Tantos anos depois, voltámos a ficar com o Guedes na cabeça (e não foi o Gonçalo, embora o avançado que alinha hoje no Valencia esteja num brutal momento). E também por um epic fail. Tipo este, mas com bola.

O Rio Ave tinha sido melhor ao longo de todo o jogo, bateu o seu recorde de remates na Primeira Liga, teve mais bola, mais do dobro dos cantos, mas viu sempre em Rui Patrício um obstáculo intransponível. Na única vez em que não podia fazer nada, Guedes, sozinho na pequena área, atirou por cima (e um parênteses para dizer que, por tudo o que trabalhou e desgastou a defesa leonina, não merecia). Estávamos no 84.º minuto. No minuto seguinte, Bas Dost conseguiu enquadrar o único remate com a baliza. Marcou. E decidiu o jogo. Apenas num parágrafo conseguimos resumir o que se passou em campo. De forma tão crua como o resultado.

Ficha de jogo

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Rio Ave-Sporting, 0-1

10.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Rio Ave, em Vila do Conde

Árbitro: Jorge Sousa (AF Porto)

Rio Ave: Cássio; Lionn, Marcelo, Nélson Monte, Yuri Ribeiro (Karamanos, 88′); Pelé, Tarantini; Barreto (Yazalde, 76′), João Novais (Nuno Santos, 72′), Rúben Ribeiro e Guedes

Suplentes não utilizados: Rui Vieira, Nadjack, Pedro Moreira e Leandrinho

Treinador: Miguel Cardoso

Sporting: Rui Patrício; Piccini, Coates, Mathieu (André Pinto, 29′), Fábio Coentrão; William Carvalho, Bruno Fernandes (Doumbia, 82′); Gelson Martins, Acuña, Podence (Battaglia, 46′) e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, Ristovski, Jonathan Silva e Bruno César

Treinador: Jorge Jesus

Golo: Bas Dost (85′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Fábio Coentrão (89′) e Bruno César (90′)

O Sporting arriscou a mesma equipa que goleou o Desp. Chaves logo de início. Que é como quem diz, Podence na frente com Bas Dost, Bruno Fernandes a ‘8’ na frente de William Carvalho, Battaglia no banco. Admitamos, como é provável que aconteça, que o argentino será uma pedra fundamental para os leões ganharem o corredor central com a Juventus; ainda assim, o foco esteve mais no encontro com os campeões italianos e vice-campeões europeus do que propriamente nesta partida em Vila do Conde. E foi por isso que o Rio Ave foi melhor durante todo o jogo.

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E não, não falamos assim porque os visitados fizeram muito mais remates à baliza do que os leões (até porque mais de metade quase valeram três pontos para o País de Gales, como se diz nessa boa gíria do futebol português). A explicação, e tem tanto de única como de fundamental, é que o Sporting preparou o jogo com o chip de mandão esquecendo-se que tinha pela frente a única equipa (ou uma das únicas, para não fecharmos tanto o ângulo) que não tem vergonha de ter mais bola do que os “grandes”.

Basta recordar o que se passou na última jornada, em que o Rio Ave (reduzido a dez durante a partida) perdeu em Santa Maria da Feira: os comandados de Miguel Cardoso tiveram 75% de posse. Aí, muitas vezes não souberam bem o que fazer com ela; esta noite, traziam a lição bem estudada. E colocaram-na em prática, com sucessivas saídas da defesa em construção, a exploração de Rúben Ribeiro e João Novais no jogo entre linhas que tinha apenas William Carvalho a segurar o meio-campo contrário e a aposta na profundidade de Guedes.

Rúben Ribeiro usou e abusou da meia-distância (sem sucesso), mas o primeiro remate com relativo perigo só aconteceria depois da meia hora, com o pé esquerdo de Acuña a falhar por pouco a baliza de Cássio (31′). Logo na resposta, e aproveitando um desposicionamento natural do recém entrado André Pinto (Mathieu percebeu que se tinha lesionado, caiu no relvado e parece que está fora do jogo com a Juventus…), João Novais cabeceou ao ângulo após cruzamento de Lionn da direita e Rui Patrício fez o impossível, com uma fabulosa defesa (32′).

Até ao intervalo, Barreto ainda teria um remate para defesa segura do guarda-redes leonino (38′). Nos balneários, Jesus voltou a mexer e voltou ao plano A que hoje considerou ser B: tirou Podence, lançou Battaglia no corredor central e subiu Bruno Fernandes no campo. Mas assim como tinha acabado o primeiro tempo, começou o segundo: o colombiano teve um colocado remate à entrada da área que Patrício travou com uma mão no ar (48′).

Os 15 minutos iniciais da etapa complementar pouco ou nada mexeram no jogo e não foi a entrada de Battaglia para ajudar William Carvalho a ganhar a luta do meio-campo que alterou a posse do Rio Ave e as constantes tentativas dos vila-condenses, que já tinham batido o recorde de remates num jogo na Primeira Liga a meia hora do fim. E Jesus dava aquele sinal que é o pior que pode dar – quando fica parado a olhar para o campo.

O Sporting tinha pouco ou nenhum fio de jogo ofensivo, mas conseguiu mesmo chegar ao golo aos 70′, por Bruno Fernandes. No entanto, e após recorrer ao vídeo-árbitro, Jorge Sousa anulou e bem o lance por fora-de-jogo do médio na altura do passe de Bas Dost. Voltava tudo à estaca zero, com mais remates do Rio Ave (muitos ao lado).

Quando o jogo parecia caminhar para um inevitável nulo, tudo mudou num minuto e graças a Rui Patrício, que teve outra grande defesa a um autêntico míssil de Nuno Santos de pé esquerdo, que sobraria depois para Guedes. O resto, já contámos no início do texto: o avançado vila-condense falhou o mais fácil, Bas Dost conseguiu converter o mais difícil, com um colocado cabeceamento que ainda bateu no poste antes de entrar. Jorge Sousa ainda esperou pelo vídeo-árbitro porque o lance também foi muito “à pele”, mas decidiu validar o golo.

Foi cruel, mas é futebol. E esta noite a melhor equipa não conseguiu sequer um ponto.

O Sporting conseguiu mesmo arrancar uma vitória a ferros em Vila do Conde. Por mérito, muito mérito, de Rui Patrício. Por instinto, muito instinto, de Bas Dost. Mas o Rio Ave é a equipa que sai verdadeiramente de parabéns (esquecendo essas coisas das vitórias morais): mais uma vez, não teve qualquer problema em assumir o jogo frente a um “grande”, estendeu-se em campo provando que os orçamentos não fazem táticas nem decidem vencedores e só falharam no momento da verdade. Os leões estão na frentede forma provisória, porque o FC Porto só joga este sábado no Bessa. Mas é graças a equipas como esta de Miguel Cardoso que haverá emoção até ao fim.