É capaz de enganar muita gente quando faz a voz de personalidades como Cavaco Silva ou José Mourinho. Mas Luís Franco-Bastos é muito mais do que um miúdo engraçado que imita vozes. O humorista termina em grande o ano de trabalho no Porto, com as apresentações do espetáculo “Roubo de Identidade”, esta quinta e sexta-feira, praticamente esgotadas. “Acredito que é o melhor espetáculo que já fiz desde que me estreei como humorista”, disse ao Observador. O texto e a imitação de vozes deste stand up comedy que tem esgotado várias salas vai chegar a outras cidades em 2015.

À meia-noite de 31 de dezembro para 1 de janeiro, Luís Franco-Bastos não vai pedir desejos. Tudo o que conseguiu até hoje deve-se ao talento e ao esforço, não a superstições. “Roubo de Identidade” é o terceiro espetáculo a solo do humorista de 26 anos, depois de “Papel Químico” (2009) e “Imposto Sobre o Humor Acrescentado” (2012). Apesar de já ter levado “Roubo de Identidade” ao Porto este ano, o regresso marcado para dia 19 de dezembro ao Teatro Sá da Bandeira esgotou um mês antes. Para a nova data, 18 de dezembro, ainda há alguns lugares, a 12 euros cada bilhete.

Encher salas “não assusta nada”, disse. “É recolher o fruto do trabalho. Nós, em Lisboa, por exemplo, já fizemos o ‘roubo’ quatro vezes, no caso do Porto vamos ter mais dois mil espetadores esta semana e espero que a tendência seja para aumentar”, contou.

Conhecido pelas imitações de voz que faz, seja de Cristiano Ronaldo, Jorge Jesus, Cavaco Silva ou do Stewie da série de animação Family Guy, “Roubo de Identidade” é na verdade um solo de stand up ao estilo americano, com uma pessoa ao microfone, em palco. Durante uma hora o público pode assistir a reproduções de sons e de personagens, mas também a truques vocais. “Uso o aparelho vocal ao serviço do material de stand up, desconstruo a linguagem das personagens, faço relatos das minhas viagens pessoais, reproduzo estereótipos dos habitantes desses países”.

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“Acredito que seja o melhor espetáculo que já fiz até hoje, desde que me estreei como humorista. Reúne uma quantidade de personagens e imitações muito grande, tem os melhores textos de stand up que eu já escrevi, tentei mesmo que numa hora tivesse o maior número de variedade possível”, disse Luís Franco-Bastos.

Em 2015, “Roubo de Identidade” vai andar por cidades portuguesas por onde ainda não passou. Também está prevista a saída de um DVD, gravado aquando do primeiro espetáculo no São Jorge, em março. Ao mesmo tempo, confirma que vai continuar a fazer o programa “Outra Coisa”, emitido pela Antena 3. Para 2016, o humorista quer um novo espetáculo e chegar ainda mais longe.

Desde que começou a trabalhar como humorista, aos 18 anos, as coisas mudaram. “Nos últimos três anos o meu trabalho teve uma explosão e reconhecimento maior. Ser residente numa rádio é importante e ajuda muito”, explicou. Uma das mudanças foi que as pessoas começaram a reparar no jovem humorista de forma diferente. Afinal, não era só “um miúdo engraçado que imitava umas vozes. Perceberam que não é simplesmente uma pessoa que faz imitações, mas sim que cria textos e conteúdos. As vozes são apenas um complemento ao fazer rir”. O sucesso resultou em mais responsabilidades (criou a própria empresa) e mais controlo sobre o processo criativo. “Senti a minha carreira a evoluir“, contou.

Na rua, as pessoas pedem-lhe “com regularidade” para imitar vozes. Mas o humorista não se importa. “Se as pessoas o fizerem numa abordagem tranquila e simpática, que é o que acontece em 99,9% das vezes“, acrescentou.

A criação da própria empresa, com manager, equipa de criação e de comunicação, é um espelho da expansão da arte. “Acho que [o humor nacional] está a viver um bom momento, nunca parou de crescer e melhorar. Cada vez há mais pessoas a fazer bem e interessante”, diz, lembrando que quanto mais pessoas fizerem o humor, mais o mercado se pode desenvolver.

A rádio tem percebido melhor a importância do humor. Nilton é presença assídua na rádio RFM, Ricardo Araújo Pereira foi a estrela de muitas manhãs na Rádio Comercial, com o programa “Mixórdia de Temáticas”. Por outro lado, a televisão portuguesa “é o espelho invertido dessa realidade”. E deixa a crítica:”Há pouca aposta em formatos originais de humor, só apostam em formatos que já estão saturados como os reality shows”.