O julgamento da Operação Babel, relacionada com a alegada viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanísticos em Gaia, arranca a 6 de janeiro no Tribunal de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto.

Segundo um despacho judicial, a que a agência Lusa teve acesso esta quarta-feira, o julgamento realizar-se-á “todas as segundas, terças e quartas-feiras (de manhã e de tarde) de cada uma das semanas a partir do dia 06 de janeiro de 2025 (inclusive)”.

A 13 de setembro, o Tribunal de Instrução Criminal do Porto decidiu levar a julgamento os 16 arguidos (seis pessoas e 10 sociedades) nos exatos termos da acusação do Ministério Público (MP), incluindo o antigo vice-presidente da Câmara de Gaia, Patrocínio Azevedo, o empresário Paulo Malafaia e Elad Dror, fundador do grupo Fortera, por dezenas de crimes económicos, nomeadamente corrupção e tráfico de influências.

Operação Babel. Juiz leva todos os arguidos a julgamento nos termos da acusação

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Em causa está a suposta viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em Vila Nova de Gaia em favor de promotores associados a projetos de elevada densidade e magnitude, pelo menos até 2022, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário.

Vão também ser julgados o advogado João Lopes, Luísa Aparício, que à data dos factos dirigia a Direção Municipal de Urbanismo e Ambiente da autarquia de Gaia, um economista espanhol e 10 sociedades, a maioria pertencente ao Grupo Fortera, com capitais israelitas e ligado aos negócios e à promoção imobiliária.

A investigação sustenta que Elad Dror e Paulo Malafaia, promotor imobiliário, “combinaram entre si desenvolverem projetos imobiliários na cidade de Vila Nova de Gaia, designadamente os denominados Skyline/Centro Cultural e de Congressos, Riverside e Hotel Azul”, contando com o alegado favorecimento por parte do antigo vice de Gaia, que receberia em troca dinheiro e bens materiais, como relógios.

O despacho judicial diz que a primeira semana de julgamento (dias 6, 7 e 8) “fica reservada para as exposições introdutórias (caso não sejam prescindidas), a identificação dos arguidos e a audição dos mesmos (caso pretendam prestar declarações)”.

O Tribunal de Vila Nova de Gaia enumera várias razões para agendar o início do julgamento, quando ainda decorre prazo para contestação dos arguidos.

A presidente do coletivo de juízes diz que, além de ter sido decretada a especial complexidade, “o processo assume, ainda, natureza urgente em virtude de três dos arguidos se encontrarem privados da liberdade”.

Desde maio de 2023 que Patrocínio Azevedo e Paulo Malafaia estão em prisão preventiva, enquanto o advogado João Lopes está com obrigação de permanência na habitação com pulseira eletrónica (OPHVE).

O julgamento antevê-se bastante demorado tendo em conta, designadamente, o número de arguidos e de testemunhas (só na acusação estão arroladas 51 testemunhas) a ouvir, a complexidade das matérias em discussão e o vastíssimo acervo probatório documental e pericial já junto aos autos”, sublinha a juíza.

A magistrada frisa que, atentos os prazos máximos previstos de prisão preventiva e de OPHVE, “urge imprimir celeridade processual aos presentes autos em ordem à conclusão do julgamento e prolação da decisão no mais curto espaço de tempo possível”.

“Em face das razões expostas, entende este Tribunal designar, desde já, as datas de realização da audiência de julgamento, sem prejuízo, naturalmente, de os arguidos continuarem a beneficiar do prazo em curso (50 dias) para apresentação das suas contestações e sendo certo que o julgamento se prevê iniciar findo aquele prazo. Dessa forma, não se coartarão — parece-nos — quaisquer direitos de defesa dos aqui arguidos”, justifica.

O julgamento será realizado numa sala que “oportunamente” será indicada, estando a “decorrer diligências com vista a dotar as instalações do tribunal dos equipamentos necessários para o efeito, que se prevê estejam concluídas brevemente”.