Um milhão e 200 mil bandeirolas, como chamam aqui às pequenas tiras de plástico, mais de 80 quilos de arame, cerca de 80 mil reais e dois meses e meio de trabalho. É a receita para uma rua que por estes dias, de Mundial, não é bem uma rua, é mais um monumento. É a Rua da Copa.

A rua de Sta. Isabel fica no Bairro 14, bem perto do centro de Manaus. À entrada tem um portal que recria o majestático Teatro Amazonas, com cúpula e tudo. Lá dentro é um mundo de cor, de bandeiras gigantes feitas de tiras, de paredes pintadas. “Durante a Copa a Fun Fest original é aqui.” Jucimar Pinto nasceu no interior do Amazonas, mas aos 4 anos veio viver para Sta. Isabel. É um dos principais responsáveis pelo que se vê, mas recusa o protagonismo: “Nem filho a gente faz só!”

A história da rua de Sta. Isabel como “A Rua da Copa” remonta a 1982. “Começou de uma brincadeira de meninos. A gente fazia festa joanina, que era esticar bandeira e fazer churrasco. Aí, quando chegava a Copa a gente pintava o chão. Depois nós tirámos do chão e botámos o desenho no tecto.”

Jucimar, funcionário público, assessor técnico na Assembleia Legislativa do Amazonas, tinha 16 anos quando tudo começou, e hoje, passados 32, continua a participar, como toda a gente que aqui mora – “Envolve toda a comunidade, todos os moradores. Crianças, jovens, adultos e idosos.”

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A moda de enfeitar as ruas desta maneira sumptuosa alastrou, em Manaus e no resto do Brasil, ao ponto de ter sido criada a distinção de Rua da Copa. Sta. Isabel ganhou várias vezes. Conta com seis distinções no currículo (não só nacionais, também locais), mas nas últimas três edições do Mundial, ficou de fora. “Começaram a direcionar as coisas. Politicagem. Estamos fora. Nós preferimos manter a tradição, fomos os primeiros no Mundo a fazer isto, e isso chega.”

Polémicas e concursos à parte, Sta. Isabel repete a cada quatro anos a festa. Há “comidas regionais típicas, bebida, pipoca, sorvete, bombom, churrasco… Tem tudo aqui.” E o tudo inclui um palco para concertos e dois “telões” para ninguém perder pitada do que vai acontecendo nos relvados. Jucimar fala com orgulho do interesse que a rua atrai. “Já vieram televisões de Inglaterra, Noruega, Canadá, EUA, França, Japão… Turista também de todo o canto. Vêm ver a beleza deste tapete aéreo!”

Em dia de jogo do Brasil, os números ganham contornos de estádio. “Segundo a polícia, girando das 10 da manhã às 10 da noite, 30 mil pessoas. Lotado são 5/6 mil pessoas, mas contando as 12 horas bate nos 30 mil.”

Jucimar Pinto interrompe o jogo de dominó que estava a jogar para mostrar, orgulhoso, a bandeira que cobre parte da fachada da sua casa em Sta. Isabel. “Tem 28 anos. Eu mandei fazer e toda a Copa eu coloco ela aí.” É uma espécie de talismã, que já rendeu duas taças de Campeão do Mundo, 1994 e 2002. E Jucimar acredita que há uma terceira a caminho: “Vamos ao hexa, confio no potencial do time. Mas é preciso ter cuidado, o futebol é uma caixinha de surpresas. Você está vendo o que está acontecendo…”