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Only the best, a coleção de Calouste Gulbenkian

Este artigo tem mais de 2 anos

Ao longo de 12 episódios, a Rádio Observador, em parceria com o Museu Calouste Gulbenkian, oferece um podcast sobre a coleção privada do filantropo arménio. O tema de abertura são as moedas gregas.

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PEDRO PINA

PEDRO PINA

O nome de Calouste Sarkis Gulbenkian, engenheiro, empresário, empreendedor e filantropo arménio que adotou Portugal como a sua segunda pátria, é indissociável da história da arte na primeira metade do século XX.

Reservado por natureza, a sua paixão pelo colecionismo, aliada à fortuna que amealhou ao longo da vida, permitiu-lhe investir em inúmeras peças de arte que hoje integram o espólio do Museu da Fundação Calouste Gulbenkian, uma das mais importantes coleções privadas de todos os tempos.

Com o desafio de fazer uma viagem sobre a vida e obra de Calouste Gulbenkian enquanto colecionador, ao longo de 12 episódios, em formato podcast de periodicidade quinzenal e com a duração de 20 minutos, a Rádio Observador, em parceria com o Museu Calouste Gulbenkian, apresentará histórias e curiosidades sobre as coleções reunidas na referida instituição, assumindo-se como uma homenagem a uma das personalidades mais marcantes da vida cultural em Portugal.

A autoria deste podcast, batizado como Only the Best – nome que nasceu com base de uma conhecida expressão de Gulbenkian, que defendia que “Only the best” satisfazia os seus exigentes critérios de qualidade. A expressão espelha bem os critérios pelos quais se regia e a relação de afeição que desenvolvia com o objeto. O podcast está a cargo do historiador Rui Ramos, que contará com a participação de um convidado especial: João Carvalho Dias, diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian.

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Nesta emissão inaugural, o foco são as moedas gregas reunidas por Calouste Gulbenkian.

Um presente inspirador

Entre o final do século XIX e meados do século XX, Calouste Gulbenkian percorreu o mundo – do Egipto dos faraós à Paris do Modernismo – em busca de objetos diferentes e que o fascinassem. Como refere Rui Ramos, a ideia de colecionar moedas gregas “poderá ter sido um dos seus primeiros interesses”, e surgido na sequência “de um presente do pai quando tinha catorze anos, graças ao seu bom desempenho enquanto aluno”.

A esse propósito, João Carvalho Dias recorda um episódio da vida de Calouste, “que chega através do relato do seu genro e confirma que mediante o seu bom empenho académico, o seu pai lhe terá oferecido piastras (moedas italianas de prata) que terá aplicado num bazar local e valido uma troca bastante favorável”.

Esse episódio, refere o atual diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian, “acaba por intensificar e até mesmo justificar o facto de, durante toda a vida, Calouste Gulbenkian ter colecionado moedas”, entre as quais, de acordo com os catálogos da coleção, o filantropo arménio terá reunido um conjunto significativo de exemplares de prata e ouro, datados de um período compreendido entre º séc. VI e o séc. I a.C.

“Em 1892, há mesmo registos da venda de antiguidades por parte da sociedade comercial da família Gulbenkian. No caso, 19 moedas originárias do sudoeste de Anatólia, na Turquia, ao Museu Britânico. Em 1896, surgem as primeiras moedas inventariadas e que estão hoje no acervo da coleção”, refere João Carvalho Dias. Segundo registos da época, esses negócios terão sido realizados através da Sotheby’s, uma sociedade dedicada a vendas e leilões sedeada em Londres.

Múltipla influência cultural

Mas o interesse de Calouste Gulbenkian pelo colecionismo também poderá estar associado a toda uma herança cultural de alguém que nasceu numa zona que é atualmente a Turquia, e então parte do império Otomano, região, tal como sublinha Rui Ramos, “repleta de monumentos, desde templos gregos a pirâmides egípcias”, e historicamente associada a “uma longa tradição de artesanato de objetos preciosos, como tapetes, joias ou armas ornamentais”, sendo um mundo mais adequado para “um colecionador nascer”.

