A cena é icónica e memorável. Uma loira que mais tarde seria princesa aproxima-se de um homem que dormita numa cadeira de rodas. A câmara faz um grande plano da cara dela, ele abre os olhos estremunhados e sorri, perante aquela beleza que tem à frente. Os olhos azuis de Grace Kelly enchem quase todo o ecrã. Os olhos azuis dele, James Stewart, voltarão a ver-se daí a pouco.

É uma cena rara. Só 17% da população mundial tem olhos azuis. Que duas dessas pessoas se apaixonem, namorem e resolvam um caso de homicídio só n’ A Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock. Adrenalinas à parte, há cada vez mais gente a querer mudar a cor dos olhos, o que já é possível através de uma cirurgia a laser. Esse procedimento médico começou nos Estados Unidos, onde até algumas celebridades aderiram à moda. Foi também nesse país que surgiram os primeiros alertas: mudar cirurgicamente a cor dos olhos pode ser perigoso, levando a danos irreversíveis na visão e até à cegueira.

O aviso é agora subscrito pela Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, que em comunicado emitido esta segunda-feira diz que estas operações, “de caráter meramente estético”, podem levar à “redução irreversível da visão, pressão intraocular aumentada, glaucoma, catarata, lesão corneana, uveítes e inflamação intra-ocular”. Ora, uma “lesão da córnea pode levar à necessidade da realização dum transplante de córnea”, lembra a sociedade.

A mudança da cor dos olhos pode ser feita de duas formas: ou através da utilização de laser ou com a colocação de um implante na íris. Este segundo procedimento ainda não é permitido em Portugal, mas o primeiro é e consiste em reduzir a melanina responsável por os olhos serem castanhos. A melanina é um pigmento também existente na pele que ajuda a fazer a proteção contra os raios solares. Quanto mais melanina se elimina, mais os olhos passam de castanhos a azuis.

“É fundamental fazer a distinção entre estas cirurgias de outras realizadas através de laser, como é o caso das cirurgias para correção de erros refrativos, procedimentos seguros e amplamente estudados e realizados apenas por médicos oftalmologistas”, lembra a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.

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