O comunicado da Paróquia da Nossa Senhora do Monte, enviado pela sociedade de advogados Abreu Advogados, em conjunto com a Diocese de Faro, é claro: os terrenos onde estava a árvore que caiu e matou 13 pessoas no Largo da Fonte, no Funchal, não lhe pertencem. Dizem mesmo que ficaram surpreendidos com “as declarações e publicações que afirmam que a parcela do terreno (…) é da propriedade da Fábrica da Igreja Paroquial do Monte.

“A parcela em questão não está registada nem fiscalmente inscrita, nem referenciada no cadastro, a favor daquela entidade paroquial e desde tempos imemoriais é acesso livre e público a todas as pessoas.”

Refere-se ainda que nunca a Paróquia foi notificada por entidades ou pessoas “para qualquer situação referente àquela parcela de terreno, nomeadamente no que respeita ao cuidado a ter quanto às árvores aí existentes” e que sempre foram os serviços camarários que cuidaram do terreno.

Na quarta-feira foram divulgados documentos datados de 1956 que mostravam um mapa que delimitava os terrenos que compõem o Largo da Fonte. E nesse mapa, que o Observador também divulgou ontem, o terreno onde estava implantado o carvalho que caiu seria da pertença da Fábrica da Igreja.

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O escritório de advogados diz que a autarquia lhes enviou estes documentos, mas não os dão como totalmente válidos. “Esses documentos devem ser analisados com o rigor necessário e confrontados com outros documentos, deliberações camarárias e acordos estabelecidos para atestar da sua validade, âmbito e eficácia”, refere o comunicado, dando a entender que tem na sua posse outra documentação que pode de alguma forma atestar que aqueles terrenos não são pertença da Igreja.

Padre do Monte não celebrou missa

Desde o dia da tragédia no Largo da Fonte, no Funchal, que os jornalistas tentam chegar à fala com o padre Giselo Andrade, que na terça-feira estava dentro da Igreja de Nossa Senhora do Monte quando a árvore caiu no Largo onde centenas de fiéis aguardavam a saída da procissão. Giselo Andrade não mais se viu mas, estando marcada para esta quinta-feira, às 18h00, uma missa, seria de esperar que fosse o padre a celebrar a eucaristia. Tal não sucedeu. Foi um outro pároco que presidiu à liturgia a que assistiram cerca de 40 pessoas.

Uma missa como tantas outras, durante a qual não foi feita uma única referência à tragédia de terça-feira. Ainda tentámos contactar o padre que celebrou a missa, mas tal não foi possível. Fonte da paróquia afirmou ao Observador que o padre não vai prestar qualquer declaração aos jornalistas. Para esta sexta-feira estão marcados os primeiros três funerais, sendo que um deles será realizado na Igreja de Nossa Senhora do Monte.

Os funerais serão inteiramente suportados pela autarquia, como ficou decidido esta manhã.

“Assumiremos todas as responsabilidades”

“Tudo faremos, porque as vítimas assim o merecem, para apurar a verdade e reforço que a Câmara Municipal do Funchal assumirá todas as responsabilidades que tiver de assumir, após a averiguação destes factos, após a peritagem e após a condução de todo o processo pelo Ministério Público”, afirmou ao início da tarde Paulo Cafôfo, presidente da autarquia funchalense.

Cafôfo fez questão de frisar que foi a autarquia que pediu ao Instituto Superior de Agronomia a peritagem ao carvalho, logo no dia do acidente. Os peritos chegaram na quarta-feira a meio da manhã, esta quinta-feira estiveram todo o dia no terreno e já recolheram amostras dos terrenos e das árvores que serão depois analisados. Só aí poderão existir conclusões quanto ao estado das árvores. Conclusões que serão enviadas depois ao Ministério Público que abriu um inquérito ao sucedido.

Em relação aos avisos que foram chegando à autarquia ao longo dos anos, o autarca voltou a frisar que esses alertas eram referentes aos plátanos e não ao carvalho que caiu. “Aparentemente, aquele carvalho não tinha qualquer anomalia, não havia qualquer registo ou sinalização, mas é um facto que caiu.”

“Tenho medo de estar aqui, estou sempre a olhar para cima”