Pinguins animados e uma superprodução bíblica de Ridley Scott, ambos em 3D; dois clássicos mudos de Charlot restaurados; o fecho da trilogia ‘O Hobbit’; uma biografia do grande pintor inglês Turner, ou uma visita assombrada de David Cronenberg a Hollywood, estão entre as sugestões muito variadas de filmes para ver daqui até ao Natal e ao final do ano.

1. “Os Pinguins de Madagáscar” (Eric Darnell, Simon J. Smith)

Era apenas uma questão de tempo até que os quatro pinguins da série de filmes animados “Madagáscar” tivessem a sua própria longa-metragem (que esteve inicialmente pensada pela DreamWorks para ir directamente para o mercado de DVD). Ei-la, em 3D, e nela Skipper, Kowalski, Private e Rico metem-se numa aventura de acção e espionagem. John Malkovich dá voz ao vilão, o polvo Dave, Benedict Cumberbatch empresta a sua ao lobo Classified, um agente secreto animal, e Werner Herzog faz a narração inicial, parodiando o seu documentário de 2007 “Encounters at the End of the World”, filmado na Antártida. (Estreia: 4 de Dezembro).

“Trailer” – “Os Pinguins de Madagáscar”

2/3. “O Garoto de Charlot”/ “A Quimera do Ouro” (Charlie Chaplin)

Reposição, em cópias digitais restauradas, de duas das comédias clássicas mudas de Charlot, realizadas, respectivamente, em 1921 e 1925. “O Garoto de Charlot” foi a primeira longa-metragem assinada por Chaplin, onde o Vagabundo toma conta de uma criança abandonada (Jackie Coogan), enquanto que em “A Quimera do Ouro”, Charlot junta-se à corrida ao ouro no Klondike, na esperança de ficar rico. Riquíssimos são ambos os filmes naquela combinação de slapstick esfuziante e de sentimentalismo desatado de que Chaplin tinha o segredo. O realizador disse várias vezes que se houvesse um filme pelo qual gostaria de ser lembrado, seria “A Quimera do Ouro”. (Reposição: 11 de Dezembro)

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http://youtu.be/G5Ll-NUX9go

“Trailer” – “O Garoto de Charlot”

http://youtu.be/4FhPYptZoDg

“Trailer” – “A Quimera do Ouro”

4. “Exodus: Deuses e Reis” (Ridley Scott)

Depois de Noé, Hollywood insiste na tecla bíblica com esta superprodução de 150 milhões de dólares. Ridley Scott  vai onde Cecil B. DeMille já esteve (e por duas vezes) em “Os Dez Mandamentos”, reinterpretando a fuga dos hebreus do Egipto, liderados por Moisés, mas com uma bateria de efeitos digitais e em 3D, e segundo quem já viu, uma aproximação cinematográfica a cair mais mais para os lados de “Gladiador” do que da narrativa religiosa edificante. O facto de Deus, em vez de uma voz desencarnada, como na fita de DeMille de 1956, ser interpretado por um miúdo de 11 anos, Isaac Andrews, já mexeu com os mais hipersensíveis em termos de religião nos EUA. Christian Bale faz de Moisés e o australiano Joel Edgerton de Ramsés. (Estreia: 11 de Dezembro).

“Trailer” – “Exodus: Deuses e Reis”

5. “Mapas para as Estrelas” (David Cronenberg)

Nada como David Cronenberg para vir estragar o espírito natalício, com esta fita passada numa Hollywood  banhada em sol, mas onde as estrelas de cinema são assombradas por fantasmas que tanto aparecem na banheira como na piscina ou no jardim, e podem ser de familiares que foram também vedetas, como de crianças e adolescentes mortas de doenças ou em acidentes. Mas os fantasmas de “Mapas para as Estrelas” são apenas personagens secundárias de uma história de incesto, no decorrer da qual Cronenberg, filmando um argumento de Bruce Wagner, asperge a ácido sulfúrico as taras, amoralidades, egos e hipocrisias da indústria do cinema e seus protagonistas. Com Julianne Moore (Melhor Actriz este ano em Cannes), John Cusack, Mia Wasikowska, Evan Bird  e Robert Pattinson. (Estreia: 11 de Dezembro).

