Batida passou a ser o principal meio de comunicação para o músico e produtor luso-angolano Pedro Conquenão, que na segunda-feira edita o álbum “Dois” com aquele projeto de música, com cinco anos de existência. “Percebi que Batida tem um potencial muito grande para me exprimir, ocupa-me os dias todos, trouxe-me muitas viagens e contactos com outras pessoas”, afirmou o músico à agência Lusa, que estreou o projeto Batida em 2009, com o álbum “Dance Mwangolé”.

Esse álbum, que foi reeditado em 2012 pela britânica Soundway Records, fazia a ponte entre Portugal e Angola, com um pé na música urbana, na eletrónica e outro na música tradicional, nos ritmos africanos. “Dois” alarga o horizonte de referências e de trabalho de Batida, afirmou.

Neste segundo álbum, Pedro Conquenão quis transpor para estúdio a “sensação de estar em palco”, tornando-o mais orgânico, e contou com novos colaboradores, como Nelly Ochieng, “lenda da música no Quénia”, o rapper queniano Cannibal, o músico sul-africano Spoek Mathambo e o britânico Duncan Lloyd (dos Maximo Park), aos quais se junta um parceiro antigo, o angolano Ikonoklasta.

O álbum, que inclui os temas “Pobre e Rico”, “Luxo”, “Bantú”, “Fica atento!” e “Lá vai Maria”, tem as marcas deixadas pela viagem que Pedro Coquenão fez a Luanda e também a Nairobi, no âmbito do projeto internacional “10Cities”, no qual se deu um intercâmbio com músicos de diferentes paragens e culturas.

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Batida internacionalizou-se, explica Pedro Coquenão, chegou a Paris e a Londres, chegou aos ouvidos da imprensa britânica, ganhou projeção nas redes sociais: “Ficar fechado no mercado português tornou-se limitado”.

Nas suas músicas, Pedro Coquenão foi incluindo letras interventivas, contra a injustiça, em particular em Angola. No entanto alerta: “Não gosto de usar isso como ‘press release’, mas ter com que me comprometer, fez as pessoas aproximarem-se”. Em cinco anos de existência de Batida, o músico, nascido no Huambo e a viver em Portugal, considera ter havido algumas mudanças em Angola, apesar de manter as críticas ao regime de José Eduardo dos Santos.

“Acho que os jovens já não estão tão resignados, têm capacidade e coragem para desbloquear. Houve uma mudança de paradigma, a informação já circula. Mas, apesar de haver alcatrão, as coisas básicas, como água e educação, ainda não existem”. Apesar da projeção internacional, dos concertos e da divulgação, a verdade é que ainda não aconteceu uma atuação de Batida em Angola: “Os amigos com quem me dou também não me ajudam nessa tarefa de ser mais popular”, afirma, a rir-se.

Atuar em Angola “implica explicar aos músicos ao que vão”. “Não tenho uma agenda política, mas há coisas que quero fazer ao vivo e não quero estar condicionado”, disse. Pedro Coquenão prepara-se para divulgar Batida na próxima semana na Womex, a feira internacional de música, cuja 20.ª edição decorrerá em Santiago de Compostela (Espanha). Em novembro, atuará em Londres e em Paris e, em dezembro, vai apresentar as canções novas ao vivo em Lisboa.