Era a noite dos reencontros. Jackson Martínez, que representou o FC Porto durante três temporadas, marcou mais de 60 golos com a camisola azul e branca e é o melhor marcador no Estádio do Dragão, regressava ao Porto depois de uma passagem pouco feliz pelo Atl. Madrid e de três anos no Guangzhou Evergrande da China. António Folha, treinador do Portimonense, voltava ao estádio do clube onde jogou e onde orientou juvenis, juniores e equipa B. Na subida ao relvado, Jackson foi aplaudido pelas bancadas (despidas) do Dragão, cumprimentou todos os elementos do banco técnico azul e branco, com especial atenção para o médico Nélson Puga. Já Folha dirigiu-se diretamente a Sérgio Conceição, que na conferência de imprensa de antevisão do encontro desta sexta-feira recordou que os dois se “conheciam muito bem”.

Sérgio Conceição continuava sem ter Aboubakar, que ainda está lesionado, e voltou a deixar Herrera no banco depois de ter promovido o mexicano à titularidade no encontro com o Boavista. O FC Porto regressava ao 4-4-2 após o 4-3-3 no dérbi da Invicta e lançava Soares e Marega na frente, apoiados por Otávio e Brahimi nas alas, Óliver e Danilo no centro e Corona voltava a ser lateral-direito. Do lado do Portimonense, Folha não podia contar com Ewerton, por pertencer aos quadros do FC Porto, mas tinha Jackson Martínez: o colombiano lesionou-se no último jogo, foi dado como indisponível, estava quase confirmado que não iria entrar em campo mas acabou por ser titular. Os algarvios apresentavam-se no Dragão com uma linha defensiva de cinco elementos e Paulinho e Nakajima nos corredores, com Jackson ao centro. O jogador japonês, estrela maior do conjunto de Portimão, jogava aberto na ala esquerda do ataque, em confronto direto com Corona, mais frágil defensivamente do que Alex Telles, e prometia fazer estragos.

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Ficha de jogo

FC Porto-Portimonense, 4-1

12.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

FC Porto: Casillas, Corona, Felipe, Militão, Alex Telles, Otávio (Adrián, 80′), Danilo, Óliver (Herrera, 40′), Brahimi, Marega, Soares (Hernâni, 76′)

Suplentes não utilizados: Vaná, André Pereira, Mbemba, Maxi Pereira

Treinador: Sérgio Conceição

Portimonense: Ricardo, Tormena, Jadson, Lucas, Rúben Fernandes (Tabata, 69′), Pedro Sá, Dener, Paulinho (Lucas Fernandes, 79′), Manafá, Jackson (João Carlos, 74′), Nakajima

Suplentes não utilizados: Nedeljko Stojisic, Ryuki, Hackman, Wellington

Treinador: António Folha

Golos: Tormena (9′), Marega (23′ e 65′), Soares (56′), Brahimi (58′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Otávio (56′), Felipe (74′)

O FC Porto entrou cauteloso, sem grande velocidade, com o jogo pausado e com mais intenção de desgastar do que de resolver rápido. Já o Portimonense deixou claro, logo nos primeiros instantes, que não tinha viajado de Portimão ao Porto para defender: nos minutos iniciais, a equipa de António Folha trocou a bola de forma natural à entrada da área de Casillas, como se os papéis tivessem sido invertidos e fosse agora o Portimonense o “grande” a jogar com uma equipa encolhida no último terço do próprio meio-campo. Os dragões foram adormecendo ao longos dos primeiros dez minutos e era notório que bastava os algarvios imprimirem um pouco de velocidade no jogo para apanhar os líderes do campeonato desprevenidos. Ao minuto 9, depois de uma boa jogada de envolvimento que passou por grande parte dos jogadores do Portimonense, Nakajima recebeu na esquerda, cruzou de forma quase perfeita e encontrou Tormena praticamente sozinho ao segundo poste. O médio nem precisou de levantar os pés do chão para colocar os algarvios em vantagem, bater Casillas e gelar o Dragão.

