Quando em abril foi divulgada a notícia de que David Machado tinha vencido o Prémio da União Europeia para a Literatura, o escritor português já andava a guardar o segredo desde janeiro. “Passei três meses a saber que tinha um livro distinguido e não podia contar a ninguém”, disse ao Observador, antes de viajar para Bruxelas, onde esta terça-feira vai receber o prémio.

David Machado estava descansado num centro comercial quando recebeu a chamada. “Fiquei assim um bocado sem jeito, no corredor do centro, nem sequer podia gritar ali”, recordou. Assegura que foi apanhado de surpresa quando soube que o livro Índice Médio de Felicidade tinha sido vencedor. “Não estava a contar porque isto é um prémio que cá em Portugal não tem muito impacto, e que só acontece de três em três anos para os escritores portugueses. É fácil esquecermo-nos dele”, disse.

Lá fora a história é diferente, como o escritor de 37 anos já pôde comprovar desde abril. “Tem imenso impacto. Nos primeiros dois meses já tivemos vários interesses de editoras no estrangeiro, quatro delas já concretizadas para França, Bulgária, Sérvia e Macedónia. Há outros em consideração”, contou. Uma das vantagens do Prémio da União Europeia para a Literatura é o apoio para traduzir as 12 obras vencedoras.

Os 12 escritores europeus vão participar numa cerimónia esta noite e cada um irá ler em voz alta um excerto do livro que o júri premiou. Este é o excerto que David Machado vai ler:

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©Andreia Reisinho Costa

A cada ano, entre 11 e 12 dos 34 países que participam no Programa Cultura selecionam “um jovem romancista que será laureado com o Prémio Europeu de Literatura”. Em 2009, Dulce Maria Cardoso foi a primeira escritora portuguesa a vencer o prémio, com a obra Os Meus Sentimentos. Em 2012, o escritor português Afonso Cruz foi igualmente distinguido, pelo livro A Boneca de Kokoschka.

Agora foi a vez de David Machado. Publicado em 2014 pela Dom Quixote, Índice Médio de Felicidade conta a história de Daniel, cujos planos para o futuro se veem abalados (mas não destruídos) pela crise e o desemprego. A decisão unânime de premiar o romance foi do júri composto por Elísio Maia, em representação dos livreiros portugueses, José Jorge Letria, em representação dos autores, e João Amaral, em representação dos editores.

“Não sei dizer exatamente o que é que distinguiu o meu livro de outros candidatos”, disse o escritor. “Gosto de pensar que antes de mais é a forma como eu conto a história e como apresento as personagens, o tema da adolescência, a esperança e o otimismo”.

Depois da cerimónia o trabalho continua, entre novos livros e uma novidade cinematográfica. “Em outubro vou publicar mais um livro infantil, ainda sem nome. Tenho um romance parado há meses e meses porque meteram-se várias outras coisas. A principal delas foi o guião para cinema do Índice Médio de Felicidade, escrito a meias com o Tiago R. Santos“, revelou. O filme vai começar a ser filmado “em breve” e conta com realização de Joaquim Leitão e produção de Tino Navarro.