“Nasci há 28 anos no Porto, mas foi em Lisboa que desenvolvi a Uniplaces, uma plataforma que ajuda os estudantes a encontrarem o melhor alojamento nas cidades onde estudam.
Também eu estudei fora durante algum tempo e em locais diversos e sei que o alojamento é uma das maiores barreiras à nossa mobilidade nessa fase da vida. Ao olhar para o mercado com um grupo de amigos identificámos esta necessidade e desenvolvemos a ideia da empresa. Cerca de cinco anos depois estamos a operar em Portugal, Espanha, Itália, Alemanha e Inglaterra e a equacionar a entrada em força em França.
Se sou um jovem de sucesso? Não sei se já posso falar em sucesso, num sentido mais absoluto do termo. Até porque não é de fácil definição. Na realidade, acredito sobretudo no talento. E continuo a acreditar na frase que diz que “sucesso é 1% de imaginação e 99% de transpiração”. Sei que para conseguir chegar a qualquer lado, é preciso muito trabalho.
Por exemplo, aqui na Uniplaces procuramos definir o sucesso de uma reunião, mais do que de uma agenda. Perceber o que é necessário para que ambas as partes fiquem satisfeitas. Até porque a ideia de sucesso, só por si, é variável. A sua definição pode mudar ao longo da vida, já que depende da definição de um plano (de curto, médio ou longo prazo) que também pode mudar. O importante é manter a mente aberta e perceber que aquilo que defino como sucesso hoje pode mudar no próximo ano.
Ao longo da minha vida – que ainda é relativamente curta – procurei diversos mentores, quer a nível profissional, quer a nível pessoal. Tento aprender com os meus pais, com as pessoas mais velhas com quem me cruzo e através da leitura de biografias de grandes figuras da história. Leio-as desde pequeno e funcionam não só como catalisadores, como se mostram determinantes quando preciso de tomar decisões pessoais e profissionais.
Da mesma forma, procuro passar o meu conhecimento e experiência. Faço parte de associações como a Global Shapers Lisbon Hub, uma comunidade criada em 2013, na sequência do Fórum Económico Mundial e que tem como objetivo recrutar jovens líderes de diferentes áreas da sociedade portuguesa. Este é um meio de partilharmos não só os desafios e obstáculos encontrados, como os sucessos. É uma forma de nos apoiarmos uns aos outros, que procuramos refletir nos projetos que desenvolvemos na empresa e de acordo com os nossos quatro valores: confiança, paixão, impacto e colaboração.
Trabalhei durante muito tempo em empreendedorismo social e sei que a colaboração e cooperação são muito importantes. Por isso, criámos a Bolsa de alojamento como uma forma dos próprios estudantes se ajudarem. Através do site contam a sua história e relatam episódios onde demonstram que têm sido generosos e altruístas. Quem tiver mais votos ganha uma bolsa para pagar a renda durante um semestre. É um projeto muito ligado à missão da empresa.
Concretizar ideias e equilibrar a vida
Há muitas maneiras de se chegar ao mesmo objetivo, não há uma fórmula única. No entanto, partimos todos – nós, as empresas, as startups – do mesmo pressuposto, que é a ideia de fim: todos vamos morrer. O que importa é saber o que fazemos até lá chegar. Talvez por isso, e inspirado pelas biografias que gosto de ler, queria deixar um legado. Gostava de chegar ao fim da minha vida e olhar para trás sem arrependimentos. Tento evitar arrepender-me. E isso passa por fazer, por concretizar. Já percebi que, nos nossos “vintes”, arrependemo-nos mais do que não fazemos.
Ao encontrar boas ideias e processos que funcionam penso sempre como posso fazer fast-track destes e não seguir o caminho tradicional: como chegar mais rápido, fazer diferente e fazer melhor. Sou muito competitivo e o facto de ter feito desporto desenvolveu esta minha característica. Por outro lado, os riscos que corro hoje são mais ponderados do que há um ano. Casei-me e há outros fatores a considerar.
Entre o equilíbrio e a velocidade
Antigamente queria ser-se rico, hoje não se quer ser pobre. É muito diferente. Queremos acima de tudo viver e viajar. Dantes não se viajava tanto, trabalhavam-se dez anos para depois comprar uma casa e, a seguir, um carro. Os tempos estão tão diferentes que, quando iniciámos a Uniplaces em 2012, em Portugal não havia Airbnb, Uber, WhatsApp, Instagram ou Snapchat…
Tenho consciência de que sou um millennial e que tenho um contexto histórico específico. A nossa geração trabalha mais para viver do que viver para trabalhar. As gerações anteriores agiam segundo a máxima “to cook good food, you have to try good food” [para cozinhar boa comida, tens de provar boa comida]. Acredito que não precisamos de viver 40 anos para fazer qualquer coisa bem. Somos mais autodidatas e achamos que conseguimos aprender rápido, porque também consumimos informação de forma muito rápida. Mas, é claro que há sempre duas faces da mesma moeda. Podem dizer que, se consumimos demasiado depressa, não damos valor às coisas. Ou que, se temos sucesso mais rapidamente lhe damos menos importância. Eu acho que valorizamos mais as pequenas vitórias e, por outro lado, desistimos mais rápido se não conseguirmos que funcione. Queremos viver o hoje. Se não correr bem, amanhã mudamos.”*
*Testemunho construído a partir de uma entrevista presencial
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