Leia a carta que o general Rovisco Duarte enviou esta tarde aos militares e civis do ramo e em que apresenta unicamente “circunstâncias políticas” como a motivação para deixar as funções que desempenhou nos últimos dois anos e meio.
“Militares e civis do Exército,
Apresentei hoje a Sua Excelência o Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas a minha carta de resignação ao cargo de Chefe do Estado-Maior do Exército, depois de dois anos e seis meses à frente do Exército.
A todos vós, e unicamente a vós, devo uma explicação: as circunstâncias políticas assim o exigiram.
Quando assumi funções, estabeleci uma linha de ação para o meu comando que assentava sobre uma visão de modernidade, qualidade e equilíbrio entre os diferentes subsistemas que compõem o Exército. Sabia que iria ser uma campanha dura.
A realidade assim o provou. Quer na condução dos assuntos administrativo-logísticos do Ramo, quer nos assuntos de natureza operacional, quer também no diálogo institucional com os diferentes atores, quer, ainda, na resolução dos problemas inopinados e graves que foram surgindo.
Comandar é uma grande honra e um desafio único, que exige a todos os que têm o privilégio de o exercer total entrega e dedicação.
Mas ser comandado, visando o cumprimento da missão, não o é menos.
Tenho afirmado, reiteradamente, que o Exército Português tem de ser capaz de atuar, de forma credível, em todo o espectro da conflitualidade atual, bem como no cumprimento das missões de interesse público.
Foi esta realidade que pude comprovar no Território Nacional e nos diferentes teatros de operações onde estive em visita de comando.
Em todos os momentos, e nas mais diversas circunstâncias, senti o orgulho do Soldado Português, o seu prestígio, a sua educação, o seu sentido de disciplina, os elevados conhecimentos profissionais, a sua seriedade e competência perante a missão atribuída.
Por isso, devo dizer que fiz sentir permanentemente, nos diferentes níveis institucionais e circunstâncias, a necessidade de ser dada satisfação aos seus anseios pessoais, profissionais e familiares.
O culminar de toda esta preocupação, visando a criação de um Exército mais moderno e mais eficiente, ficou bem evidenciado, designadamente, nos recentes trabalhos de revisão da Lei de Programação Militar e nos diplomas legais relativos ao regime de incentivos e ao de contrato especial.
Porque a sociedade é muito dinâmica, as necessidades de cada ser são muito reais e os equilíbrios institucionais entre os ramos são necessários e prementes, deixo um sinal de alerta, mas também de esperança, pelo muito que há ainda por fazer.
Nunca me arrependi de ter entrado na Academia Militar em 1976, nem de usar a farda como segunda pele. Foi, e sempre será, com profundo orgulho que escolhi ser militar.
A todos os militares e civis peço um forte abraço e deixo uma palavra de incentivo perante os desafios diários que a todos se deparam e a confiança plena no Exército que todos servimos honradamente.
Lisboa, 17 de outubro de 2018.
O CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO”