Portugal teve dos piores desempenhos no ‘ranking’ europeu sobre saúde no que se refere ao acesso aos cuidados primários, avisa a Ordem dos Enfermeiros, alertando que o relatório não exibe os dados positivos que o Governo pretendeu mostrar.
“Portugal teve dos piores desempenhos relativamente ao acesso aos cuidados de saúde primários e à marcação de consultas nos centros de saúde”, afirmou a bastonária dos Enfermeiros à agência Lusa a propósito do ‘ranking’ divulgado esta segunda-feira e que coloca Portugal em 2017 no 14.º lugar em termos europeus, posição igual à de 2016.
Ana Rita Cavaco sublinhou ainda que, apesar de manter a 14.ª posição, Portugal desceu 28 pontos em relação à avaliação feita em 2016.
Para a bastonária, esta descida de pontos significa piores resultados em parâmetros como o acesso aos centros de saúde, o acesso a consultas de especialidade e também o financiamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“O relatório refere que Portugal gastou muito menos em saúde do que qualquer dos outros países. Cá está a questão do subfinanciamento. É referido que registou um severo decréscimo na despesa de saúde e isso faz com que haja pior acesso e também perda em termos de qualidade”, sustentou a bastonária dos Enfermeiros.
Ana Rita Cavaco entende que um 14º lugar “diz muito pouco” aos cidadãos, quando os critérios de acesso mostram que o país “está muito mal”.
“Olhando para este relatório, não é tudo bom como diz o comunicado do Ministério da Saúde. Dentro dos critérios estamos muito mal. Se isto está a acontecer, é a altura de quem está a governar encarar que tem um problema que tem de resolver e não fingir que o problema não existe”, disse.
Para a bastonária, ainda assim este documento europeu não espelha tão bem a realidade dos serviços de saúde portugueses como o relatório do Tribunal de Contas divulgado no ano passado e referente a 2016, que aponta para aumento dos tempos médios de espera para consultas e aumento de utentes em espera para cirurgias.
“A analise feita pelo Tribunal de Contas não é coincidente com este relatório, sendo que o do Tribunal é de facto independente, enquanto este se baseia nos dados fornecidos pelo Governo”, acrescentou Ana Rita Cavaco.
Num comentário feito segunda-feira de manhã a este ‘ranking’, a diretora-geral da Saúde tinha manifestado satisfação com a posição de Portugal, sublinhando a melhoria em áreas como a espera nas urgências e a saúde oral.
“De um modo geral, estamos satisfeitos com a posição pois são 35 países e Portugal ocupa a 14.ª posição, pelo segundo ano consecutivo. Isto tem que ver com a consistência do nosso trabalho e com a ação junto dos doentes”, afirmou Graça Freitas.
A responsável sublinhou que Portugal vem da 20.ª posição e que agora já está à frente de países como Espanha, Reino Unido e Irlanda, mas diz que “o objetivo é melhorar sempre”.