João Dias Carvalho concorda com essa contextualização, mas acrescenta o facto de Calouste Gulbenkian ter também tido a possibilidade de alargar horizontes culturais, já que na adolescência se ia tornando cada vez mais “ocidental, um cidadão europeu, na medida em que se deslocava para os grandes centros da Europa”, conhecendo cidades como Paris e Londres, que, além de fazerem “parte de grandes impérios coloniais, eram centros detentores de um lastro de cultura”.

É graças a essa múltipla influência cultural que “Gulbenkian começa a colecionar como um europeu, mas com o olhar de um oriental, sendo isso que o torna excecional, pois encontramos no mesmo período colecionadores muito vocacionados para a arte oriental, investindo, por exemplo, em porcelana chinesa ou estampas japonesas, outros que apenas gostam de pintura europeia, ao invés de Calouste que tinha horizontes mais ambiciosos e gostava de tudo”, acrescenta.

Crescer enquanto colecionador

Entre o acervo de moedas no acervo do Museu da Fundação Calouste Gulbenkian, há dois lotes que distam cerca de cinco décadas entre si, sendo que o “primeiro data de 1896, e outro de 1947”, explica Rui Ramos. Mas, qual a sua origem e de que forma isso pode ajudar a definir o perfil de Gulbenkian enquanto colecionador?

Segundo João Carvalho Dias, diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian, “os primeiros passos de Gulbenkian enquanto colecionador são errantes”, ainda que se saiba que no caso das moedas gregas “tenha tido um precioso auxílio de dois grandes nomes da numismática europeia da primeira metade do século XX”.

Um desses especialistas, aponta Carvalho Dias, “era George Hill, numismático e historiador britânico que chegou a diretor do Museu Britânico na década de 1930, e um destacado especialista em moedas da Antiga Grécia e do Renascimento. O outro é E.S.G. Robinson, conservador do Departamento de Moedas do Museu Britânico”.

Esse estreito relacionamento vai ajudar Calouste Gulbenkian a crescer como colecionador, apesar do arménio ter como inata uma filosofia que fazia prevalecer “o seu gosto pessoal, pois, em detrimento do valor histórico, vai dar a primazia à qualidade artística”, ressalva João Carvalho Dias.

Amizades decisivas

Calouste Gulbenkian tornar-se-ia mesmo amigo pessoal de Robinson e sua esposa, como a correspondência trocada entre ambos confirma, e seria através da sua anuência que o arménio iria adquirir algumas das peças mais importantes da sua coleção. Falamos dos Medalhões de Abuquir, com origem no Império Romano, que terão sido encontrados no início do século XX, em Abuquir, no Egito, e fabricados no século III.

No total, são 11 peças, em ouro, adquiridas em 1949 provenientes das coleções James Loeb (3) e da Pierpont Morgan Library (8), em especial através da ajuda de outro especialista, no caso o alemão Jacob Hirsch, um dos mais importantes colecionadores e negociadores de moedas na primeira metade do século XX.

Trata-se de peças que apresentam imagens relacionadas sobretudo com Alexandre Magno, cujo retrato aparece em sete exemplares, e podem ser vistos no Museu Gulbenkian, e, de acordo com o diretor-adjunto do Museu, “assumem-se entre as obras principais da coleção, ainda que não seja de numismática pois eram ofertados a vencedores de jogos, mas que são peças absolutamente extraordinárias”.

João Carvalho Dias salienta ainda o facto de Calouste Gulbenkian ter adquirido “moedas por atacado, como é o exemplo da Coleção Jameson”, negócio também garantido com a colaboração de Hirsch, na década de 1940.  A influência de Hirsch no alargar do espólio de moedas de Gulbenkian é notória. Se em 1922, a coleção de Gulbenkian consistia em cerca de uma centena de peças, fruto de um investimento que começou em 1896, depois do alemão entrar em cena, num período de tempo semelhante (de 1922 a 1954), o número de moedas da coleção de Calouste multiplicou-se dez vezes.

