O post foi escrito num “momento de fúria”, depois de Catarina Portas ter recebido a fotografia do anúncio da abertura de um McDonald’s em pleno Chiado. Depois das notícias do encerramento das discotecas Jamaica, Tokyo e Europa, depois de o tema do turismo em Lisboa voltar às notícias, a empresária e membro do conselho consultivo do programa da Câmara Municipal de Lisboa Lojas com História, decidiu mostrar a sua indignação na sua página de Facebook, com muita ironia:

Como me acontece quase todas as semanas fui contactada para dar umas sugestões para uma revista destinada a turistas em Lisboa. A partir de agora é isto que vou responder a este tipo de inquéritos:

Cara xxxxx,

Aqui vai a minha resposta que talvez não seja bem o que queria mas é o que o que a minha consciência neste momento de fúria me dita.

O que eu gostaria de recomendar:

Restaurante Palmeira (fechou em novembro para dar lugar a um projecto de alojamento turístico);
Mercearia Alves (em processo de despejo para dar lugar a um projecto “que ainda não sabemos bem o que será” mas aposto que acabará em alojamento turístico);
Loja da Fábrica de Sant’Anna (em processo de despejo para a construção de um hotel);
Jamaica ( em processo de despejo para dar lugar a um hotel);

Como quando sair a revista nenhum destes espaços deve existir, sugiro então:

Mcdonald’s Chiado ( a abrir em frente à Brasileira);
Starbucks da estação do Rossio;
E para comprar souvenirs talvez a Zara (ou qualquer outra loja do grupo Inditex que ocupa metade da artéria comercial mais chic de Lisboa, a Rua Garrett) ou as lojas falsas de bangladeshis na baixa de Lisboa que vendem belíssimas recordações feitas na China (na realidade são um negócio de imigração ilegal);
Ah, e não se esqueçam de comprar azulejos antigos roubados na feira da ladra até eles desaparecerem das fachadas dos prédios de Lisboa que acham tão típicos.

Se o turismo serve para destruir a cidade que eu amo, então gozem as suas consequências. Só não sei porque não ficaram em casa – de certeza que tb têm lá muito disto.

Qualquer questão ou dúvida sobre isto, pode ligar-me.

Obrigada

Catarina Portas

Em declarações ao Observador, Catarina Portas começou por ressalvar que é dona de uma loja “em que mais da metade da faturação é feita por turistas”. Por isso sublinha:

“Eu quero o turismo, mas não quero o turismo a qualquer preço. E com esta política estamos a comprometer também o turismo”.

A dona da loja A Vida Portuguesa tece duras críticas à autarquia: “A câmara de Lisboa está a prosseguir uma prática que me parece suicida e acho que assim vão matar a galinha dos ovos de ouro (…) Eu percebo que é importante recuperar o edificado, mas isto não pode ser feito comprometendo a identidade da cidade.”

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Catarina Portas não percebe como é que, por um lado, a autarquia retomou o projeto das Lojas com História e, por outro, “está a licenciar todo e qualquer projeto que implique a destruição destas lojas”.

E quanto ao McDonald’s em particular, pergunta: “Já há um McDonalds no Rossio, outro nos Armazéns do Chiado, temos mesmo de ter outro em frente à Brasileira? Num dos locais mais emblemáticos da cidade? É isso que queremos?”

Esta quinta-feira, Catarina Portas tinha mostrado uma fotografia do anúncio da abertura do restaurante de fast food no Chiado com o título: “NOJO”.

Captura de ecrã 2016-03-11, às 12.18.51