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Cantora brasileira Elza Soares morre aos 91 anos

Este artigo tem mais de 2 anos

A cantora morreu, em casa, no Rio de Janeiro, no mesmo dia que o marido, Mané Garrincha, há 39 anos.

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LatinContent via Getty Images

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A cantora brasileira Elza Soares morreu esta quinta-feira, em casa, no Rio de Janeiro. Tinha 91 anos.

“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais”, pode ler-se no comunicado divulgado pela assessoria da cantora, citado pela Globo.

“Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milénio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim.”

Elza Soares: “Deixe-me cantar, que eu quero cantar até ao fim”

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Nas redes sociais, começam a multiplicar-se homenagens à voz de músicas como “A Carne”, a “mais barata do mercado”.

Forjada no samba, logo nos anos 60, Elza Soares é considerada uma das maiores vozes da música brasileira. Nascida a 23 de junho de 1930, a cantora de a “Mulher do Fim do Mundo” cresceu, com 10 irmãos, na favela Moça Bonita, no Rio de Janeiro. Marcado por violência, polémicas e superações, o percurso da sambista tornou-se motivo de inspiração para toda uma geração de artistas mulheres e negras do Brasil e do mundo, como destaca a Veja.

Com um novo disco na calha, Elza tinha um espetáculo marcado para 3 de fevereiro, na Casa Natura, em São Paulo, com o rapper Renegado.

Dos traumas, à violência do casamento com o lendário Garrincha

Muito antes de andar nas bocas do mundo, acusada de precipitar o fim do primeiro casamento do — por muitos considerado — mais célebre extremo-direito da história do futebol, Mané Garrincha, já Elza Soares tratava a violência por tu. Vítima de abuso sexual, foi obrigada a casar-se aos 12 anos, para meses depois ser mãe do primeiro filho. Aos 15 anos, um segundo filho morre de fome. Viúva aos 18 anos, altura em que passa a assinar Elza da Conceição Soares, ainda viu uma terceira filha Dilma, de um ano de idade, ser roubada por um casal que tomava conta da criança, enquanto a jovem trabalhava. O reencontro só se daria anos depois, já a filha era adulta.

Antes, Elza cruzou-se com o que, ainda há quatro anos, chamou “o maior amor da minha vida”. Durante 17 anos, a carioca foi “mulher de papel passado” da estrela do futebol canarinho – tantas vezes comparado com o contemporâneo Pelé – Mané Garrincha que, arrumadas as botas, abriu o capítulo do excesso e dependência de álcool. Apelidado de “maior driblador da história”, o astro do futebol servia mais tarde de inspiração à música “Maria da Vila Matilde”, sobre a violência doméstica.

“Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, canta a Elza dos anos 2000, inspirada  nas agressões que marcaram a relação. Em 1969, num livro intitulado “Minha vida com Mané”, conta detalhes da história que viveu. O craque morreu faz esta quinta-feira, 20 de janeiro, precisamente 39 anos, vítima de uma cirrose hepática provocada pelo alcoolismo.

Num editorial, em jeito de obituário, publicado na Folha de São Paulo, Ruy Castro relembra vários episódios do casal, entre os quais que Elza “só pegou o Garrincha porque o Pelé não queria nada com ela”. Jornalista, autor da biografia do primeiro e de cerca de quinze entrevistas com a cantora de 91 anos, Ruy Castro escreve que “bastava conhecer Elza para saber que ela nunca se interessaria por Pelé ou por qualquer homem como ele” porque “só gostava de homens frágeis, que ela pudesse proteger, acarinhar e exercer o papel de mãe”. Sem ela, diz, “Garrincha teria morrido muito mais cedo”.

Artistas e personalidades brasileiras lembram Elza

Vários artistas, políticos e personalidades brasileiras já prestaram homenagens à cantora.

“Elza Soares foi uma concentração extraordinária de energia e talento no organismo da cultura brasileira”, frisou Caetano Veloso na rede social Twitter.

“Compus o samba-rap ‘Língua’ e a convidei para cantar a parte melódica. Assim ela voltou a cantar e a receber atenção. Voltou à televisão e, depois, figuras tão díspares quanto Lobão e Zé Miguel Wisnik fizeram questão de trabalhar com ela”, acrescentou.

