“Pedro Pinho não pertence ao FC Porto e não integrava a comitiva do FC Porto em Moreira de Cónegos, não fez a viagem com o FC Porto e não assistiu ao jogo a convite do FC Porto”. Quando Pinto da Costa, presidente dos azuis e brancos, ligou na manhã desta terça-feira a Anselmo Crespo, diretor da TVI, no intuito de se solidarizar e em paralelo condenar qualquer ato de violência, fez também questão de fazer uma separação entre os dragões e o empresário que fez vários negócios nos últimos anos com os portistas. No entanto, e isso é um facto, estava na mesma zona de alguns elementos do clube no momento da agressão. E, como se viu posteriormente através de imagens gravadas pela TVI, esteve com algumas pessoas do futebol portista após o final do encontro, desde logo Luís Gonçalves, administrador da SAD e membro habitual no banco de suplentes como delegado. No final, sobra a pergunta: quem é Pedro Pinho? E que relações profissionais enquanto agente tem com os dragões?

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Filho de José Maria Pinho, antigo presidente do Rio Ave durante quase uma década nos anos 80 (e que esteve na inauguração do atual estádio do conjunto de Vila do Conde), Pedro Pinho começou como agente de jogadores e foi sócio de Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente portista, numa empresa com o nome Energy Soccer. A separação ocorreu no final de 2016, com Pinho a ficar com a percentagem da agência de Alexandre. Três meses antes, Antero Henrique tinha deixado o Dragão. “Por motivos pessoais”, segundo um comunicado emitido pela SAD. Em choque com Alexandre Pinto da Costa, como escreveu o Expresso. E dentro desse litígio estava também a ligação de Pedro Pinho a Nélio Lucas, então o principal rosto do fundo de investimento Doyen Sports.

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Após essa separação, Pedro Pinho passou a operar enquanto empresário através de duas agências, a PP Sports e da N1 – Gestão de Carreiras Desportivas, com mais de uma dezena de negócios feitos com o FC Porto só desde o ano de 2017 ou através das suas empresas, ou em nome próprio enquanto agente. Alguns exemplos:

  • a 24 de janeiro de 2018, foi intermediário da cedência por empréstimo de Juan Quintero aos argentinos do River Plate, por quem acabaria por assinar a título definitivo antes de sair para a China (Shenzhen);
  • a 19 de maio de 2018, foi intermediário da venda de Ricardo Pereira ao Leicester por 20 milhões de euros, clube onde o internacional ainda se encontra avaliado em 30 milhões pelo Transfermarkt;
  • a 1 de junho de 2018, foi intermediário da venda de Suk ao Troyes por dois milhões de euros após um ano de empréstimo ao clube francês, tendo sido vendido nesse mesmo ano ao Reims antes de voltar dois anos depois ao Troyes, onde ainda hoje se encontra no segundo escalão gaulês;
  • a 7 de junho de 2018, esteve na contratação do lateral brasileiro João Pedro ao Palmeiras (apesar de ter jogado nessa época no Bahia) por quatro milhões de euros, estando agora cedido ao Bahia;
  • a 1 de julho de 2019, foi intermediário da cedência por empréstimo de Saidy Janko aos suíço do Young Boys (valor não revelado), tendo um ano depois sido vendido aos espanhóis do Valladolid;
  • a 31 de agosto de 2019, esteve na saída por empréstimo com opção de compra de Yordán Osorio para os russos do Zenit de São Petersburgo, rumando um ano depois aos italianos do Parma;
  • a 24 de setembro de 2020, esteve na venda do avançado Tiquinho Soares para os chineses do Tianjin Teda por 5,4 milhões de euros, sendo que o brasileiro está agora sem clube depois de ter rescindido;
  • a 25 de setembro de 2020, foi intermediário na chegada por empréstimo dos jovens defesas colombianos Yoni Mosquera e Gérman Meneses para equipa B e Sub-19, vindos do Leones FC;

Olhando apenas para os negócios registados na Federação Portuguesa de Futebol como empresário, o único que não tem ligação aos dragões foi a assinatura de contrato do jovem guarda-redes com o Sp. Braga em 2017/18. Não existe também qualquer dívida por saldar entre a SAD do FC Porto e Pedro Pinho, a título individual, da PP Sports ou da N1 – Gestão de Carreiras Desportivas, segundo o Relatório e Contas do primeiro semestre da época de 2020/21, onde é referida também a intermediação na alienação dos direitos desportivos de Galeno ao Sp. Braga por 3,5 milhões de euros, “que gerou uma mais-valia de 1.282.470 Euros, após dedução do valor global de 2.217.530 Euros relativo a: (i) efeito de atualização financeira das contas a receber a médio prazo originadas por esta transação; (ii) proporção do valor de venda do passe detida por terceiros (25%), (iii) responsabilidades com o mecanismo de solidariedade, (iv) custos com serviços de intermediação prestados pela N1-Gestão de Carreiras Desportivas, Lda. e (v) valor líquido contabilístico do passe à data da alienação”. No Relatório e Contas da época 2019/20, havia uma dívida de 391 mil euros à PP Sports, que foi liquidada até ao final do ano de 2020.

