Um estudo europeu que envolveu seis países, entre os quais Portugal, concluiu que uma percentagem significativa de doentes não muda os seus comportamentos depois de sofrer um enfarte do miocárdio e/ou um acidente vascular cerebral (AVC).
Este trabalho, que envolveu um milhar de doentes de Portugal, Croácia, França, Eslovénia, Espanha e Turquia, e a que a Lusa teve esta segunda-feira acesso, foi realizado pelo EUROPREV, rede europeia para a prevenção e promoção da saúde, presidida por Carlos Martins, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e investigador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde
Os investigadores concluíram que “muitos dos doentes com problemas cardiovasculares seguidos nos cuidados de saúde primários estão a falhar nas alterações nos estilos de vida e no controlo principais dos fatores de risco”.
Os resultados mostram que “metade dos doentes não aumenta a sua atividade física depois de ter um evento cardiovascular. Além disso, metade das mulheres e um terço dos homens continuam a fumar”.
O estudo, publicado no BMC Family Practice, revela ainda que uma proporção considerável dos doentes não consegue alcançar os valores alvo de colesterol e de tensão arterial aconselhados pelas ‘guidelines’ europeias.
Apenas 23% dos doentes (apenas um quarto dos homens e menos de um quinto das mulheres) conseguem atingir o valor alvo de colesterol LDL (mau colesterol) preconizado (menos de 70 mg/dL). No caso da tensão arterial, um quarto dos doentes não consegue atingir valores abaixo dos 140/90 mmHg. “Estes números são relevantes para os médicos de família porque estes doentes têm um risco elevado de novos eventos cardiovasculares, nomeadamente de enfarte, AVC e mesmo morte”, consideram os investigadores.
Os autores salientam ainda que, neste trabalho, as mulheres estão menos medicadas do que os homens com fármacos protetores do coração, embora não sejam conhecidas as razões desta discrepância.
Este estudo incluiu apenas os doentes que tinham visitado o seu médico de família no ano anterior, o que, alertam os investigadores, “significa que os resultados poderiam ser ainda piores se tivessem sido incluídos os doentes que não vão às consultas e que podem estar ainda menos motivados para modificar os seus hábitos de vida, designadamente a alimentação pouco saudável e o tabagismo, e menos propensos a seguirem o tratamento”.
Em comunicado, os autores citam dados de uma série de outros estudos que mostram que cerca de 9% dos eventos cardiovasculares podem ser atribuídos à baixa adesão dos doentes ao tratamento e que os doentes que mais aderem são efetivamente os que têm melhor prognóstico.
Por outro lado, “os estilos de vida pouco saudáveis, como a falta de atividade física e o tabagismo, são os fatores de risco modificáveis mais importantes, representando mais de 70% do peso global das doenças crónicas, percentagem que deverá aumentar para os 80% em 2020”, acrescentam.
Segundo o EUROSTAT, quase 40% dos cidadãos europeus consultaram o seu médico de família uma ou duas vezes nos últimos 12 meses e 25% consultaram-no três a cinco vezes num ano.