O ano passado foi o quarto mais quente de que há registo, anunciou esta quarta-feira a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA). Mais grave ainda: os cinco anos mais quentes dos últimos 140 anos, altura em que se começaram a fazer registos meteorológicos, foram os últimos cinco anos. E 18 dos 19 anos mais quentes alguma vez detetados aconteceram de 2001 para a frente. “Já não estamos a falar de uma situação em que o acontecimento global é uma coisa do futuro. Está aqui. É agora”, avisou Gavin A. Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Ciências do Espaço da NASA.

As notícias da NASA confirmam os dados que Maximiliano Herrera, um meteorologista dedicado a compilar os dados climáticos registados na Terra ao longo dos anos, mostrou à New Scientist no início deste mês. De acordo com o cientista, de 1 de janeiro até 31 de janeiro nenhuma estação meteorológica tinha registado recordes de frio, algo que “nesta altura do ano não tem precedentes”. Mais estranho ainda é que, por outro lado, só em janeiro 35 estações meteorológicas do hemisfério sul registaram extremos históricos de calor.

Isto é preocupante porque todos os modelos matemáticos sugerem que, num planeta onde o clima está equilibrado, deve haver tantos recordes de calor como de frio no mesmo período de tempo. Além disso, essas mesmas fórmulas também dizem que, à medida que o tempo passa, o número desses recordes devia baixar até estabilizar. Maximiliano Herrera já tinha dito que em 2018 houve 430 estações meteorológicas a registar recordes de calor e apenas 40 a registar recordes de frio. E a NASA vem confirmar que algo está muito errado no clima terrestre.

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Basta olhar para os grandes fenómenos meteorológicos que marcaram o ano passado para perceber a dimensão do problema. As ondas de calor que assolaram a Austrália transformaram o céu numa autêntica nuvem de cor de laranja. As zonas costeiras dos Estados Unidos foram lentamente engolidas por inundações. O gelo do Ártico está a derreter e os glaciares estão a encolher. Os furacões Michael e Florece foram mais destrutivos do que deveriam. O vórtice polar que invadiu a América podia matar um humano em minutos.

Tudo foi culpa das alterações climáticas. A temperatura da Terra em 2018 foi 1ºC acima da temperatura média do final do século XIX, época em que a revolução industrial conduziu à libertação de grandes quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera. De acordo com Jim Skea, co-presidente do Grupo de Trabalho III do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), os desastres climáticos só podem ser evitados se o aquecimento global não ultrapassar os 1,5ºC. “Limitar o aquecimento a 1,5ºC é possível dentro das leis da química e da física, mas para o fazer requer mudanças sem precedentes”, disse ele.

O ano mais quente de que há registo foi 2016 porque as temperaturas ainda foram aumentadas pelo fenómenos El Niño. Se não fosse o fenómeno contrário, o La Niña, 2018 tinha sido ainda mais quente do que foi.