23 de setembro. Bruno Fernandes tinha sido expulso na jornada anterior, no Estádio do Bessa com o Boavista, e estava castigado para a receção ao Famalicão. O Sporting perdeu. 17 de outubro. Bruno Fernandes foi poupado por se tratar de um jogo da Taça com uma equipa da Taça de Portugal e só entrou na segunda parte. O Sporting perdeu. Bruno Fernandes só falhou dois jogos do Sporting desde o início da temporada: e os leões perderam ambos. Claro que, no entretanto, a equipa de Alvalade já perdeu várias vezes com o capitão em campo. Mas a estatística não deixava de ser pouco animadora.

Na semana em que os jogadores do Sporting começaram a ser ouvidos no julgamento das agressões de Alcochete, os leões deslocavam-se à Áustria para visitar o LASK sem Bruno Fernandes. O médio português viu o quinto amarelo o último jogo da Liga Europa, a goleada frente ao PSV, e era a principal baixa para a derradeira etapa da fase de grupos europeia. Ainda assim, Silas planeava uma revolução no onze e uma poupança de esforços e, a par de Ristovski (que não está inscrito nas competições europeias), deixou Vietto e Mathieu em Lisboa. Afinal, a qualificação para os 16 avos de final já estava garantida — e bastava ao Sporting um empate para garantir o primeiro lugar do Grupo D.

Ficha de jogo

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LASK-Sporting, 3-0

Fase de grupos da Liga Europa

Linzer Stadion, em Linz, na Áustria

Árbitro: William Collum (Escócia)

LASK: Schlager, Wiesinger, Trauner, Filipovic (Pogatetz, 88′), Ranftl, Holland, Michorl, Potzmann, Goiginger, Klauss (Raguz, 71′), Frieser (Tetteh, 64′)

Suplentes não utilizados: Gebauer, Renner, Wostry, Haudum

Treinador: Valérien Ismaël

Sporting: Renan, Rosier, Coates, Ilori, Borja, Rodrigo Fernandes (Maximiano, 37′), Miguel Luís (Luiz Phellype, 71′), Eduardo, Camacho, Pedro Mendes, Jesé (Doumbia, 45′)

Suplentes não utilizados: Acuña, Gonzalo Plata, Wendel, Bolasie

Treinador: Silas

Golos: Trauner (23′), Klauss (gp, 38′), Raguz (90+3′)

Ação disciplinar: cartão vermelho direto a Renan (35′)

Primeiro lugar esse que, caso fosse carimbado com uma vitória frente ao LASK, significava que o Sporting terminava esta fase de grupos com 15 pontos: um número recorde, já que os leões nunca somaram tantos pontos numa fase de grupos europeia. Mais do que isso, e depois de uma jornada em que FC Porto e Famalicão escorregaram e a equipa de Silas conseguiu vencer um complexo Moreirense para se aproximar do pódio, o Sporting procurava utilizar a Liga Europa enquanto trampolim para uma fase derradeira do ano civil que ainda implica uma difícil deslocação ao Santa Clara e outra a Portimão para jogar com o Portimonense.

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Sem três habituais titulares, adivinhava-se então a revolução no onze. Silas só mantinha Borja e Jesé face à equipa que venceu o Moreirense no fim de semana e mudava os restantes nove elementos, promovendo à titularidade o médio Rodrigo Fernandes e os avançados Rafael Camacho e Pedro Mendes. Os três jovens estreavam-se a titulares na Liga Europa e Renan, que depois de ter estado lesionado tem sido preterido a favor de Maximiano na baliza leonina, regressava às opções iniciais. O Sporting atuava então com um 4x3x3 claro, com Miguel Luís a tombar mais na direita do meio-campo, Eduardo a ocupar o corredor contrário e Rodrigo Fernandes a atuar na faixa central. Mais à frente, Jesé era a referência ofensiva mais destacada — ainda que Pedro Mendes e Rafael Camacho, nas alas, aparecessem muitas vezes à procura de zonas de finalização.

Os primeiros instantes da partida mostraram desde logo como seria a primeira parte: um LASK muito pressionante e forte no momento da perda da bola, assim como se tinha mostrado no jogo da primeira volta em Alvalade, e um Sporting nervoso e pouco entrosado que não tinha capacidade para manter a posse de bola. Os leões foram recuando com o passar dos minutos mas tinham algum pudor em colocar os três elementos mais adiantados atrás da linha da bola, defendendo com pouca largura e sempre suscetível às combinações austríacas. Ao passar dos 10 minutos iniciais, o ascendente do LASK era visível principalmente no corredor esquerdo do ataque austríaco, onde Rosier tinha dificuldades em parar Frieser e somava perdas de bola no próprio meio-campo.