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Existem dois outros pontos, nunca confirmados pelo clube, que estarão também na génese da ligação mais próxima de Pedro Pinho ao FC Porto: a ajuda que terá dado para que o banco Carregosa se tornasse um apoio de relevo para os dragões e a importância que terá tido no contrato com a MEO, hoje Altice. Na altura da saída de Antero Henrique, foi também referido que o antigo dirigente estava a negociar um vínculo com a NOS, ao passo que Alexandre Pinto da Costa fazia o mesmo com a MEO. O último, com apoio do líder do clube, levou a melhor.

Sobre o que se passou cá fora, disseram-me que estavam a filmar lá fora e limitei-me apenas a perguntar se havia algum problema. Depois vi a confusão, que era o senhor Pedro Pinho. O que vi foi o senhor Pedro Pinho a tentar tapar e tirar a câmara ao repórter da TVI. A posição do FC Porto e a minha em relação a qualquer ato de agressividade é que rejeito, censuro e não posso aceitar. Não vi nenhuma agressão nem vi nenhuma imagem a agredir, e não digo que houve ou não houve. Pedro Pinho é portista, sócio do FC Porto, não tem nenhum cargo, é empresário que trabalha com muitos clubes. Até vi que ganhou 16,6 milhões em cinco anos… Totalmente mentira! Em cinco anos faturou ao FC Porto por serviços prestados 3,3 milhões de euros mas, acrescente-se, meteu nos cofres do FC Porto 7,5 milhões de euros pelo empréstimo do Casemiro, que o Real teve de pagar para voltar a ficar com ele”, disse Pinto da Costa esta quarta-feira sobre o agente ao Porto Canal.

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Antes, o nome de Pedro Pinho tinha sido falado a propósito da festa que terminou de fora de horas da mulher do médio Matheus Uribe, que levou à instauração de processos disciplinares não só ao internacional colombiano mas também a Marchesín, Saravia e Luis Díaz antes de um encontro do FC Porto no Bessa frente ao Boavista e a seguir a uma derrota por 2-0 frente ao Rangers em Glasgow. Nesse dia, em novembro de 2019, o jornal Record escreveu que, pela presença do agente (que saiu cedo do local) e por ser conhecida a sua proximidade à SAD dos azuis e brancos, os jogadores assumiriam que existia uma “autorização superior” para poderem ficar até mais tarde por não haver treino na manhã do dia seguinte mas uma sessão de vídeo à tarde. Nessa fase, o Correio da Manhã escreveu que houve pressões internas para Pinto da Costa afastar o empresário. A seguir a esse dérbi no Bessa, o presidente portista jantou com o empresário num restaurante do Porto, com quem tinha visto o jogo.

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No ano anterior, em 2018, Pedro Pinho, a par do antigo árbitro e comentador António Perdigão, tinha sido alvo de uma denúncia anónima junto da Procuradoria-Geral da República por um alegado elemento da estrutura do FC Porto, que se descrevia então como “um funcionário assalariado, quase com o salário mínimo”, a propósito de alguns jogos dos azuis e brancos contra Estoril, Boavista e Desp. Chaves, recebendo em contrapartida a hipótese de intermediar a chegada de Éder Militão ao Dragão vindo do São Paulo. A queixa não teve seguimento.

Esta terça-feira, na TVI, Cândido Costa, antigo jogador dos dragões e atual comentador, falou de Pedro Pinho como “um empresário do futebol, claramente ligado ao FC Porto, e que tem vindo a ser, nos últimos anos, discutido no universo do FC Porto”. “Tudo o que é dito parece-me que revela um desconhecimento gritante, quer nas questões negativas, quer nas positivas. As pessoas não sabem muito bem quem é Pedro Pinho e ‘navegam na maionese’”. É consensual que foi uma excelente ajuda num momento crítico do FC Porto, esteve ao lado do clube quando o clube mais precisou. O mais discutível e aquilo que os adeptos do FC Porto mais se interrogam é esta questão da exclusividade. Pedro Pinho tem alguma exclusividade, para não dizer muita… É aqui que se gera a discórdia: há quem diga que para estar ao lado do presidente, é alguém em quem o presidente confia; há outros que acham que essa exclusividade. É alguém que não gosta muito de aparecer”, explicou.

Artigo atualizado no dia 28 de abril às 23h depois da entrevista de Pinto da Costa ao Porto Canal