O movimento Juntos Pelo Sudoeste criticou o corte de água a pequenos agricultores do concelho de Odemira (Beja) pela Associação de Beneficiários do Mira (ABM), mas a entidade argumentou que estas ligações “precárias” dispõem de alternativas.

Em comunicado, o movimento revela a sua preocupação perante a “assustadora escassez de água” e a gestão que diz estar a ser feita da albufeira de Santa Clara, que serve o Perímetro de Rega do Mira, tendo já solicitado uma reunião à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a outras entidades públicas.

“Pedimos esta reunião para tentar perceber quais são os dados que a APA possui relativamente à barragem de Santa Clara”, explica à agência Lusa Nuno Carvalho, um dos elementos do movimento apartidário de cidadãos de Odemira e Aljezur (Faro), dois concelhos em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV).

De acordo com o responsável, “os dados mostram que os níveis da barragem têm vindo a decrescer” e que, “nos últimos três anos“, foi necessário “instalar bombas” para “alimentar o Perímetro de Rega do Mira”, onde surgem “quase diariamente” novas explorações de agricultura intensiva, porque “a cota da água da barragem estaria abaixo” da capacidade.

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Queremos tentar perceber quais são os dados da APA que incentivam e dão abertura para que estas explorações continuem a proliferar e a crescer a um ritmo semanal, com áreas gigantes, quando estamos a cortar água aos mais pequenos, inclusive para consumo privado”, frisa Nuno Carvalho.

Contactada pela Lusa, a ABM, numa resposta por escrito, por correio eletrónico, diz que as afirmações do movimento são “completamente destituídas de fundamento” e realça que a gestão da obra de rega do Mira “obriga ao respeito” pelos “direitos dos beneficiários”.

“Os cortes de fornecimento efetuados atingiram apenas clientes a título precário e apenas na situação de disporem de alternativas de abastecimento de água, designadamente da rede municipal“, estando também “asseguradas todas as situações de abeberamento de animais”, esclarece a ABM.

Nuno Carvalho alega que “há muita gente [na zona] que não tem acesso ao serviço municipal” de abastecimento de água e cujas habitações “são alimentadas por água da barragem de Santa Clara”. “A prioridade, neste momento, é para consumo humano, para os pequenos agricultores que têm pequenas parcelas” de terreno ou “é efetivamente só para as grandes empresas”, questiona.

Para o movimento, o facto de a ABM afirmar que corta a água “apenas a pessoas que têm acesso à rede pública para consumo doméstico” também não é tranquilizador.

“Isso significa que essas pessoas, muitas [delas] reformados que compõem magras reformas com hortas de subsistência, pagarão um valor muito mais elevado pela água”, enquanto as empresas têm acesso “a água desproporcionalmente mais barata“, critica o movimento, em comunicado.

Na sua resposta à Lusa, a ABM indica que, até ao momento, “foram desligadas 21 captações precárias“, devido à escassez de água na albufeira, a qual, esta terça-feira, encontrava-se à quota 114,35, ou seja “35 centímetros abaixo da cota da tomada de água, o que significa que não existe volume útil disponível”.

Nos últimos 25 anos houve uma redução da precipitação da ordem dos 7,6% e, mais importante do que isso, no mesmo período, houve uma redução de afluências à albufeira da ordem dos 33%”, alerta.

Na perspetiva da associação, “existem beneficiários e utentes a título precário“, sendo “a dimensão da propriedade irrelevante em termos de direitos”.

Contactado pela Lusa, o diretor da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo, da APA, André Matoso, revela já ter remetido uma resposta ao Juntos Pelo Sudoeste com “um conjunto de explicações e esclarecimentos para uma das preocupações” suscitadas, relacionada com a gestão dos recursos hídricos na barragem de Santa Clara.

“A APA emitiu, há alguns anos, uma concessão à Águas Públicas do Alentejo e à Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, que outorgou à ABM”, explica o responsável, acrescentando que compete ao Ministério da Agricultura “as regras de atribuição de rateio de água”.