Um conjunto de cartas escritas por Jacqueline Kennedy e enviadas para um padre irlandês está a gerar curiosidade e a revelar facetas desconhecidas da vida da antiga primeira-dama dos Estados Unidos, admirada em todo o mundo como ícone de estilo e conhecida também pela discrição e pela forma como sempre protegeu a sua privacidade.

As 33 cartas recebidas pelo padre de Dublin Joseph Leonard entre 1950 e 1964 contêm referências ao namoro de Jacqueline Kennedy com o então futuro presidente norte-americano John Kennedy e levantam o véu sobre o sofrimento de Jackie aquando do assassinato do marido, em novembro de 1963.

A coleção vai ser leiloada no dia 10 de junho pela Sheppard’s Irish Auction House.

O jornal Irish Times teve autorização para publicar excertos de algumas dessas cartas. Nesses trechos podem ler-se descrições da antiga primeira-dama sobre momentos centrais da sua vida.

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Sobre o namoro com John Kennedy

Em julho de 1952, a jovem Jacqueline Bouvier escreveu ao padre Leonard para lhe contar que “estava apaixonada pelo filho do embaixador na Inglaterra” (o pai de John F. Kennedy, Joe Kennedy, foi o embaixador norte-americano no Reino Unido entre 1938 e 1940). Sobre JFK, então congressista no estado de Massachusetts e uma estrela política em ascensão, Jackie escreveu ser tão ambicioso “como Macbeth”. Nessa altura, expressava também alguns receios sobre o seu futuro marido:

“De certa forma ele é como o meu pai – adora a caça mas aborrece-se com a conquista – depois de casado precisa de provar que ainda é atraente e por isso namorisca com outras mulheres e guarda rancor da esposa. Eu vi como isso quase matou a minha mãe.”

 

Sobre o medo da solidão e o casamento

Em 1953, com apenas 23 anos, Jackie confessava temer a solidão:

“Talvez eu esteja deslumbrada e me imagine num mundo de brilhos, cabeças coroadas e Homens do Destino em vez de uma simples e triste dona de casa… Esse mundo pode ser muito glamoroso para quem vê de fora, mas para quem está dentro e está sozinho pode ser um Inferno.”

 

Um ano depois do casamento,  Jacqueline Kennedy dizia gostar da vida de casada:

“Gosto de estar casada muito mais do que gostava no início.”

 

Sobre a morte de JFK

Em janeiro de 1964, cerca de dois meses depois de John F. Kennedy ter sido assassinado, Jackie escreveu ao seu confidente, admitindo-lhe sentir uma grande “amargura contra Deus”, acrescentando que estava a tentar fazer as pazes com deus.

“Tenho de pensar que existe um Deus – ou então não tenho nenhuma esperança de encontrar o Jack de novo.”

“Deus tem explicações a dar-me se eu alguma vez O vir.”

 

Semanas mais tarde, chegava uma nova carta a Dublin, onde Jacqueline Kennedy escrevia:

“Todos os dias sinto de forma mais cruel aquilo que perdi. Preferia ter perdido a minha vida a ter perdido o Jack.”

 

O padre Leonard morreu em 1964. Quatro anos depois, Jackie casou com o magnata grego Aristotle Onassis.

Ainda que a vida de Jacqueline Kennedy tenha sido alvo de um intenso escrutínio, a antiga primeira-dama nunca publicou nenhuma autobiografia. Como lembra o Irish Times, na altura da sua morte. em 1994, o obituário publicado no New York Times notava que “o silêncio de Jackie sobre o seu passado – em especial sobre os anos Kennedy e o seu casamento com o presidente – foi sempre um mistério”. Talvez por isso a descoberta destas cartas esteja a ser encarada com tanto entusiasmo.

O porta-voz da Sheppard’s Irish Auction House, Philip Sheppard, disse que as cartas foram “a descoberta de sonho da vida de um leiloeiro” e que incluem “revelações simples e surpreendentes que transformam a nossa visão de Jacqueline Bouvier Kennedy.” Philip Sheppard espera que a coleção seja vendida por mais de um milhão de euros.