São 300 mil euros que os enfermeiros querem juntar para ajudar os profissionais de enfermagem que decidam aderir à próxima greve — que ainda não tem data marcada, mas que se prevê prolongada — e que deverá paralisar três blocos operatórios de hospitais públicos. Até aqui nada de novo, já que o fundo de greve é um recurso habitual dos sindicatos e é usado para minimizar os custos de fazer uma paralisação. Mas cinco enfermeiros estão a fazer uma coisa inovadora: querem juntar os 300 mil euros através de crowdfunding e até sexta-feira já tinham reunido 64.500 euros. A notícia é avançada pelo Diário de Notícias.
“É uma ideia inovadora. Nunca ninguém fez nada disto na enfermagem”, diz Catarina Barbosa, que faz parte do grupo de cinco enfermeiros que lançou uma campanha de angariação de fundos, citada pelo DN. A última paragem dos enfermeiros foi entre os dias 10 e 19 de outubro, não havendo datas para um novo protesto.
Mas uma vez que os enfermeiros não conseguiram nenhuma das suas reivindicações, Catarina Barbosa não tem dúvidas de que voltarão, mais cedo ou mais tarde, ao protesto. Sobre a sua duração, diz que “não será por tempo indeterminado”, terá uma data de início e uma de fim.
“Mas, se não conseguirmos as reivindicações até à data de término, haverá um novo pré-aviso para continuar”, assegura. A enfermeira sublinha que a adesão à greve “tem sido brutal” apesar das perdas financeiras que ela trás aos grevistas. A última paralisação foi de seis dias e terminou na sexta-feira passada, 19 de outubro. “Queremos prolongar a greve”, frisa.
Fundo solidário: 42 euros por dia
Catarina Barbosa explica que como os enfermeiros não asseguram serviços mínimos perdem o vencimento referente ao dia de trabalho. Assim, pretendem criar um fundo solidário para que seja possível os grevistas receberem 42 euros por dia.
Na sexta-feira passada, já tinham acumulado mais de 20% do objetivo final que pretendem alcançar até 5 de novembro. A campanha de angariação de fundos está a decorrer na plataforma PPL e tem, por enquanto, 2600 apoiantes, podendo cada um contribuir com um mínimo de 20 euros. “Muitos enfermeiros têm dito que ainda não contribuíram porque estão à espera de receber, pelo que esperamos que ainda seja possível atingir o valor definido”, adianta a enfermeira.
Com a futura greve — que só pode acontecer se for convocada por um sindicato — os enfermeiros pretendem parar os blocos de três centros hospitalares do país: o Centro Hospitalar de São João, no Porto, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e o hospital de Santa Maria, em Lisboa. “São os principais hospitais do país. Quanto mais cirurgias adiadas, maior será o impacto”, defende Catarina Barbosa.
Relativamente às exigências, a enfermeira destaca a “negociação da carreira, mais enfermeiros nos serviços, a idade da reforma reduzida para os 57 anos, a correta contagem dos pontos que não está a ser feita e a valorização do risco e penosidade da profissão”.
Se no final da greve sobrar algum dinheiro do fundo, ele será doado a uma instituição de solidariedade.