83 escritores de 13 nacionalidades vão passar pela Póvoa de Varzim, entre os dias 21 e 25 de fevereiro, para participarem na maioridade do Correntes d’Escritas. A 18.ª edição deste festival literário vai ter debates, lançamentos de livros, sessões de poesia, passeios literários e a presença de escritores como Hélia Correia, Valter Hugo Mãe, Marina Perezagua, João Tordo, David Machado, Clara Ferreira Alves, Ignacio del Valle, Karla Suárez, Juan Gabriel Vásquez e Alberto Barrera Tyszka.
Talvez o mundo assim o exija neste momento: muitos dos livros que vão ser apresentados no Correntes d’Escritas baseiam-se em factos histórico-políticos. Da espanhola Marina Perezagua, por exemplo, chegou-nos em outubro Yoro (Esinore), que parte do momento em que a primeira bomba atómica foi usada como arma contra outro país, em 1945, e continua pelo caos do pós-Segunda Guerra Mundial. A autora vai apresentar a obra na quarta-feira, às 19h30, no Cine-Teatro Garrett.
O venezuelano Alberto Barrera Tyszka, que já escreveu uma biografia sobre Hugo Chávez, vai apresentar, na Póvoa de Varzim, Pátria ou Morte (Porto Editora), um retrato do momento conturbado que se viveu na Venezuela quando o presidente morreu de doença, em 2013. A incerteza continua, as dificuldades também. Parte desse caos pode ser melhor compreendido neste romance, que será apresentado na quarta-feira, às 17h, no Cine-Teatro Garrett.
O colombiano Juan Gabriel Vásquez traz o mais recente romance, A Forma das Ruínas, (Alfaguara), que começa com a tentativa de roubo num museu do traje de Jorge Eleiécer Gaitán, líder político assassinado em Bogotá em 1948, em plena guerra do Estado colombiano com os narcotraficantes. Já a cubana Karla Suárez dedica o seu novo romance a um tema que é próximo dos portugueses. Um lugar chamado Angola (Porto Editora) narra o impacto que a participação de Cuba na guerra em Angola teve nos cubanos nascidos sob o signo da Revolução.
Saindo da América Latina, a autora portuguesa Júlia Nery vai apresentar, na quinta-feira, às 19h30, Ei-los que Partem (Sextante Editora), que fala sobre a mais recente vaga de emigração portuguesa, apelidada por alguns de “fuga de cérebros”. Júlia Nery conta a história de um grupo de amigos que, depois dos estudos, saem de Portugal forçados pela necessidade de encontrar trabalho e realização profissional e se espalham pelo mundo para construir uma vida, sozinhos ou a dois.
Já com o seu mais recente romance, Céus Negros (Porto Editora), Ignacio del Valle recupera uma ferida ainda aberta em Espanha: as crianças roubadas durante o Franquismo, a pais dissidentes. Nesta história, passada em 1950, Arturo Andrade é chamado a investigar o misterioso assassinato de uma criança em Pueblo Adentro, uma aldeia a poucos quilómetros de Badajoz, a sua cidade natal, e centro da resistência anarquista da Extremadura. Venceu o Prémio da Crítica das Astúrias.
O Convidador de Pirilampos, de Ondjaki e António Jorge Gonçalves (Caminho) e O Livro Sagrado da Factologia, de Rui Zink (Teodolito), A Obsessão da Portugalidade, de Onésimo Teotónio Almeida, A Flor Amarela, de Anabela Mota Ribeiro, e Coração Mais que Perfeito, de Sérgio Godinho (os últimos três da Quetzal) são outros dos livros que vão ter os autores presentes, para responder a dúvidas e, quem sabe, darem um autógrafo.
Conversas, eventos e textos originais dedicados à Póvoa
A Sessão Oficial de Abertura do Correntes está marcada para quarta-feira, 22 de fevereiro, momento em que serão anunciados os vencedores dos Prémios Literários 2017 (Luís Castro Mendes, Ministro da Cultura, é um dos finalistas). Umas horas antes, às 15h30, no Cine-Teatro Garrett, Francisco Pinto Balsemão protagoniza a sessão de abertura, com o tema “Os Media (ainda) são necessários?”
O verso “e as insistentes palavras parecem desistir enquanto avançam”, retirado d’A Sombra do Mar, de Armando Silva Carvalho, é o tema da primeira Mesa, quarta-feira às 17h30, na qual se vão reunir Eugénio Lisboa, Hélia Correia, Ignácio de Loyola Brandão, Mário Cláudio e Valter Hugo Mãe, moderada por José Carlos de Vasconcelos.
Dado o mote para cinco dias de debates e conversas abertos ao público, seguimos para o verso “Nós só jogamos com as palavras que nos deram”, d’Outro Ulisses regressa a casa, do atual Ministro da Cultura, foram os selecionados para debater a frase, quinta-feira, às 10h. A Mesa 7, às 17h30, vai reunir João de Melo, Miguel-Manso, Ondjaki e Sérgio Godinho para debaterem um verso de António Carlos Cortez, em Animais Feridos: “apenas a certeza de que nenhum verso salvará ninguém”. A moderação estará a cargo de Anabela Mota Ribeiro.
A última mesa vai ser em Lisboa, em mais um alargamento do Correntes a Lisboa. A sessão está marcada para segunda-feira, às 18h, no Instituto Cervantes, e terá como tema “escrevo nomeando tudo e tudo transcende o nome que tem”, verso retirado de Persianas, de Miguel-Manso. Os autores convidados para esta iniciativa são Alberto Barrera Tyszka, Claudia Piñeiro, Jordi Llobregat, Ondjaki e Teolinda Gersão.
A 18ª edição conta com uma grande novidade, intitulada “D’Escritas 1 Dia”. Este novo projeto reunirá grupos de 4 autores que, em conjunto, durante um dia, irão passear por diferentes espaços da cidade, com o objetivo de criarem textos de temática poveira, a serem posteriormente publicados.
De regresso está a tenda situada em frente do Cine-Teatro Garrett, que promete ter bastante movimento graças aos milhares de livros lá dentro. “São cerca de 20 mil”, garantia o ano passado a Papelaria Locus ao Observador. É nessa Feira do Livro que os visitantes podem encontrar, sobretudo, as obras dos autores presentes, embora também haja outros escritores representados nas prateleiras. Os saldos podem chegar aos 50%.
Outro regresso, o do fotógrafo Alfredo Cunha. Em “Estúdio de Luz Natural”, o fotojornalista que tirou algumas das fotos mais icónicas do 25 de Abril vai fotografar os autores convidados, num estúdio montado no Cine-Teatro Garrett.