Vieira da Silva foi a estrela de uma noite de segunda-feira pouco luzidia naquele que se esperava ser o leilão do ano na Cabral Moncada, em Lisboa. “Tard dans la Nuit”, da pintora portuguesa naturalizada francesa, foi arrebatado por 185 mil euros. Amadeo de Souza-Cardoso nem foi licitado.
O pequeno Columbano Bordalo Pinheiro, que dava corpo à animação que entusiasmou muitos durante a exposição desta Coleção de Particular de Pintura Portuguesa – século XIX e XX, foi bem disputado, tendo sido vendido por 165 mil euros. Mário Eloy, o mais irreverente da noite, ainda animou a sala e o seu “Livro Azul” saiu por 150 mil euros.
De resto, entre os 54 quadros a leilão, poucos foram os que chegaram acima das estimativas previstas e muitos foram os que ficaram por vender. Uma desilusão para quem ainda depositava esperanças numa abertura do mercado a instituições públicas, por exemplo, e a quem considerava possível que os privados portugueses se inflamassem com a qualidade das peças e comprassem aquilo que de melhor o país produziu entre o século XIX e parte do século XX. Não.
Já dizia Pedro Maria de Alvim, sócio-gerente da leiloeira, “há pouca gente com muito dinheiro, mas muita gente com bastante”. Talvez por isso, as obras de valores mais baixos tenham sido aquelas que mais depressa foram compradas. Um Malhoa por 40 mil euros; Alfredo Keil a 20 mil e 9.500 euros – veja-se a disparidade de valores –; a magnífica “Vista de Praia”, de António Carneiro, chegou aos 60 mil euros; “Aqueduto das Águas Livres”, de Eduardo Viana, também atingiu os 40 mil euros; e António Dacosta, o fenomenal “Cuidado com os Filhos”, saiu por 50 mil.
Sem sequer terem sido licitados, para além do grande Amadeo de Souza-Cardoso que nem a Gulbenkian, qual casa mãe a quem a viúva do pintor vendeu quase a totalidade da sua obra após a sua morte prematura aos 30 anos, se interessou por ele, Sarah Affonso e Carlos Reis também não conseguiram atrair compradores.
Os quadros, claro, continuam disponíveis para venda. Poderá alguém querer comprá-los num próximo leilão? A arte nunca se cansa de viver.