911kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Carlos Silva é inimigo de Álvaro Sobrinho? "Há agendas que lançam angolanos contra angolanos"

Este artigo tem mais de 5 anos

A inquirição ao banqueiro aqueceu com as perguntas do advogado Rui Patrício sobre a "má relação" com Álvaro Sobrinho. E sobre emails geridos pela assistente, mas que afinal foram enviados do seu iPad.

Carlos Silva, presidente do BPA, está a ser ouvido pela segunda vez em tribunal
i

Carlos Silva, presidente do BPA, está a ser ouvido pela segunda vez em tribunal

Carlos Silva, presidente do BPA, está a ser ouvido pela segunda vez em tribunal

O presidente do Banco Privado Atlântico reiterou esta terça-feira em tribunal que nada tem a ver com o contrato de trabalho que o magistrado Orlando Figueira assinou e que o levou a abandonar a magistratura. Carlos Silva, que se tornou uma figura central do caso Fizz, voltou a sublinhar que tem uma assistente para lhe filtrar as quatro contas de email, logo não viu a minuta do contrato que lhe foi enviada. Manteve este argumento mesmo quando confrontado com as provas de que respondera a alguns deles do seu próprio iPad. E que o irritaram.

Naquela que foi a segunda sessão do depoimento tão esperado pelas defesas, o juiz presidente Alfredo Costa acabou por explicar ao banqueiro as razões que o levavam ali. O Ministério Público (MP) acusa Figueira de ter sido corrompido pelo ex-vice-presidente Manuel Vicente, para arquivar os processos que tinha em mãos em que o governante era investigado. Acusando também o advogado de Vicente, Paulo Blanco, e o seu representante legal em Portugal, o empresário Armindo Pires.

O senhor sabe que substitui Manuel Vicente ao nível da responsabilidade destes contratos?, perguntou o juiz presidente, Alfredo Costa

Não tenho nada a ver com esses contratos, mas enquanto presidente do banco, um dos meus clientes terá sido responsável porque a auditoria assim o diz, respondeu o banqueiro, referindo-se à Primagest.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Qual o objetivo de os doutores Orlando Figueira e Paulo Blanco terem apresentado este argumento? Aconteceu alguma coisa?, questionou, então, o magistrado, salientando que esta posição lhe causa alguma “perplexidade”.

Até ao momento ainda não consegui encontrar, disse Carlos Silva.

Momentos antes, o advogado de Manuel Vicente e de Armindo Pires tentara encontrar uma razão para o banqueiro ter sido envolvido no processo. Numa inquirição que levou Carlos Silva a exaltar-se e a ser chamado à atenção pelo juiz presidente, Rui Patrício exibiu algumas notícias e perguntou ao banqueiro se, por acaso, mantinha uma “má relação” com o ex-diretor do BESA, Álvaro Sobrinho. Carlos Silva agitou-se na cadeira em frente ao coletivo de juízes e começou por responder um “não comento”. Depois classificou a relação como outrora já tinha feito em relação a outros. “Há uma relação formal, uma má relação não é verdade”.

Mas são inimigos?, perguntou o advogado.

Não, por vezes há agendas com origens diferentes e que lançam angolanos contra angolanos, justificou.

Não é a primeira vez que o nome do empresário luso-angolano é referido no julgamento. Álvaro Sobrinho já tinha sido investigado pelo magistrado Orlando Figueira, agora julgado por corrupção, e teria sido no âmbito de uma dessas investigações, no chamado caso Banif, que Figueira conheceu pela primeira vez Carlos Silva. Um encontro que, segundo o banqueiro, Figueira lhe trouxe à memória naquele dia de maio de 2011, em que se deslocou ao Departamento Central de Investigação e Ação Pena (DCIAP) para testemunhar num outro processo, nas mãos do procurador Rosário Teixeira.

Depois dessa inquirição, que terá sido tratada diretamente entre Rosário Teixeira e o advogado Paulo Blanco, Orlando Figueira ter-se-á juntado ao banqueiro, ao advogado Paulo Blanco e ao próprio colega procurador. E como Carlos Silva tinha outros compromissos, como explicou na sessão anterior, terão combinado almoçar dias depois para continuarem a conversa sobre o tema do dia: Angola.

Sendo o doutor a pessoa ocupada que é, manteve a cortesia do almoço?, perguntou Rui Patrício.

Sim, com o advogado do estado angolano [Paulo Blanco] e com dois magistrados que são pessoas educadas, justificou, ressalvando que em momento algum desse almoço numa suite do Hotel Ritz se falou em trabalho.

O advogado focou-se, então, nos mails trocados entre o banqueiro angolano e o arguido Paulo Blanco. Momentos antes, a advogada de Blanco, Ana Rita Relógio, tinha oportunamente juntado ao processo meia dúzia de mails que ainda não tinham sido analisados. E que mostravam algumas comunicações registadas entre 2011 e 2012,  que confirmam que Carlos Silva respondia, de facto, aos mails de Paulo Blanco através do seu iPad — contrariando a versão que manteve segunda-feira, em que disse que a partir de dezembro de 2011 tinha deixado de responder ao advogado, por este “ter um estilo muito próprio”.

