A Sombra do Mar, do poeta Armando Silva Carvalho, é o vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa 2017. O anúncio foi feito por Almeida Faria, esta quarta-feira, na sessão oficial de abertura da 18.ª edição do festival literário Correntes d’Escritas.

Publicado em 2015 pela Assírio & Alvim, A Sombra do Mar já tinha valido a Armando Silva Carvalho o Prémio Literário Fundação Inês de Castro, o Grande Prémio de Poesia APE, o Prémio PEN Clube e o Prémio Autores SPA/RTP.

O Júri, constituído por Almeida Faria, Ana Gabriela Macedo, Carlos Quiroga, Inês Pedrosa e Isaque Ferreira, referiu, em comunicado, que A Sombra do Mar traz “um conjunto de poemas formando um corpo orgânico de grande unidade estilística e temática, no qual as alusões ao mar e à água constitui um Leitmotiv que percorre todo o livro em sucessivas variações: água ‘criteriosa e diária’, ‘água arrepiada’, ‘águas sobreviventes'”, entre outras referências.

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“Água e sombra são as palavras-chave de um percurso reflexivo capaz de unir a prosa do mundo” à mais alta expressão lírica de poesia contemporânea em língua portuguesa.” Exemplo disso é este excerto, do poema “A Água”:

Devagar vou beijando esta água que esplandece nas veias arqueadas,
pontas de fogo nas mãos,
relevos de outros luxos vulcânicos,
hoje regatos de pedra, testamentos, no silencioso acordar
da casa adormecida.

Estou só entre estas mãos, a água e o meu passado.
Gostava que a idade fosse o espelho
que convertesse a água num filme recuperado,
e os actores de riso mudo corressem
ao entendimento de heraclito.

O vencedor do Prémio Casino da Póvoa distingue todos os anos uma obra publicada em Portugal (1ª edição), editada nos últimos dois anos e meio, escrita por autores de língua portuguesa ou castelhana. Para além do prestígio, o prémio tem o valor pecuniário de 20 mil euros. O júri já tinha escolhido oito finalistas entre os mais de 70 livros de poesia a concurso. António Carlos Cortez (Animais Feridos), Paulo José Miranda (Auto-retratos), Daniel Jonas (Bisonte), Nuno Júdice (O fruto da gramática), Miguel-Manso (Persianas), Filipa Leal (Vem à Quinta-Feira) e o ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes (Outro Ulisses regressa a casa) eram os outros sete finalistas.

Armando Silva Carvalho nasceu em 1938, em Óbidos. Licenciado em Direito, frequentou também tendo o curso de Filosofia da Faculdade de Letras. Colaborou com o Colóquio/Letras, Jornal de Letras, Diário de Notícias e traduziu obras de Becket, Aimé Cesaire, Jean Genet, Marguerite Duras, entre outros autores. Lírica Consumível, a primeira obra que publicou, em 1965, foi distinguida com o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores.

No ano passado, também foi uma obra publicada pela Assírio & Alvim a vencedora, desta vez um romance: As Leis da Fronteira, do espanhol Javier Cercas.