A música “Língua’ que Caetano Veloso canta em dueto com Elza Soares presta uma homenagem à língua portuguesa com versos irreverentes como: “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões” e “Flor do Lácio. Sambódromo. Lusamérica. Latim em pó. O que quer. O que pode esta língua?”.

O cantor Gilberto Gil divulgou um vídeo nas suas redes sociais, onde frisou que “Elza Soares se foi aos 91 anos, foram décadas e décadas, de vida, dias intensíssimos, noites extraordinárias com música, com samba com paixão. Uma das grandes interpretes do samba.”

“Acho que posso dizer que é muito grande a saudade que o Brasil deva sentir por ela”, acrescentou Gilberto Gil.

O cantor de samba Zeca Pagodinho usou o Instagram para publicar uma foto ao lado de Elza Soares e deseja-lhe que “descanse em paz”.

“O mundo do samba, e de toda a música brasileira, te agradece e reverência pela sua vida e sua arte!”, disse Zeca Pagodinho.

O também cantor renomado da música popular brasileira Djavan publicou uma foto de Elza Soares cuja legenda destaca que “o Brasil e o mundo lamentam hoje a passagem de Elza Soares. Que artista, que mulher! Nossos mais profundos sentimentos a todos os familiares, amigos e fãs.”

A equipa da cantora Maria Bethania escreveu na rede social Facebook que hoje o país “uma das grandes mulheres da música brasileira”.

“Elza nos deixou um legado imortal com sua arte transmitida com sua voz considerada a Voz Do Milênio. Elza e Maria Bethânia tinha uma grande admiração uma pela outra. Apaixonada pelo álbum “A Mulher do Fim do Mundo” de Elza, Maria Bethânia se inspirou nele para gravar a canção “Mortal Loucura”, texto de Gregório de Matos musicado por José Miguel Wisnik”, diz a mensagem.

O ‘rapper’ brasileiro Emicida afirmou no Twitter que Elza Soares “através da sua imensidão ensina que é sempre tempo de brilhar! Obrigado pelo respeito, carinho e risadas. Cada encontro foi único. Que a terra lhe seja leve Elza Soares. Que o universo receba com luz e festa a voz do milénio!”

Fora do mundo da música, o ex-presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva afirmou em mensagem nas redes sociais que “com muita tristeza recebemos hoje a notícia da partida da nossa querida Elza Soares. Perdemos não só uma das melhores cantoras e vozes mais potentes do Brasil, mas também uma grande mulher, que sempre defendeu a democracia e as boas causas.”

O também político Ciro Gomes desatacou que “o Brasil perde uma de suas vozes mais fortes, representativas e mundialmente conhecidas. Elza Soares, que foi eleita uma das maiores artistas do mundo, teve sua vida marcada pela superação. Sua história é símbolo de luta pelo direito das mulheres, dos negros e dos mais pobres.”

O governador do estado brasileiro de São Paulo, João Doria, usou as redes sociais para dizer que “com a morte de Elza Soares, o Brasil perde uma mulher admirável. Elza era a voz do talento e do ritmo da música brasileira. Minha solidariedade aos familiares, amigos e fãs.”

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, destacou em mensagem que “Elza Soares é imortal. Faz parte da constelação das grandes personagens mundiais. É também símbolo de luta, superação, talento e perseverança. Entristece o mundo da música ao nos deixar, e no dia marcado também pelo falecimento de Garrincha, um dos seus maiores amores”.

Já o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, informou nas redes sociais que amanhã decretará luto oficial de três dias na cidade do Rio de Janeiro “pela perda dessa grande carioca! Mulher! Guerreira! Elza Vive!”

Ruy Castro, escritor e autor de uma biografia de Garrincha, jogador de futebol com quem Elza Soares foi casada por 17 anos, disse numa entrevista à rede de televisão GloboNews que entre os anos de 1960 e 1970, quando ela gravou cerca de 15 álbuns, a cantora “deixou uma das maiores obras de samba que já foram feitas no Brasil”.

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