Pelo menos dois dos nove arguidos que se disponibilizaram a contar ao juiz do Tribunal do Barreiro como foi o ataque de terça-feira, à academia do Sporting, em Alcochete, contestaram as imagens do sistema de videovigilância. Nas imagens recolhidas pela GNR, e que constam no processo ao lado das fotografias dos suspeitos captadas logo após a detenção, há diferenças óbvias a olho nu: a fisionomia dos suspeitos e a roupa que usavam naquele dia é completamente diferente.
Já na quinta-feira, ao segundo dia de interrogatórios, um dos arguidos tinha focado essa situação. Esta manhã de sexta-feira, segundo uma fonte próxima do processo, a questão foi levantada pelo advogado do primeiro arguido a ser ouvido. E o juiz ficou sem palavras. É que no processo, que conta já com três volumes, consta a identificação de cada um dos 23 suspeitos detidos logo após a invasão à academia. E, ao lado, existem imagens retiradas do sistema de videovigilância que mostram os alegados detidos, mas de cara tapada, durante a invasão. No caso do arguido ouvido esta manhã há diferenças óbvias: na imagem do sistema de videovigilância da academia aparece um homem visivelmente mais gordo do que o arguido é na realidade. E a camisola também é diferente: no sistema de vídeo, o suspeito veste uma camisola do Super-Homem, na imagem recolhida pela GNR, momentos após a detenção, o suspeito veste uma camisola do Sporting.
As imagens captadas pelo sistema de vigilância, entregues na noite de terça-feira à GNR, já tinham levantado suspeitas dos advogados uma vez que captam a entrada dos suspeitos na academia, mas não captam a saída. Por outro lado, existem saltos no tempo, levando a suspeitar que foram editadas.
E a arma do crime? GNR procura o cinto
Ao terceiro dia de interrogatórios judiciais, estas não foram as únicas provas que levaram os mais de dez advogados no processo a ter uma palavra a dizer. E a arma do crime? Questionou-se na sala de audiências, esta quinta-feira, onde cada arguido está a ser ouvido um a um, mas na presença de mais de uma dezena de advogados, a procuradora e o juiz. A verdadeira prova do crime será um cinto usado como chicote pelos suspeitos para agredirem jogadores e elementos da equipa técnica, mas entre a lista de bens apreendidos pela GNR que consta no despacho de indiciação feito pelo Ministéro Púbico, não parece que tenha sido apreendido qualquer cinto. Também não foram apreendidos bastões, como as testemunhas dizem ter visto. Por isso, a principal prova de agressão, ainda não existe.
No Tribunal do Barreiro, pelo menos um dos quatro arguidos ouvidos explicou ainda que, depois da convocação por WhatsApp, foram formados “três grupos” distintos para entrar na academia. E que entraram de forma faseada. “A GNR terá apanhado apenas um deles”, garante uma fonte, tendo em conta que em cada carro intercetado seguiam, pelo menos, cinco passageiros.
Dos 23 arguidos detidos, só nove se disponibilizaram a falar às autoridades e oito já prestaram declarações. O último arguido a ser ouvido falará este sábado, mas será dada oportunidade aqueles que não quiseram falar, para prestarem declarações. Se estes não quiserem, as medidas de coação a aplicar aos suspeitos serão imediatamente conhecidas, mas se estes quiserem falar, a diligência pode prolongar-se para domingo.
O juiz de instrução criminal que está com o caso, o juiz Carlos Delca, garantiu este final de tarde, em comunicado enviado às redações, que serão asseguradas aos arguidos “todas as condições de alimentação e higiene”. É que, esta manhã, os arguidos eram para ser ouvidos às 9h30, mas os advogados avisaram o magistrado de que eles não podiam começar a diligência, uma vez que não tinham sequer tomado o pequeno almoço. Depois percebeu-se porquê: como no dia anterior tinham jantado tarde, já depois de a diligência terminar, acabaram por comer aquele que seria o pequeno-almoço do dia seguinte. O juiz decidiu, então, só começar a audição depois deles comerem, o que atrasou a diligência. Para agravar, o primeiro arguido ouvido sofre de problemas de saúde e teve um ataque de ansiedade antes de prestar juramento perante o juiz. Também no dia do ataque sofreu algo semelhante, logo após ser detido.
O processo que corre no Ministério Público do Barreiro conta já com os depoimentos dos jogadores e equipas técnicas, que na estavam na academia do Sporting, em Alcochete, os exames médicos, as imagens do sistema de videovigilância e o material apreendido pelas autoridades 23 suspeito.