Era um jogo que fazia história a partir do momento em que soasse o apito inicial. Benfica e Sporting, as duas grandes equipas de Lisboa, encontravam-se pela primeira vez num jogo oficial de futebol feminino. Na primeira temporada em que as encarnadas estão Liga BPI, a primeira liga portuguesa de futebol feminino, o Estádio da Luz recebia o primeiro dérbi lisboeta oficial da modalidade. À quarta jornada, com Benfica e Sporting com três vitórias em três jogos e em igualdade pontual no topo da classificação, o cenário dificilmente poderia ser mais apetecível.

Ainda assim, esta não era a primeira vez que encarnadas e leoas se encontravam em futebol feminino: em março, num particular no Estádio do Restelo que não só bateu o recorde de assistência num jogo de futebol feminino em Portugal como também reverteu a favor das vítimas do ciclone Idai em Moçambique, Sporting e Benfica confrontaram-se pela primeira vez e um golo de Joana Marchão valeu a vitória da equipa de Alvalade. De lá para cá, várias coisas mudaram dos dois lados.

À cabeça, os treinadores. Do lado do Benfica, João Marques deu lugar a Luís Andrade depois de ter garantido a subida das encarnadas ao principal escalão; do lado do Sporting, Nuno Cristóvão deixou o comando técnico da equipa após vários anos em que contribuiu para a solidificação do grupo e foi substituído por Susana Cova. Nos instantes iniciais, o Benfica mostrou desde logo que queria assumir a iniciativa e ficou perto de inaugurar o marcador por intermédio de Geyse, que quase aproveitou um desentendimento entre Patrícia Morais e Rita Fontemanha (7′).

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O Sporting, desprovido de Carlyn Baldwin — que se lesionou gravemente na última jornada e levava três golos em três golos –, estava a ser obrigado a jogar de uma forma à qual não está habituado, mais no espaço e na profundidade do que na construção ponderada. Diana Silva e Hannah Wilkinson, na frente de ataque, não eram solicitadas construtivamente e passavam grande parte do tempo de costas para o jogo, isoladas das restantes colegas. Do outro lado, sem ser asfixiante, o Benfica ia conseguindo conquistar metros nas costas do meio-campo e acabou por inaugurar o marcador através de uma bola parada: depois de um canto batido na direita e de vários alívios e ressaltos que a defesa leonina não conseguiu afastar, a bola sobrou para Nycole, que já na pequena área atirou para o primeiro golo do primeiro dérbi da história do futebol feminino (24′).

O Sporting não conseguiu ficar perto de empatar a partida ainda na primeira parte e só reagiu já depois do intervalo, beneficiando também de alguns erros de transição que o Benfica não havia cometido na primeira parte. Tatiana Pinto, enquanto motor da equipa de Susana Cova, era quem procurava Wilkinson e Diana Silva e tentava potenciar Raquel, a goleadora leonina, que esteve totalmente desaparecida até ao intervalo. O Benfica tentava atacar maioritariamente pelo lado direito e por Geyse, que ia sendo o elemento em evidência do lado dos encarnados, e foi obrigado a realizar uma substituição forçada graças à lesão da guarda-redes Dani Neuhaus, que deu o lugar a Dida.

O Sporting assumiu o controlo das ocorrências no último quarto de hora, claramente à procura do golo do empate e a aproveitar um certo desgaste físico das jogadoras do Benfica, mas não conseguiu criar verdadeiras oportunidades. Acabaram por ser as encarnadas, beneficiando de uma grande penalidade cometida por Tatiana Pinto sobre Geyse e convertida pela capitã Darlene (78′), a aumentar a vantagem, que teve ainda tempo para bisar e fazer o terceiro já no descontos depois de um grande passe de Andreia Faria (90+4′).

A equipa de Luís Andrade ganhou o primeiro dérbi oficial de futebol feminino e agarrou a liderança isolada da Liga BPI, agora com mais três pontos do que o Sporting. Ainda assim, e além de tudo isto, quem venceu este sábado foi o futebol feminino: com um Benfica-Sporting no Estádio da Luz, num dia chuvoso e onde não era apetecível sair de casa para ir ver um jogo de futebol, mas onde 12.812 pessoas se deslocaram para assistir a 90 minutos que ficaram na história, já que foi quebrado o recorde oficial de assistência em provas oficiais em Portugal.