Damos, poupamos e por vezes até queimamos algum. Muitos esforçam-se para o gerir, outros sonham viajar nele. Há momentos em que gostaríamos de o fazer parar. O tempo, dele se diz que tudo cura e também que não volta para trás. A dúvida subsiste num e noutro caso.

Mas há a certeza do inexorável e do mais democrático dos bens: diariamente todos temos um período igual de 24 horas para viver. Desde sempre, particularmente depois de Einstein, o tempo é uma grandeza relativa. Existe o tempo de quem está à espera e o de quem vai ao encontro. No prazer ele nunca chega, na dor parece que nunca mais acaba. Esta é uma breve história do tempo e da sua régua. O relógio como ícone da existência humana.

O primeiro dispositivo usado para medir o tempo foi criado pela civilização Suméria, cerca de 2000 a.C., e já recorria ao mesmo sistema sexagesimal que hoje utilizamos. Os Antigos Egípcios dividiam o dia em 12 períodos de uma hora e usavam a sombra dos obeliscos quando havia sol. Existiram relógios de incenso e de vela que mediam o tempo à medida que ardiam. Seguiram-se clepsidras, ampulhetas, relógios de pêndulo, de bolso e finalmente de pulso.

Não há consenso nem evidência científica quanto à autoria do primeiro relógio de pulso moderno. São várias as marcas que reclamam o mérito das suas patentes. No entanto, é sabido que a ideia surgiu da necessidade de consultar o relógio mantendo as mãos ocupadas. Nos finais do século XIX os relógios de bolso estavam no auge mas ver as horas era um processo lento, e além de um bolso ocupava uma mão. Consciente disto Alberto Santos-Dumont, pioneiro da aviação, pediu em 1904 ao seu amigo Louis Cartier que desenhasse um relógio para ver as horas enquanto pilotava. Assim nasceu um dos primeiros relógios de pulso.

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Muitos modelos ganharam fama e valor pelo simples facto de serem usados por estrelas como Paul Newman e Steve McQueen. No filme da saga 007 “Thunderball”, de 1965, James Bond usou um relógio equipado com um contador Geiger que o ajudou a encontrar duas ogivas nucleares roubadas. Depois das rodagens foi dado como desaparecido. Para espanto de muitos seguidores o relógio reapareceu em 2012, sem bracelete, numa feira de velharias. Foi comprado por 25 libras e mais tarde vendido num leilão da Christie’s por cerca de 104 mil libras. O colecionador nunca foi identificado.

Os automóveis e os relógios têm uma longa tradição de namoro. Os fabricantes de relojoaria eram em muitos casos os fornecedores dos instrumentos de medição. A ligação entre as marcas e a competição, primeiro por necessidade e mais tarde como estratégia de marketing mantém-se viva na atualidade. Hoje continuamos a ver relógios analógicos de marcas premiadas encastrados nos painéis dos automóveis de luxo.

A história dos relógios cruza-se com a da humanidade. Das revoluções científicas às guerras mundiais, do vôo transatlântico com Charles Lindbergh até aos primeiros passos na superfície da Lua com Buzz Aldrin, os relógios são tão icónicos quanto o papel que desempenharam.