O movimento político do opositor russo Alexei Navalny foi dissolvido e todos os escritórios regionais encerrados. A decisão surge na sequência da entrada de um pedido na justiça russa para declarar os principais objetivos e pilares da organização como ideias extremistas.
Marcada para 17 de maio, a audiência final poderá colocar todos os membros da organização em risco de serem condenados com penas até seis anos de prisão.
Entretanto, Moscovo proibiu a organização de fazer qualquer tipo de publicação online, de organizar protestos e de ter acesso às contas bancárias, mas antes disso, os responsáveis da organização espalhados pelas várias regiões da Rússia já tinham anunciado que iriam suspender toda a atividade, de forma a evitarem repercussões jurídicas.
Em declarações à BBC, Leonid Volkov, um dos colaboradores mais próximo de Navalny, afirma que não há condições para a organização continuar a operar na Rússia, mostrando-se receoso com as possíveis condenações dos apoiantes do opositor. Volkov é um dos políticos que, desde 2019, vive fora do país, por também enfrentar várias acusações na justiça.
Alexei Navalny reapareceu publicamente esta quinta-feira, a primeira vez desde o fim de uma greve de fome que durou mais de três semanas. O opositor russo surgiu com o cabelo rapado e com menos 15 kilos. Na audiência em que marcou presença, o juiz recusou o recurso interposto pela defesa contra uma multa por difamação de um veterano soviético da II Guerra Mundial.
Привет, это Навальный.
Сейчас Бабушкинский суд рассматривает апелляционную жалобу на приговор Алексею по делу о «клевете на ветерана».
Навальный там по видеосвязи. pic.twitter.com/AqbwkvvhoB
— Команда Навального (@teamnavalny) April 29, 2021
Apesar do estado debilitado, Navalny manteve a postura robusta e acusou o presidente Putin de ser “um rei sem roupas”, que roubou o seu povo e o privou de um futuro.
O Ministério Público russo também entrou com um pedido na justiça para que a Fundação Anticorrupção de Navalny (FKB) seja suspensa e a sua atividade considerada extremista. Esta sexta-feira, a rede de filiais acabou por ser incluída na lista de organizações “extremistas e terroristas”, de acordo com informação divulgada pelos serviços de informação russos. Segundo a equipa de Navalny, a medida não implica a proibição completa do movimento político opositor ao Kremlin.
O medo da acusação é grande
Perante o medo de serem considerados culpados na justiça, vários apoiantes de Navalny tem cortado ligações com a organização.
Irina Fatyaonova, responsável pela equipa do opositor russo em São Petersburgo, afirma à BBC que desfiliou-se da organização, sob o risco de ser rotulada como extremista.
Segundo Fatyaonova, a pressão das autoridades tem aumentado desde que Navalny voltou à Rússia. “Desde janeiro, não houve um dia calmo ou sem um processo criminal para tratar”, afirma.
A política russa pretende agora concorrer às eleições locais sozinha, algo que Leonid Volkov já tinha sugerido que poderia acontecer em outras zonas do país. “A situação é difícil, mas o que acontece se todos ficarmos assustados?”, pergunta Irina, que afirma não querer olhar para a próxima geração e ter vergonha por não ter tentado mudar o contexto em que esta cresceu.