Os primeiros oito projetos investigação e desenvolvimento (I&D) de instituições portuguesas selecionados no âmbito da “Iniciativa Ibérica de Investigação e Inovação Biomédica, i4b” da Fundação ”la Caixa” e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) vão ser apresentados esta quarta-feira às 11h30 no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. O total dos financiamentos ascenderá a cerca de cinco milhões de euros.
A iniciativa da Fundação “la Caixa”, a que depois se associou o Ministério da Ciência através da FCT, pretende estimular projetos de investigação com impacto social no âmbito da biomedicina e da saúde em cinco áreas: oncologia, neurociências, doenças infecciosas, doenças cardiovasculares e projetos transdisciplinares com impacto em biomedicina. Estes primeiros oito projectos foram seleccionados por um júri internacional conduzido através da Fundação ”la Caixa” em Espanha e Portugal.
Neste primeiro concurso de 2018 candidataram-se um total de 785 projetos na Península Ibéria (167 de Portugal) dos quais foram selecionados 20. Destes um total de oito foram propostos por investigadores de instituições portuguesas e cobrem temas que vão desde novas terapias, novos tratamentos para erradicar a malária e novos tratamentos para a insuficiência cardíaca.
Eis os oito projectos que receberão financiamento este ano:
A cerimónia marcada para o Pavilhão do Conhecimento vai contar com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, do presidente honorário do BPI e curador da Fundação ”la Caixa”, Artur Santos Silva. Paulo Ferrão, presidente do Conselho Diretivo da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e Ángel Font, diretor corporativo de Investigação e Estratégia da Fundação ”la Caixa”.
Primeiro grande financiamento da Fundação Bancária ”la Caixa” em Portugal
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Com a entrada do Grupo CaixaBank no BPI — passando o banco português a fazer parte daquele grupo espanhol — a Fundação ”la Caixa” alargou também a sua actividade ao nosso país, prevendo vir a destinar anualmente 50 milhões de euros a iniciativas de ação social. Quando esse nível de financiamento for atingido a “la Caixa” tornar-se-á na segunda instituição a distribuir mais dinheiro em Portugal com esta finalidade, logo a seguir à Misericórdia de Lisboa e à frente da Gulbenkian.
Esta fundação, que nasceu em 1904 na Catalunha, há mais de 30 anos que alargou o âmbito da sua acção à ciência, área a que já destinou mais de 380 milhões de euros canalizados para 352 projetos projectos de investigação e 4.544 bolsas de excelência para promover a formação de jovens de cerca de 100 universidades e centros espanhóis. Também apoiou 1.629 ensaios clínicos de novos tratamentos nas áreas do cancro, sida e malária.
A Fundação “la Caixa” também abriu recentemente o concurso para bolsas Junior Leader destinadas a jovens investigadores de pós-doutoramento com projetos de investigação em laboratórios portugueses.
A “Iniciativa Ibérica de Investigação e Inovação Biomédica, i4b” foi lançada a 15 de fevereiro de 2018 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), representado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e a Fundação La Caixa através de um Protocolo de Cooperação Científica e Tecnológica assinado no âmbito do Programa “Go Portugal – Global Science and Technology Partnerships Portugal”. No âmbito desse acordo, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia compromete-se a igualar o investimento que a Fundação ”la Caixa” destine a projetos de investigação selecionados no nosso país no âmbito do concurso anual que promove em Espanha e Portugal.
Ou seja, como notou à agência Lusa o presidente da FCT, Paulo Ferrão, por cada projeto português financiado pela La Caixa, a Fundação para a Ciência e Tecnologia compromete-se a subsidiar, em igual montante, um projeto científico português considerado igualmente excelente, mas que ficou de fora da lista dos selecionados no concurso.
Do estudo da malária às neurociências
Do concurso aberto que começou por uma triagem realizada por 250 avaliadores independentes resultou a escolha de projectos como o apresentado por uma equipa do Instituto de Medicina Molecular (iMM) de Lisboa, dirigida por Maria Mota, que irá estudar se o fígado se poderá revelar o tendão de Aquiles da malária. A cada dois minutos morre uma criança por malária, a maioria em África, não sendo conhecida uma cura para a doença e sabendo que, nos mamíferos, o parasita é muito eficaz a instalar-se no fígado, suspeitando os cientistas que tal se deve ao metabolismo das células hepáticas. Este projeto de investigação propõe-se compreender como o ambiente e os recursos que o parasita encontram no fígado dos mamíferos influenciam o seu ciclo de vida de forma a encontrar novos tratamentos que travem a sua replicação.
Dois outros projectos foram apresentados por equipas da Fundação Champalimaud. Uma delas, dirigida por Leopoldo Petreanu, vai analisar nas redes neurais do cérebro, em concreto do neocórtex, a parte mais externa do cérebro onde residem as capacidades cognitivas mais sofisticadas, para perceber o processo e a forma como se combinam os estímulos sensoriais externos, por vezes incompletos, com expectativas e experiências prévias. Esta equipa procurará assim entender melhor as disfunções do cérebro, nomeadamente tentar compreender porque é que pessoas com esquizofrenia ou distúrbio do espectro autista apresentam deficientes capacidades preditivas.
A outra equipa da Fundação Champalimaud será dirigida por Carlos Vidal Ribeiro e trabalhará sobre o porquê de as bactérias intestinais decidirem pelo cérebro o que comer, ou mais exactamente como é que um desequilíbrio nas bactérias intestinais pode afetar o funcionamento do nosso cérebro e exercer pressão para que mudemos as nossas preferências alimentares.
Também uma equipa da Fundação Calouste Gulbenkian, esta dirigida por Colin Adrain, foi seleccionada para financiamento, sendo o seu projecto sobre como as células guardam a informação genética, neste caso estudando em concreto a forma como proteínas, que contêm informação genética, se enovelam no complexo sistema de membranas distribuído por todo o citoplasma Essa compreensão é importante pois o tratamento de muitas doenças passa por fármacos que actuam precisamente sobre as membranas das células.
Os outros projectos foram apresentados por equipas de várias univerisdades públicas, como o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, onde sob a direcção de Rodrigo A. Cunha se vai estudar a neurobiologia da depressão partindo de novas hipóteses, como o incorreto funcionamento de um tipo de conexões dos neurónios. Uma equipa da Universidade do Minho dirigida por Agostinho Carvalho vai trabalhar sobre como evitar e melhorar o tratamento das complicações pulmonares por reações alérgicas, com foco na doença pulmonar obstrutiva crónica (EPOC) com foco na identificação de novos biomarcadores que indiquem a suscetibilidade ao fungo aspergillus, que se encontra no ar que respiramos, de pacientes com doenças pulmonares anteriores.
Por fim uma equipa da Universidade de Lisboa dirigida por Rui Eduardo Mota vai estudar como o combate à obesidade é importante para tratar a doença do fígado gordo não alcoólico (FGNA) e uma outra equipa da Universidade do Porto, que tem como investigador principal Joaquim Adelino Correia, estará focada no desenvolvimento de uma nova terapia para a insuficiência cardíaca e a hipertensão pulmonar procurando encontrar uma forma de implantação pouco invasiva uma espécie de pacemaker de ressincronização cardíaca.