“Ninguém pensava [em Boston] que Portugal ia ser a resposta”, assumiu Jeremy Redburn, cofundador e responsável de produto da Salsify, em conversa com o Observador . “Todos pensavam na Irlanda, mas o tempo lá é uma treta”, continua sobre a escolha de Lisboa para o primeiro escritório europeu da Salsify. A startup vende uma plataforma informática a clientes — como a L’Oreal, a Coca-Cola, a Mars ou a Bosch — para disponibilizarem produtos em sites de comércio eletrónico como a Amazon, de forma eficiente.

A sede da Salsify está em Boston, cidade onde a startup iniciou atividade, em 2012. Objetivo: “Ajudar os fabricantes a disponibilizar eficientemente os produtos”. Como explica Rob Gonzalez, também cofundador da empresa e responsável de desenvolvimento de negócio, “a única coisa que há no mercado online é a imagem e a descrição, não há nada palpável como nas lojas”. Tendo experiência em motores de pesquisa noutros serviços semelhantes, quando trabalharam na Endeca, criaram a Salsify. No espaço de seis anos passaram de três fundadores para uma equipa de mais de 200 pessoas e 98,1 milhões de dólares em investimento.

Lisboa ainda não tem a reputação nos Estados Unidos da América como um pólo tecnológico, mas acreditamos que pode ser a próxima Irlanda”, afirma Jeremy Redburn.

As grandes empresas tecnológicas na Europa podem estar em “Londres, Amesterdão, Zurique, Dublin ou Barcelona”, outras cidades que estavam a ser pensadas para primeira sede na União Europeia. Contudo, no final, além do “bom tempo”, a aposta foi pelo “espírito empreendedor” e pormenores práticos, como o facto de haver “um voo direto de Boston”. Para já, a Salsify ainda está no IDEIA Hub, no Palácio Sotto Mayor, uma incubadora em Lisboa, enquanto procura um espaço maior para se mudar já nos próximos “quatro/cinco meses “.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Jeremy Redburn, à esquerda, e Rob Gonzalez, à direita, são co-fundadores da Salsify (juntamente com Jason Purcell) e estão em Portugal para o arranque do novo escritório

O crescimento está dependente da velocidade com que a Salsify vai contratar “cerca de 25 pessoas” para integrarem a tempo inteiro a equipa da empresa em Portugal, em áreas como apoio aos clientes, informática e recursos humanos. Até daqui a um ano, os responsáveis da empresa contam já ter este número de pessoas contratadas que, consoante a viabilidade desta aposta na capital, pode ser “até 45 pessoas”.

Enquanto líder do escritório de Lisboa, estou totalmente focado em recrutar uma equipa que espelhe a cultura talentosa e amistosa que temos vindo a desenvolver em Boston. Procuramos profissionais criativos que não querem deixar de aprender”, conta Jeremy Redburn sobre as 25 pessoas que querem contratar.

“Se vamos estar em Portugal, vamos estar acessíveis na Europa para todos os clientes”, dizem os cofundadores. A necessidade de abrir escritório na União Europeia passa por quererem ter um espaço físico em solo europeu, para receberem pessoalmente as empresas que já utilizam a plataforma na Europa. Contudo, querem também cativar outras empresas europeias a utilizarem o serviço que disponibilizam e isso fica mais fácil com presença física no continente.

O nome da explicação deste “serviço líder” que criaram quase parece um palavrão: “Product Experience Management”. Em suma, é uma base de dados informática onde empresas como a Coca-Cola põem imagens e descrições dos produtos que querem vender online para aparecerem em sites como a Amazon e o Wallmart (a maior cadeia de supermercados americana). A Salsify trabalha em parceria com este tipo de serviços de comércio eletrónico e, em vez de o negociante ter de criar uma página para cada produto em cada site, faz tudo numa só plataforma.

[Um vídeo que mostra como funciona a plataforma que a Salsify vende]

Uma das principais razões para o sucesso que a startup tem tido é o facto de este serviço utilizar a tecnologia machine learning para mostrar dados sobre qual é a melhor forma de inserir os produtos nestes sites de venda online e melhorar a descrição ou a imagem. Isto permite ver que interação estão os clientes a ter com os produtos nos sites onde estão à venda e mudar a imagem ou descrição, se necessário, através de sugestões da plataforma.

A vinda para Portugal está a ser mais modesta do que a presença que já têm em Boston (um escritório de três andares com mais de cinco mil metros quadrados), mas a startup acredita que ter a base na capital vai permitir continuar o investimento na Europa. “Sabemos que não somos o primeiro grande escritório em Lisboa, mas também não encontrámos muitas outras grandes empresas”, como viram em Dublin e noutras cidades quando, em fevereiro e março deste ano, estiveram a procurar um novo espaço. A relação com o ecossistema empreendedor português também ajudou. Segundo os cofundadores, a insistência de Vasco Pedro, fundador da tecnológica portuguesa Unbabel, foi muito importante para escolherem Portugal.

O maior obstáculo com a expansão para a Europa é manter “a cultura da empresa” como têm em Boston. Lisboa pode começar a ser “mais cara para se viver, como Dublin”, assume, mas querem ter na capital portuguesa o “centro de excelência” da Salsify. O futuro? “Daqui a dois anos queremos abri um escritório na Ásia”, mas isso fica dependente do sucesso e evolução da aposta em Portugal para o primeiro escritório na Europa.