O Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) aproveita a chegada do sol e do calor para fechar as portas. Não porque vai de férias, mas porque leva ao Largo de São Carlos, no Chiado, em Lisboa, o canto, a ópera e o bailado. Entre 3 e 25 de julho, o 7.º Festival ao Largo oferece 15 espetáculos gratuitos, protagonizados por projetos experientes como a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, mas também por novas gerações, como a Orquestra Juvenil da Irlanda e o Coro Juvenil de Lisboa. Resta saber se a greve da Companhia Nacional de Bailado vai afetar os espetáculos de encerramento.

Chegar a outros públicos e criar outros horizontes. O Festival ao Largo serve, sobretudo, para “procurar uma descentralização de públicos” e dar a conhecer o único teatro português de ópera, porque ainda há muita gente que o teme. Na apresentação do programa aos jornalistas, esta quarta-feira, José de Monterroso Teixeira, disse não ter dúvidas de que o conceito funciona. Agora, para além de alegrar lisboetas e turistas, o presidente do Opart, organismo que gere o TNSC, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e a Companhia Nacional de Bailado, anunciou que o Festival ao Largo vai ter a sua primeira descentralização. Os concertos dos dias 3, 10 e 17 de julho vão ser transmitidos em direto pela RTP2 e, no Largo Visconde Serra do Pilar, em Santarém, e na Praça do Sertório, em Évora, o sinal da transmissão televisiva vai mesmo ser projetado, permitindo a quem estiver nesses locais ver e ouvir os concertos à distância, com uma experiência diferente.

O primeiro momento do programa dá-se com “Broadway e o Novo Mundo“, no dia 3 de julho, às 21h30. O concerto coral-sinfónico, que repete no dia seguinte, vai contar com a participação da solista portuguesa Sofia Escobar, que venceu o galardão de Melhor Atriz de Teatro Musical em Inglaterra, em 2009. Com direção musical da maestrina Joana Carneiro e peças de Andrew Lloyd Webber, Leonard Bernstein, John Williams, Aaron Copland e Ennio Morricone, o espetáculo conta com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do TNSC.

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Programação do Festival ao Largo, de 3 a 25 de julho de 2015

“Este ano apostamos muito na juventude”, disse Adriano Jordão, que juntamente com Luísa Taveira programou o evento. Vão estar presentes orquestras jovens da Irlanda e da Bélgica. No dia 8 de julho, por exemplo, a Orquestra Sinfónica Juvenil vai lembrar Elsa Saque e Álvaro Malta, dois dos três homenageados desta edição. O terceiro nome a merecer homenagem, mas a título póstumo, é o de Maria Cristina de Castro. Os concertos de 17 e 18 de julho, “Hino à Juventude“, são em sua memória.

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Um dos espetáculos em destaque acontece a 10 de julho. “Diálogo com o Oriente” é uma fusão inédita entre a primeira cena da ópera “O Deus do Vulcão” e o gamelão, um tipo de orquestra tradicional da ilha indonésia de Java. O espetáculo só com cantores portugueses tem como tema o vulcão azul de Java.

O único problema do cartaz são os três espetáculos de encerramento, a cargo da Companhia Nacional de Bailado. Os bailarinos anunciaram esta quarta-feira que vão manter o pré-aviso de greve para julho, até receberem uma garantia do Governo de que será retirada a proposta de lei apresentada pela Secretaria de Estado da Cultura sobre o estatuto destes profissionais. Na terça-feira, Barreto Xavier garantiu que o diploma iria ser retirado por se aproximarem as eleições legislativas e por falta de um acordo com os bailarinos, que se queixam de não terem sido ouvidos. Em comunicado, o CENA – Sindicato dos Músicos, dos Trabalhadores do Espetáculo e do Audiovisual deu a conhecer que o pré-aviso de greve se mantém válido para os espetáculos dos dias 11,17,18,23,24 e 25 de julho, até ser obtida uma garantia por escrito sobre a matéria.

É precisamente nos dias 23, 24 e 25 de julho que a Companhia Nacional de Bailado tem de estar no Festival ao Largo, com o espetáculo “Ballet Gulbenkian“, uma homenagem à companhia com o mesmo nome, extinta há 10 anos. “Se houver um problema, logo veremos”, disse Adriano Jordão, pianista e vogal do Opart, sobre o risco de os bailarinos não dançarem por causa da greve. “Não deixará de haver espetáculo lá fora. Isso é uma promessa”, sublinhou. “Transpor uma sala de espetáculos para uma praça é uma operação logística complexa”, contou Adriano Jordão. O pianista revelou que o orçamento deste ano foi superior ao do ano passado – 139 mil euros face aos 100 mil obtidos em 2014 – mas que, mesmo assim, foi necessário reduzir o festival, dada a situação económica que o país atravessa.

Com mais 39 mil euros do que em 2014, o evento tem menos uma semana de duração e menos espetáculos. Adriano Jordão admitiu que, no ano passado, face à ameaça de o Festival ao Largo não se realizar, assistiu “a um gesto solidário internacional”, com vários artistas a oferecerem-se para participar sem cachet. “Uma percentagem muito grande, muito grande” do orçamento é da responsabilidade dos patrocinadores. “Não vem dos impostos”, disse.

São Carlos vai continuar com consultor artístico “a prestação de serviços”

O presidente do Opart comentou as declarações do Secretário de Estado da Cultura, que esta terça-feira revelou no Parlamento que não vai ser nomeado por este Governo nenhum diretor artístico para o São Carlos. O responsável pela programação da nova temporada do único teatro de ópera em Portugal vai ser anunciado em julho e entrará como consultor artístico – à semelhança do que já aconteceu com Paolo Pinamonti – e no mesmo modelo, ou seja, a recibos verdes, adiantou José de Monterroso Teixeira.

“Tendo em conta a polémica que está a gerar queria dizer que o tema não é na figura do consultor artístico mas do diretor artístico”, disse o historiador que preside o Opart, depois de Barreto Xavier ter demitido José António Falcão, em janeiro deste ano.