18h00. Portugal começa a jogar a final do Campeonato da Europa de Ténis de Mesa. Não faltam adeptos no Pavilhão MEO Arena, no Parque da Nações, em Lisboa. Desde o primeiro minuto o apoio à equipa portuguesa é incondicional. Os pontos marcados garantem gritos de euforia e aplausos fortes, os pontos perdidos um “Ah!” coletivo, mas logo de seguida o apoio que os atletas precisam.
Mesmo para quem, à partida, sabe pouco da modalidade ou não costuma acompanhar os desempenhos dos atletas portugueses com frequência, é fácil ficar inebriado com o ambiente que se vive no pavilhão onde todos os olhos estão concentrados num “pequeno” retângulo azul onde uma bola branca bate, por vezes, a grande velocidade.
[jwplatform Wk4w5CzW]
As variações de velocidade e de direção da bola, que chegam a confundir os olhos mais desatentos dos adeptos, são o trunfo do atleta, conta António Torres, atleta amador e, como deixa bem visível, adepto ferrenho da modalidade. Depois de ter praticado ténis de mesa até aos 20 anos, António Torres esteve afastado da prática da modalidade cerca de 15 anos.
Agora, está de volta ao ténis de mesa há cerca de um ano e meio, na Associação Recreativa da Casa Branca, em Coimbra, um clube na segunda divisão nacional. “Este é o meu desporto”, diz convicto, enquanto vibra e sofre intensamente com o que se passa uns metros mais abaixo. Não veio sozinho. Com ele trouxe o pai, que embora não tenha tido muita oportunidade de o acompanhar enquanto era criança, gosta da modalidade e não hesitou em aceitar o desafio.
O pavilhão podia ter recebido três mil adeptos. Não ficou cheio, mas quase. Os aplausos, batidas de tambores, buzinas e gritos “Portugal, Portugal” chegam para criar o ambiente.
Entre quem assiste ao evento estão outros atletas amadores. Como Jorge, que pratica ténis de mesa na Académica de Viseu e não podia deixar de “vir ver os ídolos, como Timo Boll ou Marcos Freitas”. Ou Filipe, atleta do Grupo de Desporto e Lazer da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa.
Desde os oito ou nove anos que Filipe pratica a modalidade, de uma forma intermitente, mas neste grupo fá-lo “um pouco mais a sério”. Entre os colegas de equipa estão alguns antigos atletas federados que, depois de verem o que esta “equipa maravilhosa” tem conseguido, também “ficaram com o bichinho”.
Entre a assistência estão muitos jovens, como Teresa, que pratica ténis de mesa no Boa Hora Futebol Clube, em Alcântara (Lisboa). Está na modalidade desde criança, vão já nove anos, motivada pelo avô, que sempre esteve ligado a este desporto, e pelo pai que também o chegou a praticar. Entre duas jogadas emocionantes a jovem confessa o sonho: “Gostava de me tornar profissional e ir jogar para o estrangeiro, talvez para a Alemanha ou para a Áustria”.
Os pais também foram ao MEO Arena, caso de Ana Ferreira, que segue o filho para todo o lado. De tanto o acompanhar acabou por se tornar fã, o que não é difícil de perceber — a emoção vivida entre a audiência é contagiante. O filho de Ana também é atleta do Boa Hora Futebol Clube: “Já conheço os pavilhões todos do país.” Ana Ferreira só lamenta que existam poucos clubes com esta modalidade — e também poucos apoios. Mas vale a pena o esforço, diz ela. A modalidade tem ajudado muito o filho “em termos escolares e pessoais”, justifica ainda. Aumenta a concentração e a disciplina.
As conversas são entrecortadas pelas jogadas. Embora o ruído seja quase ensurdecedor nas breves pausas, enquanto os jogadores limpam as mãos ou preparam o serviço, assim que a bola reentra em jogo o único som que se ouve no pavilhão são os das batidas na mesa.
Desde o início da partida que o entusiasmo é evidente. Ter Portugal pela primeira vez numa final do Campeonato da Europa de Ténis de Mesa merece um festejo quase tão grande como se o país já fosse campeão. Mas à medida que a equipa portuguesa vai mostrando à equipa alemã, por seis vezes campeã da Europa, que está à altura do desafio, os ânimos no pavilhão incendeiam-se.
Os adeptos mantiveram-se incansáveis durante as mais de duas horas de jogo. Nas melhores e nas piores jogadas, nos pontos marcados e nos pontos sofridos, nunca falharam no apoio incondicional à equipa. E quando Marcos Freitas marcou o último ponto que ditou a vitória de Portugal, o público levantou-se de um salto, gritou, aplaudiu e descarregou a alegria. Sem reservas.