualmente a produzir a longa-metragem “Os demónios do meu avô”, de Nuno Beato, apresentou o episódio piloto da série infantil “O diário de Alice“, do realizador brasileiro Diogo Viegas, e tem em carteira as séries “Pete & Bern’s” e “Saskatoons”.

“Sem séries a animação não sobrevive. O cinema de animação envolve equipas enormes que precisam de trabalho”, sublinhou o produtor Diogo Carvalho, da Sardinha em Lata, na apresentação.

A maioria destas produções tem apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), mas a montagem financeira e de equipas de trabalho muitas vezes conta com a viabilidade de coproduções internacionais.

De acordo com dados recentes do ICA, atualmente estão em curso mais de 50 projetos de cinema de animação, em diferentes fases de produção e que dizem respeito — dada a morosidade de produção — a vários anos de concursos de apoio financeiro, totalizando 8,5 milhões de euros.

O Festival de Animação de Lisboa Monstra, um dos palcos anuais da exibição de cinema de animação portuguesa, termina no domingo.