A economia portuguesa começou a acelerar e cresceu 0,8% no terceiro trimestre, face ao trimestre anterior. É o melhor desempenho trimestral desde, pelo menos, o terceiro trimestre de 2014, e ficou acima das previsões dos analistas. Em comparação com o mesmo período de 2015, o produto interno bruto (PIB) cresceu 1,6%, um resultado muito acima do verificado este ano, avança esta terça-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Depois de vários trimestres com taxas de crescimento residuais, a economia portuguesa voltou a acelerar. A razão, segundo o INE, é um aumento das exportações mais expressivo que aquele verificado nas importações.
O consumo privado também deu uma ‘perninha’, mas em menor dimensão, graças a um aumento das compras de bens não duradouros e serviços, enquanto que a venda de bens duradouros desacelerou, o que ajuda a manter as importações a crescer menos que as exportações neste período. Uma parte importante dos bens duradouros tem uma componente importada (como por exemplo, os automóveis).
Em termos homólogos, a economia cresceu 1,6% no terceiro trimestre do ano, o melhor registo desde o terceiro trimestre de 2015, altura em que crescia ao mesmo ritmo. Nos dois primeiros trimestres deste ano o PIB estava a crescer abaixo de 1%.
Estes números revelam-se mais positivos que os esperados por analistas. Economistas contactados pela Agência Lusa esperavam um crescimento igual ao do trimestre anterior, à volta dos 0,3% (contas trimestre a trimestre). Na mais otimista das previsões, apontava-se um crescimento de 0,5% entre julho e setembro, quando acabou por ser de 0,8%.
O fraco desempenho da economia na primeira metade do ano levou o Governo a rever em baixa a sua previsão para o crescimento económico para 2016 de 1,8% para 1,2%. Ainda assim, o Executivo de António Costa continua a ser o mais otimista, a par da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
As previsões mais recentes da Comissão Europeia, divulgadas na semana passada, são também as mais pessimistas. Nas contas de Bruxelas, a economia portuguesa só deverá crescer 0,9% este ano, o que, a verificar-se, representaria metade do esperado no início do ano pelo Governo.
Recorde-se que no início do ano foram várias as instituições que consideraram as previsões do Governo como otimistas, apontando especialmente as projeções para o impacto da conjuntura externa, que se degradava, como um fator de risco importante e que poderia colocar em causa as metas.
A instituição mais pessimista era o FMI que esperava que a economia crescesse apenas 1,4%, menos que os 1,5% que na altura se pensava que a economia tinha crescido em 2015 (valor foi revisto para 1,6%). Esta previsão foi muito criticada pelo Governo e pelo PS, que atacaram o FMI por não ter em conta o impacto no consumo privado das medidas entretanto adotadas que davam maior rendimento às famílias, como a devolução dos salários aos funcionários públicos e a redução da sobretaxa de IRS.
No final de contas, a previsão foi revista precisamente devido a uma mais fraca procura interna porque o investimento esteve longe de responder como o Governo esperava.
Governo não está surpreendido
Se o crescimento foi superior ao esperado pelos economistas, o Governo diz que não foi surpreendido. Em comunicado, o gabinete de Mário Centeno reagiu aos números dizendo que os dados “não surpreendem”, citando indicadores de confiança e coincidentes que têm apontado para uma melhoria da atividade económica, e diz que estes novos números vão obrigar algumas instituições internacionais a reverem em alta as suas projeções.
Por comparação com a área do euro, onde o crescimento médio foi de 0,3%, apraz-nos registar que Portugal foi o país que exibiu não só o maior crescimento económico, mas, também, a maior aceleração. A incorporação destes dados nas previsões para a economia portuguesa implicará uma revisão em alta dos últimos números divulgados por várias instituições
Esta referência surge uma semana depois de o Governo ter atacado as previsões de inverno da Comissão Europeia, que reviu em baixa o crescimento económico português este ano de 1,5% para 0,9%. As previsões foram criticadas pelo Governo, que disse que não só faziam sentido, como também que em breve a Comissão ia ter de mudar essas previsões, para melhor, expressando confiança nos seus próprios números.
O Governo diz ainda que as políticas orçamentais que adotou e a estabilidade política do atual acordo parlamentar têm promovido a economia junto de trabalhadores e empresários, e justifica os ganhos com a melhoria das exportações, como diz o INE, e a evolução melhor que a esperada do mercado de trabalho.