Depois de um primeiro comunicado onde apelava à “contenção” no Afeganistão, António Guterres, na qualidade de secretário-geral da ONU, recorreu ao Twitter para denunciar relatos de violações sérias dos direitos humanos, apelando a que cessassem imediatamente.

Conflict in Afghanistan is forcing hundreds of thousands to flee amid reports of serious human rights violations.

All abuses must stop.

International humanitarian law and human rights, especially the hard-won gains of women and girls, must be preserved.

— António Guterres (@antonioguterres) August 15, 2021

Shafiq Hamdam, antigo conselheiro do Presidente afegão, classificou a fuga de Ashraf Ghani como vergonhosa.

“É uma vergonha, é embaraçoso”, disse à Al Jazeera. “As pessoas sentem-se abandonadas, as pessoas sentem-se traídas.”

Ashraf Ghani saiu do país este domingo, quando os talibãs se preparavam para invadir Cabul. De acordo com a Al Jazeera, o Presidente terá fugido para para o Uzbequistão, que faz fronteira com o Afeganistão, com a mulher, o chefe de gabinete e o conselheiro para a segurança nacional.

Num comunicado partilhado nas redes sociais, Ghani disse ter abandonado do país para evitar um “banho de sangue”.

A Administração Biden reconhece que ficou surpreendida com a demonstração de força talibã e, sobretudo, com as dificuldades reveladas pelas forças governamentais.

“Vimos que as forças armadas afegãs têm sido incapazes de defender o país e aconteceu de uma forma muito mais rápida do que aquilo que antecipávamos”, assumiu o Secretário de Estado Antony Blinken, na CNN.

Saad Mohseni, diretor do Moby Group, o maior grupo media do Afeganistão, refere que há duas centenas de passageiros presos no aeroporto de Cabul na sequência do cancelamento dos voos comerciais.

Os aviões onde seguiam foram proibidos de deixar o aeroporto, adianta Mohseni.

There are two thousand individuals plus (suitcases and all) on the tarmac not allowing flights to take off….this is a catastrophe. There is no security at the airport. None.
We call on the Americans or anyone to help secure the civilian side of the airport. Now! https://t.co/VZfmtPY8sd

— Saad Mohseni (@saadmohseni) August 15, 2021

Vídeos partilhados nas redes sociais mostram centenas de pessoas no aeroporto de Cabul, onde os voos comerciais foram suspensos e apenas os voos militares estão a operar.

Segundo informações veiculadas por jornalista internacionais no Twitter, centenas de afegãos terão corrido para o aeroporto para tentarem escapar do país.

A confusão é grande no local. A correspondente da PBS, Jane Fergunson, refere que há relatos de inúmeros feridos.

Awful, chaotic scenes at Hamid Karzai International Airport. People scrambling and no where to go. Woman says "look at the state of the people of Afghanistan" #Kabul pic.twitter.com/5Ohe1c81uB

— Yalda Hakim (@BBCYaldaHakim) August 15, 2021

The Exodus from Kabul pic.twitter.com/DEI47ZslQt

— Noga Tarnopolsky (@NTarnopolsky) August 15, 2021

The situation at Kabul airport is worsening with the airport still taking fire.#Kabul #Taliban #Afghanistan pic.twitter.com/vqg7jvs1CA

— Wajahat Kazmi (@KazmiWajahat) August 15, 2021

Ashraf Ghani, que abandonou o Afeganistão quando as tropas talibãs se preparavam para entrar em Cabul, poderá estar no Uzbequistão.

De acordo com a Al Jazeera, que cita como fonte um guarda-costas do Presidente afegão, Ghani terá fugido para o Uzbequistão, que faz fronteira com o Afeganistão, com a mulher, o chefe de gabinete e o conselheiro para a segurança nacional.

Os Estados Unidos retiraram este domingo do Afeganistão cerca de 500 funcionários da embaixada em Cabul , avança a CNN.

Segundo o canal de notícias norte-americano, faltam tirar do país cerca quatro mil diplomatas e cidadãos afegãos que colaboraram com as forças dos Estados Unidos.

Mohammad Naeem, um dos porta-vozes das forças talibãs, assegurou à Al Jazeera que a “guerra acabou” e que serão dadas todas as garantias de segurança as missões diplomáticas no país.

“Estamos prontos para iniciar diálogos com todas as figuras afegãs e para garantir a proteção necessária”, acrescentou Mohammad Naeem.

António Guterres, na qualidade de secretário-geral da ONU, apelou para que talibãs e demais partes envolvidas na transição de poder no Afeganistão exerçam “o máximo de contenção” para proteger vidas humanas e garantir a entrega de ajuda humanitária.

Um dos porta-vozes das forças talibãs assegurou à Associated Press que o objetivo do assalto ao poder é formar um “governo aberto, inclusivo e islâmico”.

De acordo com a mesma Associated Press, os talibãs, que tinham planeado anunciar a formação de um governo a partir do palácio presidencial, estão a adiar esse momento.

De acordo com o Washington Post, o Pentágono vai enviar mil militares para o Afeganistão para ajudar na retirada de cidadãos norte-americanos que estão retidos naquele país.

Num comunicado publicado no Facebook, Ashraf Ghani, o Presidente afegão, explica que deixou o país para evitar “banho de sangue”.

“Os talibãs ganharam e são agora responsáveis pela honra, a posse e a autopreservação do seu país”, reconheceu o Presidente em fuga.

Ghani apela ainda aos talibãs que protejam todos os afegãos, homens, mulheres e crianças.

Al Jazeera está a transmitir imagens dos líderes e combatentes talibãs a partir do palácio presidencial, onde antes se sentava o presidente deposto, Ashraf Ghani.

De acordo com a mesma Al Jazeera, um porta-voz dos talibã deu garantias de que aqueles que trabalharam como o anterior governo e forças armadas terão uma amnistia.

Em declarações à RTP, João Gomes Cravinho, ministro da Defesa, assumiu que o Governo está a acompanhar “com grande preocupação” os recentes desenvolvimentos no Afeganistão.

O ministro da Defesa apontou o dedo diretamente à Administração Trump pelo desfecho naquele país. Lamentando que as “dinâmicas eleitorais” nos Estados Unidos tenham “precipitado” um acordo desenhado de forma “unilateral” e sem a participação da Nato, Gomes Cravinho reconheceu que era uma questão de tempo até que isto acontecesse.

“Há muitas lições a retirar deste processo. É um processo profundamente infeliz. Os países ocidentais não se podem orgulhar desta saída.”

Gomes Cravinho garantiu que o país está em condições de receber refugiados afegãos que serão transferidos via Turquia.

O ministro da Defesa assegurou também que Portugal só vai atuar no quadro da Nato e não reconhecerá bilateralmente o novo regime afegão. Tudo dependerá, assegurou Gomes Cravinho, da forma como se comportarem as futuras autoridades.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou que a Aliança Atlântica está a ajudar a garantir a segurança do aeroporto de Cabul para permitir a retirada de cidadãos ocidentais do Afeganistão face ao avanço da ofensiva talibã.

“Falei com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e com os ministros dos Negócios Estrangeiros dos nossos aliados Canadá, Dinamarca e Países Baixos sobre a situação no Afeganistão. A NATO está a ajudar a manter o aeroporto de Cabul aberto para facilitar e coordenar as evacuações”, escreveu Stoltenberg numa breve mensagem publicada na rede social Twitter.