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O FC Porto, sem intensidade nem forma de ligar com qualidade o meio-campo ao ataque, era apanhado de surpresa sempre que Nakajima na esquerda ou Paulinho na direita aceleravam o jogo e Danilo e Óliver não conseguiam construir de forma a soltar Brahimi ou Otávio e servir Marega e Soares. Depois do golo, o Portimonense baixou as linhas e recuou no relvado, impelido pelo lançamento dos dragões para o ataque, e acabou por não voltar a aproximar-se da baliza de Casillas. Do outro lado, já depois de Brahimi ver Manuel Mota anular-lhe o golo do empate por fora de jogo de Soares (o árbitro de Braga considerou que o brasileiro impediu Ricardo de se fazer ao lance), Soares podia ter marcado de cabeça no seguimento de um livre e de remate cruzado a passe de Marega. Mas falhou. E o empate estava reservado ao colega do lado. Depois de um canto a partir da direita do ataque, Marega fez o que tão bem sabe fazer: fugiu do centro para o primeiro poste, antecipou-se a Jackson e penteou a bola para o canto oposto da baliza de Ricardo. Sem jogar muito bem, sem impressionar, sem a qualidade que tem apresentado nos últimos jogos, o FC Porto acabava por conseguir empatar a partida ainda na primeira parte.

Mas ainda antes do intervalo, aos 40 minutos, Sérgio Conceição ganhou o jogo. O treinador azul e branco tirou Óliver de campo e colocou Herrera. O mexicano entrou ainda no primeiro tempo mas entrou principalmente no segundo, onde foi o balanço que o FC Porto não tinha tido nos instantes iniciais, deixou espaço a Danilo para construir, abriu os horizontes a Brahimi e disse a Soares e a Marega para se preocuparem com as funções atacantes. Herrera, esta noite capitão sem braçadeira, não marcou nem assistiu, mas ganhou o jogo para o FC Porto. No segundo tempo, a equipa de António Folha já não conseguiu pegar nem na bola nem no jogo – Nakajima esteve permanentemente bem tapado por Corona e falhou várias vezes nas dobras defensivas, Paulinho desapareceu sob Alex Telles, Jackson rendeu-se às dificuldades físicas que o apoquentam e o Portimonense dos primeiros dez minutos de jogo parecia agora uma miragem distante. O FC Porto, cínico como o líder que é e continuará a ser, aproveitou as fragilidades de um conjunto que não aguentou mais do que cerca de 25 minutos de alta intensidade.

Em dois minutos, Soares e Brahimi resolveram o jogo: o brasileiro só precisou de encostar a passe de Marega, o argelino recebeu, segurou, atirou em jeito e bateu Ricardo com a classe que já tantas vezes mostrou ter. Marega ainda foi a tempo de bisar na partida, num golpe de misericórdia que quase não foi festejado pelas bancadas do Dragão por receio de fora de jogo do maliano. A partir daí, o FC Porto ativou o modo gestão e o encontro só voltou a ter um ponto alto aos 74 minutos, quando Jackson foi substituído por João Carlos e ovacionado pelos adeptos azuis e brancos, que entoaram a canção que costumavam cantar quando o colombiano atuava no Dragão. A segunda parte trouxe a assertividade de Herrera e a qualidade de Brahimi nos últimos 30 metros do terreno: o Portimonense, mais desligado, mais leve, menos pressionante, não resistiu aos dois golos de rajada e sai do Porto com um resultado inglório e de números exagerados para a boa primeira parte que realizou.

O FC Porto venceu, atingiu o 11.º triunfo consecutivo para todas as competições e pode passar o fim de semana descansado na liderança do campeonato. Depois de arrancar a perder, tornou fácil um jogo que estava muito complicado com a versatilidade de Brahimi, a eficácia de Marega e a oportunidade de Soares. Mas, acima de tudo, Sérgio Conceição – que hoje completou 250 jogos enquanto treinador dos dragões – ganhou o jogo no momento em que soube ler taticamente a partida e lançou Herrera para o descompensado meio-campo portista. Os azuis e brancos ganharam o jogo aos 40 minutos quando o marcador assinalava 1-1.