Não se brinca com o fogo, muito menos com “Fyre — The Greatest Party that Never Happened” (ou a festa de arromba que nunca o chegou a ser, mas já lá vamos).

Foi em abril de 2017 que tudo aconteceu, e a aventura reunia todos os condimentos para ser tão exclusiva quanto excêntrica. Os preços dos bilhetes ascendiam em alguns casos aos 100 mil dólares, para uma festa que se fazia anunciar numa ilha privada. O festival em questão tinha como cenário as Bahamas e os promotores do evento, Ja Rule e Billy McFarland, recrutaram um lote de peso de influenciadoras e super modelos para divulgar o programa. De Bella Hadid a Elsa Hosk, passando por outras celebridades como Alessandra Ambrosio e Emily Ratajkowski, não faltaram beldades sonantes.

Mas a perfeição ficava-se apenas pela teoria, que incluía alojamento de luxo, um menu gourmet e temperaturas condizentes com as previsíveis selfies para as redes. Na prática, os festivaleiros classe A acabariam por encontrar tendas outrora utilizadas em campos de refugiados, inundações e sanduíches. Quanto aos locais, muitos deles haviam trabalhado semanas a fio no recinto, sem ver qualquer tostão. Ah, e o preço avultado não incluía o bilhete de regresso a casa, portanto tecnicamente o público encontrava-se preso no paraíso que afinal de éden tinha muito pouco ou nada.

Nem de propósito, a experiência foi batizada de “o Deus das Moscas para gente rica”, rótulo inspirado no título de William Golding publicado em 1954, sobre um grupo de miúdos britânicos que dá por si numa ilha desabitada e votado à sua sorte em matéria de governação, algo que se revela um autêntico fracasso.

Quanto aos responsáveis pelo evento, McFarland acabaria por ser condenado a seis anos de prisão, e escusa de o procurar no documentário que se estreia a 18 de janeiro na Netflix porque ele não aparece — segundo o realizador Chris Smith (que tem no curriculum uma nomeação nos Emmy pelo documentário Jim & Andy: The Great Beyond) Billy pedia dinheiro pela sua participação, revelou à Entertainment Weekly, pelo que apenas partilhou à distância os motivos do monumental desastre.

“Fyre aborda realmente a ideia de perceção versus realidade”, continuou Smith. “Eles montaram toda esta fachada de marketing, muito semelhante ao efeito das redes sociais, que são usadas para mostrar a melhor parte das nossas vidas. O que se encontrava debaixo daquela superfície era algo completamente diferente, com consequências reais bem dramáticas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR