A Wild Bunch, a empresa encarregada de distribuir o filme “Welcome to New York” nos Estados Unidos, decidiu cortar 15 minutos da longa-metragem e reeditar algumas cenas. O objetivo? Fazer com que a película protagonizada por Gerard Depardieu, e inspirada no escândalo sexual que envolveu Dominique Strauss-Kahn, pudesse ser vista por menores de 17 anos (sob a supervisão de um dos pais ou de um adulto responsável). Quem não gostou foi o realizador norte-americano, Abel Ferrara.

“É uma censura arbitrária”, sentenciou o realizador, citado pelo New York Times. “É uma questão de liberdade de expressão.” O jornal norte-americano escreve que, de acordo com Ferrara, as mudanças feitas à película mudam o “tom” e a “filosofia” originais. “O meu nome está nele [no filme] — eu sou o realizador. (…) A versão ilegal muda completamente o conteúdo político do filme”, acrescentou no decorrer de uma entrevista telefónica. A mudança mais grave, alega, tem que ver com a cena associada à violação da trabalhadora do hotel nova-iorquino.

Do outro lado, a distribuidora afirmou, citada pelo espanhol El País, que pediu a Ferrara uma versão apropriada a menores de 17 anos e que o realizador prontificou-se a entregá-la. No entanto, Ferrara nunca chegou a fazê-lo, pelo que a empresa viu-se “forçada” a editar a película na sua ausência. A Wild Bunch Vincent Maraval descreveu os cortes como sendo “menores” e chegou a admitir que estes ajudavam, inclusive, ao “fluxo da película”.

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A longa-metragem Welcome to New York foi exibida durante a edição de 2014 do Festival de Cannes, mas só este fim de semana foi lançado nos Estados Unidos da América. O enredo baseia-se no escândalo sexual que ocorreu a 14 de maio de 2011, na suite 2806 do hotel Sofitel de Manhattan, e que envolveu o ex-responsável do Fundo Monetário Internacional e uma empregada de hotel guineense, 30 anos mais nova.

Apesar de o próprio realizador descrever a longa-metragem como uma obra de ficção, as semelhanças entre a personagem de Depardieu e Strauss-Kahn são muitas, motivo pelo qual o seu advogado chegou a dizer à rádio francesa Europe 1, em maio do ano passado, que iria apresentar queixa por difamação contra os responsáveis pela película. “Este caso começou há três anos, ele [Strauss-Kahn] foi exonerado muito rapidamente e, portanto, esta situação é absolutamente intolerável”, considerou à data.