O doutor está aqui numa situação aborrecida por causa destes emails. Queria perceber melhor como se dá esta monitorização com a assistente, até porque gostaria de seguir o mesmo método, ironizou o advogado Rui Patrício. Como se operacionaliza?, insistiu.

Ela tem acesso direto, respondeu secamente Carlos Silva.

O banqueiro assumiu não ser um homem “connected” às novas tecnologias, mas também não ser “um excluído”. “Não uso mails em telefones… porque isso me tira tração, nem estou à secretária porque isso tira foque das responsabilidades”, respondeu. “Mas tem um iPad?”, atirou o advogado. “Sim, para quem viaja de um lado para o outro é o mais eficaz”. Carlos Silva continuou a explicar que quando está em viagem também é a assistente que vê os mails e que reencaminha apenas aqueles que interessam.

Mas também há emails em que respondeAparece no fundo do mail “sent from my iPad”, salientou Patrício.

Mas qual é a pergunta?, atirou Carlos Silva, incomodado.

Também acontece responder esporadicamente, concluiu o advogado, para depois confrontar o banqueiro com algumas respostas enviadas por mail a Paulo Blanco que não parecem indicar um corte de relações entre os dois.

“Alterei o meu modelo de gestão de relação. Eu continuo a ter relação, é o advogado que representa o estado angolano, mas com mais atenção… Não posso cortar com a pessoa… não misturo é as coisas”, disse, voltando a referir que Blanco queria, sim, uma avença com o BPA. “Não estou disponível para determinados temas, mas para um tema do investidor sim”, acabou por dizer.

Patrício não descolou e voltou a perguntar sobre o mail que Blanco lhe enviou com a minuta do contrato de trabalho de Orlando Figueira, um dos motivos para estarem agora a ser julgados por corrupção. “Este documento inicial não tem Finicapital [empresa com a qual iria assinar contrato, mas que depois mudou para Primagest], como sabe a sua assistente que isto nada tem a ver com o banco?”. A pergunta ficou com a mesma resposta de sempre: o mail não teve qualquer resposta e não foi visto por ele.

— As relações não são lineares, atirou, por seu turno, Carlos Silva

Não, são como os eletrocardiogramas quando as pessoas não estão mortas, andam para cima e para baixo, respondeu Rui Patrício.

Não estou aqui para ouvir as suas considerações, disse Carlos Silva, visivelmente incomodado.

O juiz Alfredo Costa acabou a pôr água na fervura. “Temos que ter algum cuidado com as perguntas e com as respostas”, alertou.

É do Benfica e tem um processo familiar complicado. O que interessa aos bancos

Nos mails com que Carlos Silva foi confrontado em julgamento, aparece um do gerente de conta de Orlando Figueira no Banco Privado Atlântico — onde contraiu um crédito. Aos olhos da acusação este crédito foi fictício e serviu para lhe pagar “luvas” pelos arquivamentos no DCIAP. Figueira justifica-o, no entanto, como tendo servido para pagar as tornas do divórcio à ex-mulher. Nesse mail, assinado por Pedro Soares, é traçado um perfil de Orlando Figueira.

Refere a informação que Figueira é magistrado do MP em licença sem vencimento, trabalha no ActivoBank e tem um “processo familiar complicado”. Há informações do divórcio, dos filhos, das suas profissões, com quem se relacionam e por quem “tomaram partido”. Outra informação que parece ser importante para a instituição bancária são as preferências clubísticas de Figueira: “É do SLB”, lê-se. Refere-se ainda que é de Direito, embora “não entendido em mercados”, que chega sempre às reuniões “meia hora antes” do seu início e que tudo o que esteja relacionado com ele deve ser tratado diretamente com o “PCA”.

Esta sigla tem chamado a atenção de advogados e juízes ao longo do julgamento e já houve testemunhas que a decifraram. Trata-se do “presidente do conselho de administração”. Carlos Silva, no entanto, negou esta terça-feira ter tratado seja o que for com este cliente. “Não posso ser eu, eu nunca tratei de nada com o dr. Orlando Figueira, esta informação é feita de acordo com o profile do cliente”, disse.

“Eu acho que indiquei o Proença de Carvalho”, disse Carlos Silva

O administrador do Banco Privado Atlântico Europa, em Lisboa, Iglesias Soares, tinha dito em tribunal que quando Orlando Figueira lhe falou num contrato com os angolanos e lhe pediu que falasse com Carlos Silva, o banqueiro ter-lhe-ia recomendado que tratasse com o seu advogado, Proença de Carvalho. Foi a única testemunha que fez esta ligação.

Confrontado, Carlos Silva diz recordar-se dessa conversa e até admitiu ter sugerido o nome do advogado Proença de Carvalho. Mas noutros termos.

Eu disse que não havia nada pendente para esse beneficiário [Orlando Figueira]. Ele diz-me: mas o homem diz que teria um contrato com angolanos. E eu disse qualquer coisa como: mas há 30 milhões de angolanos. Disse-lhe para falar com um advogado, disse Carlos Silva

E sugeriu o nome do advogado Proença de Carvalho?, perguntou Rui Patrício.– Eu acho que indiquei o Proença de Carvalho ou o Dr. Frutuoso de Melo, que são advogados que, em grosso modo, recomendo, respondeu.

A audição de Carlos Silva continua esta quarta-feira.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.