As mulheres portuguesas trabalham, em média, mais duas horas por dia em tarefas domésticas ou a cuidar de alguém da família, do que os homens. Esta é uma das conclusões do primeiro Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e de Mulheres, que apontou para a existência de desigualdades domésticas baseadas no género.

O inquérito do CESIS (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego), que ouviu 10.146 habitantes portugueses, concluiu ainda que sete em cada dez mulheres consideram justo o trabalho doméstico que desenvolvem, embora este seja superior ao tempo gasto pelos homens para as mesmas tarefas.

As mulheres portuguesas passam, em média, 3h06 em tarefas domésticas e outras 3h06 a prestar cuidados a crianças ou outros membros da família. Em média, o trabalho não remunerado consome cerca de 6h12 do dia de uma mulher. Já no caso do homem, a soma entre as duas prestações, trabalhos domésticos e assistência à família, representa um pouco mais de quatro horas (04h08). Eles dedicam 1h54 a tarefas domésticas diariamente e 2h14 à prestação de cuidados a crianças ou outros membros familiares. Na soma, as mulheres dedicam mais 2h04 a trabalho não remunerado do que os homens, em média.

Também em trabalho remunerado existem diferenças entre género, embora a tendência se inverta. Neste parâmetro, as mulheres, ao todo, utilizam 8h35 diárias para realizarem trabalho pago, enquanto os homens passam, em média 9h02 diárias a trabalharem para obter uma remuneração.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Somados estes dois parâmetros, a mulher trabalha, por dia, mais 1h13 do que os homens.

Elas na cozinha, eles nas compras e a pagar contas

De entre as tarefas domésticas rotineiras, 74,3% das mulheres afirmavam que dedicavam uma hora ou mais de cada dia a preparar refeições enquanto apenas 22,8% dos homens admitiu despender do mesmo tempo para a confeção de refeições.

35,9% das mulheres também afirmou que gastava diariamente uma hora para limpar a casa, enquanto apenas 7,4% dos homens admitiu fazer o mesmo e 10,5% das mulheres disse que passavam, em média, uma hora a cuidar da roupa – contra 1,4% dos homens.

O estudo mostra que os homens dedicam mais tempo do seu dia a fazer compras, a pagar contas, a renda de casa, seguros e a fazer reparações domésticas.

Os autores do estudo concluíram que os resultados obtidos mostram que, por vezes, o nascimento de um filho reforça as assimetrias de género no casal.

“Na prática, é à mãe que cabe tipicamente a incumbência de assegurar o bem-estar da criança nos primeiros meses de vida, enquanto o pai, se presente, cumpre o papel de provedor económico a par de uma função auxiliar no que toca a cuidados físicos ou emocionais”, salientam os autores do estudo.

Tempo livre

O estudo mostra ainda que 39,4% das mulheres subscreveu a afirmação “Na minha vida do dia-a-dia, raramente tenho tempo para fazer as coisas de que realmente gosto”, enquanto apenas 30,2% dos homens afirmaram o mesmo, informa o Público.

Heloísa Perista, investigadora principal do estudo sublinha que as “mulheres abdicam muito mais do que os homens do tempo para si próprias e, portanto, deixam de fazer coisas que também lhes dariam gratificação, seja sentar-se no sofá a ler um livro ou fazer jardinagem, e projetam-nas para um futuro longínquo”.