Parece uma história saída de um enredo cinematográfico e que, curiosamente, faz lembrar o vilão do filme “007 – O Mundo Não Chega”, interpretado por Robert Carlyle. Acontece que a britânica Jo Cameron, uma professora aposentada de 71 anos, não sente dor. O estranho caso está a ser investigado por cientistas, que procuram encontrar analgésicos mais eficazes ao estudar a mutação genética responsável por esta anomalia, e consta num estudo recentemente publicado no British Journal of Anaesthesia.

A descoberta desta mutação aconteceu depois Jo Cameron ter sido submetida a uma cirurgia na mão. A ex-professora que vive em Inverness, na Escócia, tinha 66 anos quando, finda a operação, admitiu não sentir praticamente dor nenhuma — a situação intrigou alguns membros da equipa médica, inclusive o anestesista Devjit Srivastava, que a encaminhou para especialistas da dor na instituição universitária UCL London.

Ao longo dos anos, Cameron já partiu ossos, sofreu cortes e queimaduras, deu à luz e foi submetida a várias operações cirúrgicas com pouca ou nenhuma necessidade de aliviar a dor com medicamentos, escreve o jornal britânico The Guardian — já antes queimou-se no fogão e só deu pelas queimaduras quando começou a cheirar a carne queimada. “Eu sou vegan, pelo que o cheiro é bastante óbvio. Não há outra carne a ser queimada nesta casa”, explica com graça.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além da dor, é relatado que Jo Cameron também nunca entra em pânico. Há cerca de dois anos sofreu um acidente rodoviário: quando uma carrinha a atirou para fora da estrada, ela saiu do carro, que se encontrava numa vala, e foi reconfortar o jovem e nervoso condutor. Só mais tarde reparou nos ferimentos resultantes do acidente. Segundo o The Guardian, a mulher é muito otimista: “Eu sabia que era feliz e que tinha sorte, mas nunca me apercebi que era diferente. Não me apercebi que algo estranho estava a acontecer até ter 65 anos”, diz.

No estudo, publicado na passada quinta-feira, os cientistas explicam que encontraram duas mutações que, juntas, suprimem a dor e a ansiedade, ao mesmo tempo que aumentam a felicidade, mas também o esquecimento e a cicatrização das feridas. Quando os cientistas relataram as descobertas a Cameron, muitas coisas do seu passado começaram a fazer sentido, como daquela vez em que partiu o braço aos 8 anos e esperou dias até contar a alguém.

No entanto, Jo Cameron reconhece a importância da dor. Citada pela BBC, diz que esta existe por uma razão: “É para te avisar. É um alerta”. Agora, a sua insensibilidade à dor pode tornar-se em algo valioso em futuras investigações científicas.