Estava a acabar o treino no ginásio quando olhou pela janela e deparou com aquela imagem. Cerca de 40 a 50 pessoas entravam na Academia do Sporting a passo lento e de rostos escondidos pelos cachecóis do clube, camisas e máscaras. Sem saber o que se estava a passar, Bas Dost correu para o balneário, na tentativa de se juntar aos colegas. Mas não chegou a entrar. Acabou por ser agredido e, por momentos, perder a noção do “tempo e do lugar”, como descreveu à GNR do Montijo, na noite de terça-feira, horas após a agressão que o conduziu ao hospital.
Deviam ser 17h00. No campo de treino estava apenas o treinador, Jorge Jesus. Segundo recorda, os colegas estariam no balneário e ele no ginásio, já a finalizar. Quando se apercebeu da invasão da academia tentou deslocar-se para o balneário. Aliás, foi essa a indicação de um dos técnicos quando viu os adeptos chegarem. O jogador holandês confessa que se sentiu “perplexo” ao assistir aos intentos dos adeptos, que queriam e forçaram a entrada no balneário para chegar aos jogadores do Sporting.
No entanto, chegou a tranquilizar-se por alguns instantes. É que, segundo a sua descrição, dois dos elementos do grupo de invasores passaram “a cerca de um metro de distância” e até lhe fizeram um sinal com o dedo polegar, como se lhe estivessem a transmitir uma mensagem de “ok”. Depois, ainda passaram seis ou sete suspeitos por ele, que não “interagiram”. Só depois um dos adeptos parou diante dele e com um “objeto”, que lhe pareceu um cinto “dobrado em forma de chicote”, agrediu-o com violência na cabeça. Bas Dost tombou no chão e, neste momento, um outro agressor aproveitou para investir contra ele.
Lembra-se, ainda, de ter sido levado por dois elementos da equipa médica que o assistiram e tem memória de “algumas pessoas” — supondo-se estar a referir-se a adeptos invasores — terem ficado “perplexas” com o facto de ter sido agredido.
O jogador do Sporting, cuja imagem dos ferimentos foi divulgada logo na terça-feira e que consta no processo, garante que por alguns minutos terá ficado inconsciente, perdendo a noção do “tempo” e do “lugar”. E que entrou em “estado de choque e de medo“. É que nunca pensou que um caso assim lhe pudesse acontecer.
Bas Dost foi assistido nesse dia no Centro Hospitalar Barreiro Montijo e disse à GNR que queria formalizar queixa. Eram 22h15 quando o seu testemunho, a que o Observador teve acesso, prestado na GNR do Montijo terminou.