O ministro da Cultura, João Soares, demitiu esta segunda-feira o presidente do Centro Cultural de Belém, António Lamas, e nomeou Elísio Summavielle para o substituir.

“O ministro da Cultura João Soares recebeu esta segunda-feira, 29 de fevereiro, à noite, no seu gabinete, o Professor António Lamas, a quem entregou cópia do despacho da sua exoneração do cargo de presidente do Centro Cultural de Belém”, refere em comunicado o Ministério da Cultura.

“O novo presidente do Centro Cultural de Belém será o Dr. Elísio Summavielle”, acrescenta o curto comunicado.

A divergência entre o ministério da Cultura e o presidente do Centro Cultural de Belém (CCB) já havia sido tornada pública, quando o Executivo decidiu extinguir a Estrutura de Missão da Estratégia Integrada de Belém de que António Lamas era responsável. O eixo Belém-Ajuda, nome pelo qual também era conhecido o plano estratégico, foi criado pelo Governo de Pedro Passos Coelho para ajudar a impulsionar aquela zona de Lisboa, uma iniciativa que então foi coordenada com o então presidente da Câmara, António Costa.

Depois de o atual Governo socialista ter decidido interromper o plano, considerado por João Soares “um disparate total”, o ministro da Cultura disse em entrevista ao jornal Expresso que esperava que o presidente do CCB tirasse daí “as devidas consequências”. O ministério esperava que António Lamas saísse pelo seu próprio pé, mas em jeito de resposta ao ministro, o professor catedrático do Instituto Superior Técnico disse ao jornal Público que a demissão “não estava na sua natureza”.

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Lamas, o professor. Summavielle, o maçon

António Lamas, formado em Engenharia Civil e em Engenharia Estrutural, teve uma longa carreira em importantes cargos públicos. Antes de liderar o CCB foi presidente do antigo Instituto Português do Património Cultural, da Junta Autónoma das Estradas (a convite de João Cravinho) e, mais recentemente, da empresa pública Parques de Sintra-Monte da Lua. Neste último cargo esteve durante três mandatos, período durante o qual recuperou o património monumental da zona de Sintra, utilizando apenas receitas próprias e conseguindo sanear uma empresa que estava quase falida antes da sua gestão, que se iniciou em 2006 e durou até 2014.

O seu sucessor, Elísio Summavielle nasceu em 1956. É licenciado em História (1980) pela Universidade Clássica de Lisboa e Técnico Superior da Administração Pública. Ao longo dos 32 anos que leva de serviço público já desempenhou vários cargos dirigentes. Foi chefe da Divisão de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa e administrador delegado da autarquia na Sociedade “Lisboa-94, Capital Europeia da Cultura”, gubdirector geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e presidente do ex-IPPAR e do ex-IGESPAR.

Elísio Summavielle, que é um maçon assumido, foi secretário de Estado da Cultura no segundo governo de José Sócrates, onde foi adjunto da ex-ministra Gabriela Canavilhas e até 2012 foi diretor-geral do Património Cultural, cargo para o qual foi convidado pelo então secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas. Na altura até se especulou que esse convite tinha a ver com o facto de ambos – Viegas e Summavielle – serem maçons. Certo é que quando o escritor deixou o Governo por razões de saúde, o militante socialista também pediu a demissão do cargo. Mais recentemente apoiou a candidatura de António Nóvoa à Presidência da República.

“Alguém com experiência, bastante mais jovem, com provas dadas, nomeadamente ao nível das responsabilidades públicas”, disse João Soares sobre o novo presidente do CCB citado pelo Expresso. Elísio Summavielle, de 59 anos, é uma escolha da confiança pessoal do ministro, de quem era adjunto no Palácio da Ajuda, sede do Ministério da Cultura.