“Besta”

Galeria 111, em Lisboa, até 21 de maio

A exposição junta Alexandre Conefrey, Pedro A. H. Paixão, Rui Moreira e Rui Chafes, pastel, desenho e escultura. O ambiente é carregado, desconfortável. Numa breve apresentação, um trabalho de cada um dos quatro artistas preenche uma primeira sala, onde “Anjo”, de Chafes, uma peça de 1996, anuncia uma eternidade à culpa, qual cruz ao peito tão perto daquela paisagem africana, desenhada ao pormenor — qual desenho fotografia, no virtuosismo de Paixão –, onde o ocidente plantou um yacht, sem pudor, e onde reina o homem, metáfora entre o artista e um amo qualquer.

No entanto, é na sala grande que a mostra toma fôlego. Já sem dúvidas, o passado colonialista de que somos herdeiros fala-nos de crimes numa irrepreensível escultura. “Lição de história” interpela-nos sem rodeios, são 13 forcas perturbadoras, disponíveis, para todos, é o peso na consciência do homem que já errou, e que não aprendeu, são 13 forcas que pendem do teto como pontos de interrogação sobre o futuro. E agora, de quem é a culpa, quem deve morrer e quem deve viver? Não podia ser tão atual o questionamento, a que, na mesma sala, Conefrey dá resposta com um conjunto de seis quadros que condenam qualquer guerra, violência, ou arma.

A adensar a atmosfera que já tínhamos identificado com África, através das memórias de Pedro A.H. Paixão, vêm dois trabalhos de Rui Moreira, “Big Black”, o nosso preferido, e “Zaratustra Style”, nos quais o exoterismo tem cheiro vivo, na dança, na noite, na lua, nos astros, no negro. Há por ali uma crueldade qualquer que está latente, vê-se até no  pormenor da mão que ateia o fato do homem que treina Mike Tyson no órgão de “The Initiation”, num outro desenho de Paixão. E a volta faz-se para trás com o mesmo sentimento de inquietação. O que fiz? O que fizemos?

“Eu Vivo Confortavelmente no Museu”

De Daniel Senise, Galeria Filomena Soares, em Lisboa, até 7 de maio

O brasileiro Daniel Denise traz a Lisboa a primeira mostra individual na galeria Filomena Soares.

Tudo ali é frágil, delicado, sensível. Está prestes a desaparecer. É o que resta do que já foi. O tempo passou por ali e fez estragos, descolorou as paredes, tirou a tinta dos quadros, os muros estão timidamente de pé e as escadas lembram imponências passadas. Estou no presente ou já passei por aqui e ficou esta recordação no pensamento? A metáfora da passagem do tempo invade toda a exposição que denota uma delicadeza extraordinária.

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São retratados grandes espaços arquitetónicos, espaços públicos, galerias, museus, teatros, o que a nossa imaginação melhor conhecer, que se esfumam e desvanecem, como uma névoa sem cor. O sentimento de que a vida esteve ali é constante, mas não sabemos se ela ainda existe. Pode muito bem estar ausente, apesar de espreitar a sua grandeza por entre fachadas descoloradas, onde a arte invisível deixou rasto. Palmas para a técnica utilizada, monotipia de parede em tecido e médium acrílico sobre placa de alumínio, que dá esta cortesia e o verdadeiro requinte às peças de grande formato, que o brasileiro Daniel Denise traz a Lisboa nesta que é, espantosamente, a sua primeira mostra individual na galeria Filomena Soares.

“Traverser la Nuit. Obras da Coleção Antoine de Galbert”

No MAAT/ Central Tejo, em Lisboa, até 29 de Agosto

“Le Coeur” (2005), de Christian Boltanski

Exposição vasta e com uma grande disparidade entre obras, mostra o que de particular tem o gosto do colecionador, qualquer coisa que deambula pela noite, como o título indica, à procura daquilo que lhe parece mais original, ou mais excêntrico. Por entre essa panóplia de trabalhos mais ou menos ligados com a luz e a escuridão, os olhos recaem sobre autores como Constantin Brâncusi, a perfeição de uma curiosa estátua fotografada do ângulo menos provável, e Christian Boltanski, um coração que bate mais forte do que o nosso e que faz o nosso disparar. Mas também de nomes como Eugene Smith ou Thomas Ruff.

Muito diferentes entre eles, com suportes também eles diversos, da fotografia à instalação, passando pela escultura ou pela pintura e o vídeo, os trabalhos dos artistas que esta exposição consagra vêm de épocas e de interesses tão distintos que tornam por vezes difícil encontrar o fio condutor que o espectador tanto aprecia. Sala após sala, vai ficando pois em cada um a sensação da peça isolada, uma ou duas que reagem a outras tantas. No entanto, é na secção dedicada à fotografia que a homogeneidade da coleção toma maior proporção, mais não seja porque coloca em diálogo um número significativo de personagens que podemos identificar e nomear.