Se perguntar a qualquer pessoa por adjetivos que descrevam a série televisiva Empire, as respostas não tardam a chegar e os elogios não param de chover. Glamoroso, brutal, empolgante, fenomenal, vibrante, magistral, inquietante, jovial.

Mas o melhor para a definir talvez seja imperial. Ao fim de três meses nas televisões americanas (acaba de ser emitido o último episódio da primeira série), a série criada por Lee Daniels e por Danny Strong conquistou o mundo pela sua marginalidade e exuberância.

Tudo roda em torno ‘Lucious Lyon’, um músico que começou marginal, se tornou um ícone e em cima dos seus sucessos musicais construiu um Império. Só que ter nas mãos uma empresa do ramo musical com estrelas dos ‘top’, uma família com múltiplos interesses, um passado de marginalidade que o persegue e uma doença degenerativa e fatal (ELA), obrigam-no a muitas decisões, crimes, e polémicas que acontecem em apenas três anos, o tempo que tem até se tornar inválido e incapaz de gerir o negócio.

E tudo gira em redor da passagem do testemunho: quem herdará o seu Império?

Um dos três filhos? Aos olhos de Lucious, nenhum dos herdeiros do império erguido entre os sons e sucessos do hip-hop e do rap tem capacidade para liderar a companhia. Hakeem, o mais novo, tem gosto pela música, mas não pelo trabalho. Os seus sucessos são tantos como as polémicas em seu redor, entre drogas e mulheres. Jamal é talentoso, mas é também homossexual, algo que o pai nunca tolerou desde que era criança. E Andre tem perspicácia para o negócio, mas falta-lhe personalidade e sobra-lhe ganância e ambição desmedida. A ingrata decisão que Lucious tem de tomar é adensada quando a sua ex-mulher Cookie renasce das cinzas, preparada a reivindicar uma compensação que o homem lhe deve.

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Cookie reaparece ao ser libertada da prisão após cumprir pena por assumir um crime de Lucious, mas o FBI quer tê-la como informadora. Volta para recuperar também os filhos, mas o mais novo renega-a e ela privilegia o sucesso e a diferença do homossexual. Torna-se central na trama de poderes em torno da indústria musical.   

E há ainda a atual companheira, que está ao lado de Lucious na doença, ninguém sabe se por amor ou por interesse. E os amigos que restam (um deles será assassinado logo no início pelo próprio Lucious) da infância marginal e criminosa, ligada ao tráfico de drogas.

Se já viu, sabe do que falamos. Se não, terá ficado com água na boca, certo? Pois bem, não foi o único. O sucesso da série está bem patente nos números:

Primeiro dia de ouro para uma série que vale diamante

O potencial da série ficou expresso logo no primeiro dia. Segundo o El País, a 7 de janeiro nos Estados Unidos, Empire foi visto por quase 10 milhões de pessoas. Mas mais do que consumida, a série foi absorvida pelo público: um crescimento de 80% nas audiências valeu a atenção de quase 17 milhões de americanos no último episódio, quarta-feira. Um público vasto e diverso, com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos, que puseram Empire à frente do êxito de Anatomia de Grey e da glória d’ A Teoria de Big Bang.

Empire é um fenómeno que embala

A banda sonora é uma das grandes responsáveis pelo sucesso da série. Timbaland é o autor dessa banda sonora, com músicas que invadiram iPods e computadores pelo planeta. Os temas de Empire entraram no Billboard200 dos discos mais vendidos. A Billboard informou que, entre 10 e 15 de março, o álbum vendeu 130 mil exemplares, destronando Madonna. Um fenómeno apenas equiparado a Glee, que em 2010 elevou três álbuns ao primeiro lugar da lista.

Incendiar as redes sociais

As redes sociais incendiaram-se perante a história ardente e impetuosa de Empire. Nas duas horas de transmissão do último episódio da série nos Estados Unidos da América, registaram-se 2.4 milhões de tweets e quase 16 milhões de gostos no Facebook. No Tumblr, os atores reinam as publicações, derrubando a série Scandal.

Um presente inspirado no passado

O El País avança que equipa por trás do sucesso de Empire admite ter-se inspirado em Dynasty e Dallas, que marcaram os anos oitenta. Destas séries, a equipa da FOX sorveu a trepidação dos acontecimentos e a complexidade dos sentimentos. Mas também a realidade serve de farol: a história retoma a clássica rivalidade entre a costa este e a costa oeste dos Estados Unidos da América, a perversidade dos vícios e a fome de poder.

Homofobia e racismo

Empire torna-se irreverente ao abordar as questões de género, a homofobia e o racismo. A certa altura da trama, Lucious diz ao filho do meio: “Já é suficientemente difícil crescer neste mundo como um homem negro, muito mais se se for homossexual”. Além disso, os personagens retratam o sucesso movido por uma ambição desmedida entre a população negra americana: “Às vezes é preciso estar disposto a sacrificar a tua rainha a fim de ganhar o jogo”, é uma máxima do protagonista.

A quem pertence Empire?

No entanto, é precipitado concluir que Empire fala sobre negros. Não parece ser a isso que resume a série, uma vez que um terço do público é composto por pessoas caucasianas. Segundo a Vulture, é uma série feita por negros que foi pensada para sublinhar as minorias. Lee Daniels, que esteve nomeado para um Óscar em 2009 pelo filme Precious, justifica a robustez de Empire com algo que tem vindo a cativar a sociedade: as estruturas familiares e os papéis que elas podem assumir, porque “as histórias sobre famílias são universais e funcionam muito bem em todo o mundo”.

Vestir de Empire

Se a música de Empire conquistou ouvidos pelo mundo inteiro, a moda também se deixou invadir pelas escolhas estilísticas da série. É o regresso da old school. À conta dos fatos costurados com primorosa perfeição de Lucious, os homens estão permitidos a arriscar nas cores: é preciso que o guarda-fatos esteja pronto para qualquer estado de espírito, desde o sombrio cinzento até ao elétrico azul. O filho talentoso e irresponsável, Hakeem, traz para a moda o excesso de acessórios, as peças largas e a descontração dos chapéus. E Cookie faz o estilo viajar até aos ritmos coreográficos dos anos 90.

Para onde sobe Empire?

A campanha de publicidade de comunicação da série foi também fundamental. Empire tornou-se o maior sucesso global da última década, com resultados semelhantes ao intocável Super Bowl. Para onde pode crescer uma série que já é transversal a toda sociedade? A opinião dos especialistas da indústria televisiva é de que a chave pode estar em conseguir a atenção de mais homens e de mais pessoas do universo latino. E já há planos para a segunda temporada. O destino das personagens ficou completamente suspenso no último episódio +. Os diretores não deixam cair nada, em entrevista à E!, mas deixam uma provocação: “Tudo o que podemos dizer é para voltarem, porque ainda não viram nada!”