O ministro dos Negócios Estrangeiros classificou esta segunda-feira de “manobras de diversão” as acusações das autoridades venezuelanas a Portugal, apontando que graves foram as agressões de que Juan Guaidó foi alvo ao regressar a Caracas.

Em conferência de imprensa em Bruxelas, após uma reunião de chefes de diplomacia da União Europeia, Augusto Santos Silva reiterou que não faz qualquer sentido as autoridades venezuelanas acusarem Portugal de irregularidades no voo da TAP que transportou o líder opositor Guaidó de Lisboa até Caracas.

Para o ministro português, o que há a reter como “facto mais relevante” é que o líder do Parlamento venezuelano foi “selvaticamente agredido” à chegada.

Não nos devemos deixar apanhar nas armadilhas comunicacionais. O facto mais relevante que ocorreu em Caracas […] foi que um cidadão que regressava por via aérea ao seu país, e que, além de cidadão, é presidente na Assembleia Nacional desse país, e além do mais reconhecido por mais de 50 países em todo o mundo como aquele que tem condições para conduzir um processo eleitoral livre e justo, esse cidadão foi escoltado à chegada por forças policiais locais, como aliás era sua obrigação, que contudo o escoltaram de tal forma que ele acabou por ser selvaticamente agredido”.

“Portanto, não confundamos a coisa grave que se passou, que foi essa, e depois as tentativas de criar, digamos, manobras de diversão, através de acusações tão sem sentido como a acusação ao Governo português de ser cúmplice numa operação ilegal”, completou.

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Santos Silva reiterou que “a única coisa que o Governo faz no que diz respeito à Venezuela é participar, como muitos outros, nos esforços internacionais para que haja uma solução pacífica para a crise política que se vive na Venezuela”. “Essa é a única coisa que fazemos e não temos mais nenhum interesse”, vincou.

Questionado sobre se esta questão foi abordada na reunião desta segunda-feira de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, que voltou a ter entre os pontos em agenda a situação na Venezuela, Augusto Santos Silva disse que não foi objeto de discussão, até porque a UE está focada em ajudar a uma solução pacífica para o país.

“É muito mais importante acertarmo-nos sobre o que é que estamos a fazer, as diligências que estamos a tomar, as iniciativas que estamos a tomar, para ver se conseguimos ajudar da nossa parte a que haja esse processo de transição que devolva às forças políticas venezuelanas a capacidade de entendimento de que a superação da crise humanitária tanto carece”, disse.

Na quinta-feira, as autoridades venezuelanas acusaram a TAP de violar padrões internacionais ao permitir o transporte de explosivos e o embaixador de Portugal em Caracas, Carlos de Sousa Amaro, de interferir nos assuntos internos da Venezuela ao interceder pelo tio de Juan Guaidó, Juan Marques, que foi detido quando aterrou no mesmo voo da TAP.

No dia seguinte, em Nova Deli, Santos Silva já refutara estas acusações, considerando que as mesmas não faziam “nenhum sentido”, e no sábado foi a vez de o próprio Guaidó esclarecer que usou o seu nome na recente viagem entre Lisboa e Caracas, atribuindo as acusações do Governo venezuelano contra a TAP ao desprezo pelas companhias aéreas e por Portugal.