No total, a coleção, “apesar de não ser muito vasta, inclui cerca de 1100 moedas, todas de primeiríssima qualidade, o que torna Calouste Gulbenkian num numismata de referência, em particular no que toca ao universo das moedas gregas, em particular oriundas das colónias gregas da Península Itálica, sem nunca ter tido pretensão de o ser. Falamos de marcos da cunhagem e com um valor estético extraordinário”, remata Carvalho Dias.

Amante do belo e do móvel

Aquilo que mais atraía Calouste Gulbenkian nas moedas que colecionava não era, como já vimos, tanto a riqueza que podiam representar, mas sim o seu perfil enquanto obras de arte. É por isso que, “como amante de coisas belas, Calouste junta uma série de objetos, de preferência não extraordinariamente monumentais, sendo essa outra das características da coleção Gulbenkian. Esta visão quase minimalista, no sentido da escala, faz com que se assuma como um real apreciador de algo que é transportável, da arte móvel”, afirma João Dias Carvalho.

Quanto ao espólio que Gulbenkian possuía na Turquia, não há grandes informações ou certezas, com exceção “de que as moedas, que são a génese de toda sua futura coleção, eram para ele um marco de civilização, pois encarava a cultura grega como a matriz clássica europeia, e essa ideia acompanha grande parte do seu espólio enquanto colecionador”, sublinha o diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian.

Além disso, “o facto de Calouste Gulbenkian ter pensado em toda a sua coleção numa perspetiva transportável, doméstica, leva a querer que a sua intenção inicial não era de ter um museu, mas garantir uma forma de preservar os seus gostos”.

Apenas e só o melhor

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Calouste Sarkis Gulbenkian ficou conhecido pelo seu amor à arte, mas principalmente pelos exigentes critérios de qualidade com que formou o seu espólio de peças que fazem hoje parte da Coleção Gulbenkian, e que, entre os anos 1999 e 2000, sob o mote “Only the best”, serviu de inspiração para dar o nome a a uma exposição com um conjunto de algumas das mais importantes obras  reunidas pelo magnata e filantropo arménio, organizadas pela Fundação Calouste Gulbenkian e apresentadano Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque.. Hoje é possível ver (ou rever) essas peças no espaço do Museu, em Lisboa, que são sinónimo de uma das mais importantes coleções privadas de arte de todos os tempos, e que nasceu do espírito colecionador que acompanhou este homem de negócios durante uma vida inteira, sendo hoje a base do Museu da Fundação Calouste Gulbenkian. Para saber mais, visite a página oficial em gulbenkian.pt.

Também curioso era a forma como adquiria as moedas, que resultava de um puro processo de interação e trocas, “e sabemos hoje que as propostas de aquisição, numa altura em que a fotografia ainda não era um meio devidamente implementado, chegavam ao arménio enquanto moldes de gesso, ainda que alguns dos marchands intermediários enviassem as moedas reais, apesar do risco que isso significava.”

Independentemente da sua origem e constituição, é possível admirar esta coleção de moedas gregas antigas na Segunda Sala do Museu Gulbenkian, em Lisboa, espaço “dedicado à Antiguidade, com exemplares oriundos da Mesopotâmia, Grécia e Roma, tratando-se de peças que são um dos núcleos principais de toda a coleção reunida por Calouste Gulbenkian”, congratula-se João Carvalho Dias.

Daqui a duas semanas, o podcast regressa com novo tema. “O foco será outra das paixões de Gulbenkian, no caso a arte do Antigo Egito. Haverá ainda espaço para extraordinárias histórias sobre as suas mais magníficas aquisições como colecionador, e que envolve o homem que descobriu o túmulo de Tutankhamun em 1922”, revela Rui Ramos.

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