Desengane-se quem acha que Ricardo Araújo Pereira (RAP) e a sua equipa de guionistas/humoristas vai gozar com a classe trabalhadora. Não. Aliás, não só, mas também. Já lá vamos. Primeiro, começam por gozar — no bom sentido, que é algo difícil de compreender à primeira — com os jornalistas. Sem problema, vamos a isso.

Como a apresentação do novo programa de humor, feito pela equipa que saltou da TVI para a SIC, estava agendada para as 17h00, os repórteres chegaram mais cedo ao átrio do Edifício Impresa, em Paço de Arcos. Já os humoristas Cátia Domingues, Guilherme Fonseca, Cláudio Almeida, Joana Marques, Manuel Cardoso, José Diogo Quintela, RAP e Luís Rodrigues (autor da página Insónias em Carvão), chegaram vinte minutos atrasados. Exceção feita a Miguel Góis que não chegou, ou por estar em Londres (versão oficial), ou por “ter ido em busca do coronavírus para ser o nosso paciente zero” (versão não oficial). Só se admite o atraso porque o novo programa, “Isto é Gozar Com Quem Trabalha”, vai estrear-se já no próximo domingo, dia 1 de março, e é preciso deixar o trabalho bem feito, mais do que picar o ponto.

“O que é que querem que eu diga?”, é a pergunta deixada por RAP, perante uma plateia de jornalistas, depois de ouvir o diretor geral de entretenimento da SIC, que veio justificar este regresso do humorista à casa mãe. É que Daniel Oliveira veio deixar uma ou duas garantias muito sérias: o programa vai seguir a linha daquilo que RAP tem feito, com convidados que “nem sempre serão políticos”, numa estrutura flexível que pode até fugir da política, tocando temas mais transversais da sociedade, do racismo a casos polémicos como o do juiz Neto de Moura. Nunca se fechará só num tema, desde que haja sumo na atualidade. Mas também não se vai esquecer dos que trabalham em volta da política. Porque os que comentam, discursam ou escrevem sobre política também podem ser alvo de gozo.

Apesar de a equipa não querer abrir muito o jogo (ou quase nada, vá, como é habitual neste negócio), Joana Marques assegura que “só falta escrever uma ou duas linhas do guião”. Claro que sim, não duvidamos. Além dos convidados — algo que só surgiu no regresso do “Gente Que Não Sabe Estar” em época de eleições — a estrutura pode variar. Terá rubricas, como no anterior, e “é capaz de ir alguma coisa para a internet”, comenta RAP, seguindo a linha de uma estratégia digital que a SIC quer agora seguir com mais força.

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O facto de o guião estar praticamente fechado não descansa o apresentador, pedindo que “não se elevem expectativas”, porque o programa estreia precisamente na semana em que “se falou do coronavírus e pouco mais”, com o feriado de Carnaval pelo meio. “Vamos fazer das tripas coração para encher, basicamente isto vai continuar a ser uma pessoa a resmungar numa mesa, com pessoas a ver”, mais precisamente, no Teatro Villaret.

Quanto à justificação do nome, além de nada ter a ver com a classe trabalhadora, também não tem propriamente grande explicação. É, claro, mais um gozo ou, se quiser, uma aula sobre Aplicações Móveis para Jornalistas dada pelo outro ex-Gato Fedorento presente no átrio. “Tivemos vários nomes em cima da mesa, aliás, em cima do ‘Slack’, uma aplicação… bom, eu explico, uma aplicação que só os millenials conhecem, e nos foi apresentada pelo Manuel Cardoso, o mais novo da equipa…”, afirma José Diogo Quintela, interrompido por RAP: “Lá está, não vai dizer nada sobre esse assunto”, termina.

A pressão das audiências não está do lado da equipa criativa. E a garantia nem vem de RAP, porque mal Daniel Oliveira ouviu a pergunta de uma das jornalistas presentes, decidiu falar muito a sério, sem brincadeiras. “A pressão está do lado da SIC, não da parte criativa. E não se estende só aos resultados que surgem às nove da manhã de segunda feira”. “Pumba!”, chuta RAP, agora sim a gozar.

Só fica a faltar mesmo um processo, coisa que não aconteceu no programa anterior, já que o juiz Neto de Moura nunca chegou a concretizar as ameaças. “Acredito que conseguiremos”, remata Daniel Oliveira.  Apresentação feita, seguem-se as fotografias da praxe. “Isso é uma maneira de dizer ‘cala-te’”, diz RAP, para um dos fotógrafos, arrumando a conversa. Assunto encerrado. Até domingo.