A agência de rating Moody’s olha com desânimo para as perspetivas de crescimento económico em Portugal e, devido a esse efeito e à possível recapitalização da CGD, diz que a meta do défice de 2,2% – inscrita no Orçamento do Estado – estará fora de alcance. A agência aponta para um défice de 3% do PIB. Ainda assim, a Moody’s não vê grandes riscos de desvios significativos na execução orçamental dado o “escrutínio intenso” por parte de Bruxelas e “pedido [pela Comissão Europeia] de medidas adicionais caso existe algum desvio até ao final do ano”.
As declarações da agência Moody’s surgem num relatório enviado esta terça-feira aos clientes da agência de rating e a que o Observador teve acesso.
A Moody’s lamenta que Portugal continue a crescer “de forma muito mais moderada do que outros países da periferia da zona euro, incluindo a vizinha Espanha”. “Portanto, o crescimento económico não dará um grande suporte à consolidação orçamental prevista e à redução dos níveis de dívida”, diz a Moody’s, antevendo que “o rácio de dívida pública deverá manter-se acima dos 120% do PIB até ao final da década” (face aos 129% atuais).
Além do crescimento baixo, que acontece “apesar das reformas estruturais aplicadas nos últimos anos”, a Moody’s está preocupada com o “risco chave” que é a banca – não só no que diz respeito à capacidade da banca de suportar a retoma mas, também, no que diz respeito à “possibilidade” de o governo ter, “uma vez mais”, de gastar recursos na recapitalização de bancos — neste caso, a Caixa Geral de Depósitos.
“Nos últimos anos, o desempenho orçamental de Portugal foi, repetidamente, penalizado por injeções públicas em vários bancos. O governo poderá, uma vez mais, ter de colocar capital a um banco estatal. Além das implicações para as finanças públicas, a fragilidade persistente no setor financeiro continua a ser um risco chave para o rating de Portugal. Por outro lado, os riscos associados às empresas públicas foram reduzidos mas ainda não eliminados totalmente, já que esse setor, como um todo, continua a incorrer em défices operacionais”.
Pela positiva, a Moody’s elogia que a economia portuguesa se tenha, nos últimos anos, virado mais para o setor transacionável, registando melhorias nos índices de competitividade externa. O aumento do peso das exportações na economia, que ascendeu a 43% do PIB contra 32% em 2010, é um bom sinal para Portugal.