O consultor José Magro revela que, a 22 de outubro de 2019, o filho do Presidente da República lhe disse que já não era necessário continuar a tentar obter o contacto da médica neuropediatra Teresa Moreno e que ia “resolver de outra forma”.

No dia anterior, Nuno Rebelo de Sousa contactou a Presidência da República expondo o caso das gémeas.

O consultor José Magro explicou que estava em conhecimento (cc) no email de Daniela Martins (a mãe das gémeas) para o diretor dos Lusíadas, Vítor Almeida, para acompanhar o processo de obtenção do contacto da médica Teresa Moreno.

“Foi para tranquilizar a família das gémeas”, explicou.

O consultor José Magro garante que a única intervenção que teve no caso foi a de ter tentado obter o contacto da médica neuropediatra Teresa Moreno, que tratou as gémeas luso-brasileiras.

“Procurei ajudar apenas a conseguir o contacto de uma médica. Fi-lo independentemente de quem me pediu, fi-lo por dever de cidadania, por sentido de humanidade e porque também sou pai e porque percebo a situação de angústia em que a família das gémeas estaria”, disse José Magro, acrescentando ter sido contactado por um empresário com ligações ao Brasil, que lhe pediu o contacto da médica Teresa Moreno.

“Aquilo que pedi foi o contacto de Teresa Moreno”, disse o empresário, revelando ter contactado o à época diretor do Hospital dos Lusíadas, Vítor Almeida.

“Em outubro de 2019, fiquei a saber que Nuno Rebelo de Sousa também pretendia o contacto da sra Teresa Moreno. A 15 de outubro, sugeri a Nuno Rebelo de Sousa que fosse enviado um email a Vítor Almeida com cópia para mim e indiquei o meu email”, esclareceu, para que, explicou, pudesse acompanhar o processo.

O consultor de empresas José Magro garante não ter tido contactado com nenhum órgão de Estado, nem com a Presidência da República nem com o Governo.

“Não tive contacto com o presidente da República ou com qualquer membro da casa civil, nem com o primeiro-ministro ou membros do seu gabinete, nem com o secretário de estado da Saúde, com o Hospital de Santa Maria”, elencou José Magro, garantindo que não ter marcado nem desmarcado a consulta para as gémeas no Hospital dos Lusíadas.

Pouco mais de uma hora depois, termina a audição a Mário Pinto, o ex-assessor do Presidente da República para a área da Saúde.

Segue-se agora a audição do empresário José Magro, sobre a consulta marcada e desmarcada no Hospital dos Lusíadas.

Depois de ter admitido que tinha marcado uma consulta para uma ex-funcionária da Presidência da República, Mário Pinto revelou agora, em resposta à deputada do Chega Cristina Rodrigues, que agilizou também pessoalmente o tratamento de uma outra pessoa.

“Um caso em que interferi foi o caso de um sogro de uma funcionária que tinha um problema grave no pâncreas e eu arranjei maneira de ele ser tratado”, disse o ex-assessor de Marcelo Rebelo de Sousa.

Mário Pinto afirmou, em resposta ao deputado João Paulo Correia, que a Presidência da República “é um local de muitos segredos”, algo que considera “normal”.

“O que se fazia lá não era para divulgar. E não estou habituado a ter segredos”, disse o ex-assessor de Marcelo Rebelo de Sousa, justificando assim a sua saída de Belém, em 2021.

Questionado pelo deputado do PS João Paulo Correia sobre se era frequente a Presidência da República promover a marcação de consultas e se marcara alguma consulta enquanto foi assessor em Belém, Mário Pinto admitiu que sim.

“Marquei uma consulta para uma funcionária que tinha um cancro da mama e quis ajudá-la a resolver isso. Ela depois faleceu e eu fiz bem”, disse Mário Pinto, acrescentando não se lembrar em que hospital foi marcada essa consulta.

Mário Pinto disse mesmo aos deputados que se precisassem de uma consulta e lhe pedissem ajuda, os ajudaria a “arranjar uma consulta”. “Se me pedirem, vou fazê-lo”, afirmou.

O ex-assessor de Marcelo Rebelo de Sousa para a área da saúde disse que as reuniões com António Lacerda Sales “não eram frequentes” e ocorriam de “de dois em dois meses”.

“Eram relacionadas com as questões de saúde do momento, sobre as urgências ou os atrasos das cirurgias, por exemplo”, explicou Mário Pinto. O médico explicou que, enquanto exerceu funções em Belém, tinha liberdade para reunir com quem quisesse, sem coordenar as posições com Marcelo Rebelo de Sousa.

“A iniciativa [de reunir com os membros do governo] era muitas vezes minha”, admitiu Mário Pinto, explicando que “dava conta por escrito ao chefe da casa civil” do conteúdo dessas reuniões.

Sobe a tensão na audição do ex-assessor de Marcelo Rebelo de Sousa. Mário Pinto irritou-se quando estava a ser questionado, há minutos, pelo deputado do PSD António Rodrigues. O deputado questionou Mário Pinto sobre as alegadas reuniões entre o depoente e o ex-secretário de Estado Lacerda Sales e sobre as declarações de Lacerda Sales, que disse à IGAS que falou com Mário Pinto sobre o caso.

“O Dr. Lacerda Sales não disse a verdade sobre este assunto. Não disse a minha verdade”, disse Mário Pinto. De seguida, irritou-se com o deputado do CDS-PP João Almeida, que estaria a fazer comentários durante a resposta. “É bom que não diga nada, está aí a dizer palavrinhas. Eu sou do Norte e estou aqui para dizer a verdade e não deixar que alterem a verdade. Cautela”, avisou Mário Pinto, o que levou à intervenção do presidente da CPI, Rui Paulo Sousa.

“Não estamos a colocar em causa a sua palavra”, disse depois António Rodrigues, do PSD.

“Nem lhe admito que ponha”, respondeu Mário Pinto a António Rodrigues. “Não me enrolem, que eu não gosto de ser enrolado”, alertou o ex-assessor de Marcelo.

Mário Pinto negou que tenha tido reuniões com o ex-secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales sobre as gémeas luso-brasileiras.

“Nunca tive. O assunto não era do meu conhecimento. Não conhecia [o tema] e só soube pela comunicação social”, garantiu.

O ex-assessor de Marcelo Rebelo de Sousa garante que não teve nenhuma intervenção no caso do alegado favorecimento às gémeas luso-brasileiras.

“Não tenho nada a ver com o assunto, nunca fui ouvido. Nunca me foi pedido nada, não conheço os interlocutores”, referiu o médico Mário Pinto, admitindo, no entanto, que conhece o ex-secretário de Estado António Lacerda Sales, por quem diz ter “estima”.

Mário Pinto esclarece que, até 2021, quando foi assessor do Presidente da República, fazia a ligação entre a Presidência e “a área da saúde do governo”. Questionado pelo PSD, o ex-assessor garante que nunca lidou com processos individuais — apenas com “estratégias de saúde”.