“Trailer” – “Mapas para as Estrelas”

6. “Gemma Bovery” (Anne Fontaine)

Será que ler Flaubert em excesso pode acabar por nos prejudicar? A resposta desta comédia “literária” da francesa Anne Fontaine é: “Sim”. O magnífico Fabrice Luchini interpreta Martin, um hipster fanático de Flaubert que se fartou de Paris, mudou-se com a família para a vila onde nasceu na Normandia e abriu uma padaria. Um dia, um jovem casal de ingleses, Gemma e Charles Bovery, instalam-se na vivenda fronteira à de Martin, e este começa a notar, fascinado, que o comportamento dos seus novos vizinhos parece reproduzir o das personagens do seu romance favorito de Flaubert, “Madame Bovary”. Mas será mesmo assim? E qual o papel de Martin no meio desta história em que a realidade parece mimar a ficção? Ser um mero observador, ou um intruso que vai tentar alterá-la? (Estreia: 11 de Dezembro).

“Trailer” – “Gemma Bovery”

7. “Carvão Negro, Gelo Fino” (Yinan Diao)

O cinema chinês pinga de vez em quando nas salas portuguesas, e este Natal manifesta-se sob a forma de um filme policial que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim (para mal do favorito, “Boyhood: Momentos de uma Vida”, de Richard Linklater, já em exibição em Portugal) e o Prémio de Melhor Actor (para Fan Liao). Yinan Diao é argumentista e o autor de dois outros filmes que fizeram o circuito dos festivais ocidentais, “Uniform” (2003)  e o excelente “Night Train” (2007). “Carvão Negro, Gelo Fino” passa-se no Norte da China. Um polícia tenaz, o detective Zhang, investiga, ao longo de vários anos, uma série de horrendos assassínios em que as vítimas foram desmembradas e os pedaços dos corpos espalhados por toda a província em carregamentos de carvão. (Estreia: 11 de Dezembro).

“Trailer” – “Carvão Negro, Gelo Fino”

8. “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos” (Peter Jackson)

Quase 15 anos depois de ter começado a rodar a trilogia “O Senhor dos Anéis”, Peter Jackson termina a sua longa caminhada pela Terra Média criada por JRR Tolkien, com a terceira e última parte de “O Hobbit” (que inicialmente tinha apenas duas). É hora da batalha final para Bilbo Baggins e seus companheiros, a ser travada em duas frentes: contra o dragão Smaug e contra o exército de Orcs enviado por Sauron. Jackson recorreu aos apêndices de O Regresso do Rei que pormenorizam a história da Terra Média, para  enriquecer o enredo desta parte III, no que foi apoiado pela Tolkien Society. Dos três filmes de “O Hobbit”, este é o que está, em espírito e em aparato, mais próximo dos de “O Senhor dos Anéis”. (Estreia: 18 de Dezembro).

“Trailer” – “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos”

9. “O Pequeno Quinquin” (Bruno Dumont)

Originalmente rodado para o canal de televisão ARTE por Bruno Dumont, “O Pequeno Quinquin” é uma espécie de anti-policial naturalista dobrado de comédia negra, filmado na agreste região do Nord-Pas-de-Calais onde o cineasta nasceu e costuma ambientar os seus trabalhos. Nada corre como está convencionado: os polícias encarregados da investigação dos crimes são umas figuras ridículas e de uma incompetência abissal, os miúdos do grupo de amigos liderado pelo Quinquin do título são brutinhos e racistas, o enredo esquiva-se a uma solução e Dumont parece ter-se esmerado em escolher os actores (e não-actores) mais feios e grotescos que conseguiu encontrar. De fazer o inspector Maigret arrancar os cabelos em desespero. (Estreia: 25 de Dezembro).

“Trailer” – “O Pequeno Quinquin”

10. “Mr. Turner” (Mike Leigh)

Timothy Spall esteve dois anos a aprender a pintar e ganhou o Prémio de Melhor Actor no Festival de Cannes pela sua interpretação de um dos gigantes da pintura, o inglês J.M.W. Turner, em “Mr. Turner”, de Mike Leigh. O realizador de “Segredos e Mentiras” abandona as atmosferas contemporâneas dos seus últimos filmes e recua ao século XIX, mantendo o realismo rigoroso e coca-bichinhos do seu olhar, para seguir os últimos 15 anos da vida de Turner, detalhando o seu quotidiano, examinando a sua personalidade, desvendando a sua vida íntima e recriando as circunstâncias da criação de alguns dos quadros mais importantes do pintor, sem nunca lhe diminuir o talento nem apoucar o génio. Tudo pelo contrário. (Estreia: 25 de Dezembro).

“Trailer” – “Mr. Turner”