O Sporting tinha muitas dificuldades em ligar o setor intermédio com o mais adiantado e Rodrigo Fernandes, o jogador responsável por essa conexão de forma mais direta, não chegava a ter bola suficiente para conseguir fazer a diferença. Dos três elementos da frente, Rafael Camacho acabava por ser quem estava mais em jogo, recuando várias vezes para procurar linhas de passe, mas Pedro Mendes e Jesé permaneciam perdidos e isolados entre os defesas do LASK. Os austríacos, por seu lado, apertavam cada vez mais o cerco, subiam na percentagem de posse de bola e acabaram por confirmar o golo que se ia adivinhando. Na conversão de um pontapé de canto a partir da esquerda — onde a bola parece estar fora do sítio correto na hora do cruzamento –, o central Trauner apareceu ao segundo poste nas costas de Tiago Ilori a cabecear para o fundo da baliza (23′).

O Sporting procurou reagir ao golo sofrido, até porque o LASK aliviou ligeiramente a pressão, e Jesé ainda beneficiou de um lance em que ficou em zona frontal para a baliza austríaca mas acabou desarmado por Trauner (28′). Com o jogo mais estendido no que a comprimento diz respeito, a jogada que acabou por ditar aquilo que seriam os restantes desígnios da partida apareceu a dez minutos do intervalo: cruzamento a partir da direita do ataque do LASK, Klauss recebe na grande área e remata fraco mas é atingido por Renan, que faz grande penalidade. O guarda-redes brasileiro foi expulso, Luís Maximiano entrou para o lugar de Rodrigo Fernandes e o mesmo Klauss converteu o penálti (38′).

Na ida para o intervalo, o Sporting tinha menos um elemento, estava a perder por dois golos de diferença e, provavelmente pior do que tudo isso, tinha mostrado pouco ou perto de nada desde o apito inicial. No regresso para a segunda parte, Silas não teve grande pudor em recordar que o apuramento estava garantido e o que importava, acima de tudo o resto, era manter a dignidade — e então lançou Doumbia no lugar de Jesé, de forma a reforçar o meio-campo e deixar apenas dois avançados no setor ofensivo.

O LASK entrou para a segunda parte com uma pressão menos intensa do que aquela que tinha apresentado durante o primeiro tempo mas com a mesma vontade de controlar a partida, sempre com maior posse de bola e mais perto do terceiro golo do que propriamente de sofrer o primeiro. A entrada de Doumbia para o meio-campo, apesar de fortalecer o setor intermédio leonino, obrigava Rafael Camacho a recuar de forma consecutiva e prolongada, desgastando o jovem avançado, que acabava por ser o único a procurar transições e linhas de passe.

Os austríacos podiam ter feito o terceiro golo em duas ocasiões, ambas por intermédio de Potzmann, mas acabaram por cair em ritmo e intensidade a partir da hora de jogo. A maior displicência no momento da perda da bola permitiu ao Sporting crescer na partida e reter a posse durante alguns minutos, com Rafael Camacho a beneficiar mesmo de uma enorme oportunidade na cara do guarda-redes — acabou por adiantar demasiado quando tentou a finta e rematou já sem ângulo à malha lateral (63′). A interpretar o crescimento da equipa, Silas ainda lançou Luiz Phellype no lugar de Miguel Luís, permitindo a Camacho aparecer em zonas mais interiores, mas o jogo entrou de forma inequívoca num período em que ambas as equipas já só estavam à espera do apito final. Até ao fim, Maximiano ainda teve tempo para protagonizar a defesa da noite, depois de um remate de primeira de Ranftl (70′), mas acabou por sofrer ainda o terceiro golo nos descontos, por intermédio de Raguz (90+3′).

O Sporting voltou a perder sem Bruno Fernandes, numa derrota pesada face a um adversário teoricamente inferior que roubou o primeiro lugar do grupo aos leões e acabou por confirmar que dificilmente a equipa de Silas tem capacidade para apresentar alternativas dignas desse nome aos habituais titulares. Ao longo de uma autêntica ópera austríaca, Rodrigo Fernandes teve o azar de ser o sacrificado depois da expulsão de Renan e não conseguiu dar provas da qualidade que pode acrescentar ao meio-campo leonino; Rafael Camacho acabou por ser engolido pela derrota quando foi o melhor da equipa; e Luís Maximiano, que mesmo entrando no decorrer da partida foi o guarda-redes com mais defesas na jornada europeia até ao momento, provou que a titularidade que acabou por conquistar a Renan nos últimos encontros não foi um acaso e vai provavelmente repetir-se no futuro.